Figurinhas da Copa: “O nosso papel para contribuirmos para a sustentabilidade às vezes pode ser muito simples, mas fundamental”, diz Patricia Meirelles, idealizadora da campanha junto com o marido Sergio. (Arquivo Pessoal/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 31 de outubro de 2022 às 07h30.
Quando o álbum de figurinhas da Copa do Mundo de futebol deste ano foi lançado no Brasil, em agosto, 400 milhões de pacotes de figurinhas, com cinco unidades em cada, já tinham sido impressos para venda. E esse número deve ser bem superior até o fim do torneio no Qatar, que começa agora em novembro.
As figurinhas são uma febre no país, que é o maior consumidor global dos álbuns do campeonato, mas carregam uma questão ambiental relevante: o papel que serve de base para as fotos, tecnicamente chamado de liner, embora na teoria possa ser reciclado, na prática acaba não sendo.
Por precisar de um processo especial, ainda que o consumidor faça o descarte corretamente, na triagem das grandes centrais de reciclagem o papel siliconado, como é conhecido popularmente, geralmente vira rejeito e vai parar no aterro sanitário junto com o lixo comum, contribuindo para a geração de gases de efeito estufa, causadores do aquecimento global.
Para minimizar esse impacto, um casal de São Paulo resolveu se movimentar e está coletando os liners para encaminhá-los para onde possam de fato ser reciclados.
Patricia Meirelles e Sergio Talocchi trabalham com sustentabilidade e sempre foram muito atentos à destinação de resíduos, especialmente em casa. Pais de três filhos, o volume de liners que sobrava em casa começou a incomodá-los logo no início das vendas do álbum.
“Já sabíamos que as sobras dos adesivos eram um material de difícil reciclagem, uma vez que é formado pela mistura de papel com silicone e que precisa ser separado para obtenção da celulose pura antes da reciclagem”, explica Patricia.
Como Sergio trabalha na área de logística reversa de uma grande empresa e esteve envolvido na implantação de um programa específico de coleta e reciclagem de liners nos últimos anos, o casal pensou que podia recolher o material no condomínio onde mora e na escola dos filhos para levar para reciclagem.
Mas a iniciativa foi mais longe do que podiam imaginar. “Fizemos um flyer e enviamos por WhatsApp para nossa rede de conhecidos. Em alguns dias, a informação viralizou por São Paulo e outros estados. Foi incrível o interesse das pessoas em querer separar e reciclar a parte que sobra da figurinha”, conta.
Para realizar a campanha, Patricia e Sergio estabeleceram uma parceria com a Polpel, empresa com tecnologia que separa a celulose de outros componentes, e a MD Papéis, que comprará a celulose para transformar em papel, e eles ficaram com o desafio de como coletar todo o material.
Foi então que novos parceiros entraram no projeto. “A Valora Recicláveis, que atua na coleta em condomínios, nos procurou para uma parceria. E conseguimos negociar um apoio com uma empresa na obtenção de recursos para viabilizar essa coleta, que já começou a acontecer”.
Os papéis não param de chegar, vindos de toda parte, segundo ela, especialmente de escolas, que não só estão coletando o material como têm trazido o tema para os projetos internos. Algumas, inclusive, convidaram o casal para falar sobre o processo da reciclagem dos liners com os alunos.
“Em condomínios e empresas a adesão também foi grande, além da mobilização de muitos grupos de amigos, em que uma pessoa centraliza a coleta e depois faz a entrega. Pessoas do interior e de outros estados também estão juntando e vão encaminhar seus resíduos direto para a Polpel”.
Sem contar os inúmeros fabricantes que produzem esse tipo de resíduo no seu dia a dia e, impactados pela campanha, procuraram o casal para fazer a conexão com a empresa de reciclagem.
Por enquanto, são três os pontos de entrega voluntária dos liners. O prazo vai até 20 de dezembro:
Galpão da Valora
Rua Albion, 327, Lapa, São Paulo. É preciso agendar a entrega pelo WhatsApp (11) 93372-5032.
Polpel
Rua Padre Marcos, 761, Cidade Aracília, Guarulhos, SP, CEP 07250-071
Loja Magia de Brincar
Rua Salvador Tolezanos, 679, Parque Mandaqui, São Paulo.
Quem não mora em São Paulo, deve encaminhar o material por correio diretamente para o endereço da Polpel.
As empresas, escolas, condomínios e outros estabelecimentos que quiserem aderir ao movimento podem se cadastrar neste link, que também disponibiliza para download os arquivos do modelo de cartaz e da identificação das caixas coletoras.
A iniciativa é a primeira de um projeto mais abrangente, idealizado por Patricia e Sergio. Há alguns meses, os dois vínhamos pensando em trazer para debate algumas questões ambientais que estão diretamente ligadas às ações diárias de todos. A participação crescente da população na coleta dos liners acabou acelerando o processo.
“A ideia de criar um espaço de comunicação sobre o assunto deu origem ao Movimento Sobre Nós, que ainda estava sendo desenhado quando a história das figurinhas da Copa começou”, comenta Patricia.
No perfil do Instagram @movimentosobrenos, é possível acompanhar as próximas ações, assim como saber mais informações e novidades sobre a campanha das figurinhas.
Para quem ainda não está juntando os versos das suas figurinhas, ela deixa uma mensagem: “O nosso papel para contribuirmos para a sustentabilidade às vezes pode ser muito simples, mas fundamental. A pequena iniciativa de cada um separar os seus liners e encaminhar para a reciclagem adequada vai evitar uma enorme quantidade de resíduos em aterros e permitir que sejam aproveitados como matéria-prima. Sem falar na importância de mostrar para as nossas crianças a responsabilidade ambiental que devem ter nas suas escolhas”.