Cesp ainda precisa resolver nó das concessões para ser vendida
Venda para o setor privado geraria mais caixa para investimentos no estado de São Paulo, mas negociação com Eletrobras seria mais rápida
Da Redação
Publicado em 11 de janeiro de 2011 às 16h07.
São Paulo – Pela quarta vez em dez anos, a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) se torna ponto central de discussões entre o governo do estado e o Planalto. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) estuda a hipótese de vender a empresa para o governo federal, detentor das concessões, ou levar a companhia a leilão para atrair investidores privados. Qualquer que seja o modelo de venda, uma coisa é certa: sem renovar a concessão das hidrelétricas que opera, o governo paulista não conseguirá vender a empresa.
Em 2008, na última tentativa de venda da Cesp, o ministro de Minas e Energia Edison Lobão não deu garantias sobre a renovação das concessões, sem detalhar os motivos. Apenas afirmou que seria criado um grupo de trabalho, ligado ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), para estudar o assunto. Agora, o ministro colocou em urgência a questão de renovação das concessões e garantiu que sairão ainda neste ano. Esse impasse era justamente o grande obstáculo para o processo de privatização da empresa, há três anos. Suas principais concessões vencem em 2015: as das usinas Ilha Solteira e Jupiá, que representam 67% de sua capacidade instalada.
A questão das concessões envolve ativos de outras empresas estatais, dentre elas usinas do grupo Eletrobras, Copel e Cemig, além da Cesp. “É quase obrigatório que o governo resolva essa pendência, porque é um problema setorial. Cerca de 20% do parque gerador brasileiro tem suas concessões com vencimento em 2015”, diz o analista Rafael Andreata, da corretora Planner. “É provável que seja esse ano, porque é necessário um tempo para que o mercado se prepare para as negociações, que inclui a Cesp.”
Próximo passo
Resolvido o problema das concessões, há dois cenários possíveis: 1) licitação pública, com a realização posterior de um leilão organizado pelo governo estadual para a venda da empresa a grupos privados; 2) negociação direta junto a Eletrobras, seguindo modelo de negociação ocorrido em 2008 entre Banco Nossa Caixa e Banco do Brasil.
Na primeira hipótese, o governo do estado conseguiria mais caixa. “A Cesp teria seu preço elevado por conta da renovação das concessões e então o governo poderia investir mais em infraestrutura”, disse a EXAME.com, David Zylbersztajn, ex-diretor da ANP e sócio da DZ Negócios com Energia. Nesse caso, Andreata, da Planner, afirma que deveria também haver uma limitação do volume a ser negociado entre mercado regulado e mercado livre. “Trabalhamos com uma proporção 80/20 respectivamente”, diz.
Outra condição seria um preço máximo para o mercado regulado em torno de R$ 70,00/MWh. “Não acreditamos em um nível de preço muito inferior a este, pois primeiramente boa parte destes ativos necessita de investimentos em manutenção e expansão e, além disso, enxergamos que isto seria um sinal negativo ao mercado, principalmente em uma área que necessita de grandes investimentos nos próximos anos e na qual a participação da iniciativa privada é importante”, afirma.
No segundo caso, o da venda direta da Cesp para a Eletrobras, há a necessidade de que a Câmara dos Deputados vote em Assembléia a retirada da Cesp do Plano Estadual de Desestatização (PED), do qual a empresa faz parte desde os anos 90. “Dessa maneira, as concessões seriam garantidas mais rapidamente”, diz Zylbersztajn, da DZ Negócios com Energia. “A negociação com o governo, no entanto, diminui a concorrência no estado.”
A venda da Cesp seria a melhor alternativa para o estado de São Paulo. “A companhia não é rentável ao governo do estado, há um baixo retorno através de dividendos devido seu alto endividamento e seus custos elevados, por outro lado seus ativos são muito bem avaliados pelo mercado devido seu potencial e despertam grande interesse na iniciativa privada”, afirma Andreata, da Planner. Mas, para que o negócio dê certo, é preciso também que seja bom para os potenciais compradores. Somente a revisão das concessões será capaz de renovar – de fato - as esperanças dos eventuais investidores.