Alumínio é essencial para a produção de remédios, por exemplo (Freepik/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 31 de março de 2020 às 06h00.
Última atualização em 31 de março de 2020 às 06h00.
Embora a cadeia do alumínio esteja enfrentando a paralisação de importantes setores demandantes, como a construção civil e a indústria automotiva, fabricantes do insumo estão se preparando para atender ao aumento abrupto da demanda em meio ao combate do novo coronavírus. O crescimento do consumo ocorre principalmente nas áreas de medicamentos, alimentos e tratamento de água.
A cadeia de produção do alumínio é bastante extensa no Brasil. Vai do minério (bauxita) até produtos transformados, como embalagens de alimentos, bebidas e remédios, além de itens para saneamento básico (tratamento de água) e insumos médico-hospitalares (como vacinas). Em menor grau, tem sido utilizado em estruturas para erguer hospitais de campanha.
Na Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), do grupo Votorantim, as operações seguem normalmente, com volumes estáveis, mesmo diante das medidas de isolamento impostas por municípios e estados. Para evitar a propagação da covid-19, a companhia adotou medidas como redução do contingente, horário de almoço escalonado, licença remunerada e antecipação de férias.
"Se por um lado houve uma redução da demanda por parte do setor automotivo, a necessidade de abastecimento das indústrias alimentícia e farmacêutica tem crescido diante do enfrentamento da pandemia do coronavírus", afirma Ricardo Carvalho, diretor-presidente da CBA.
Em fevereiro deste ano, a CBA realizou a aquisição de uma fábrica em Itapissuma, Pernambuco, que complementa em 50 mil toneladas por ano a produção de folhas e chapas, usadas no setor de embalagens. "A companhia está preparada para atender ao crescimento da demanda, que já vem se refletindo nas últimas semanas", diz Carvalho.
No Brasil, apenas duas empresas produzem o alumínio primário, que resulta da transformação do minério: a CBA e a Albras, do grupo Norsk Hydro. A produção do grupo norueguês em Bacarena, Pará, mantém-se inalterada. A linha da CBA, que fica no município de Alumínio, próximo à Sorocaba, interior de São Paulo, também opera a plena capacidade.
No caso de transformados de alumínio, que atendem às indústrias de remédios, alimentos e insumos hospitalares, o número de empresas é muito maior: são centenas que operam no país. Apesar do ritmo normal das linhas de produção, a Associação Brasileira do Alumínio (Abal) alerta para os riscos de restrições de mobilidade, que acabaram criando gargalos no recolhimento de sucata, responsável pela maior parte do insumo das fabricantes.
"Se as restrições de mobilidade voltarem, a produção de itens hospitalares e remédios pode ficar comprometida, pois vai faltar sucata nas fábricas", afirma Milton Rego, presidente da Abal.
Enquanto as empresas que fornecem embalagens e itens hospitalares aceleram a produção, fabricantes voltados para construção civil e montadoras estão enfrentando dias de tempestade. Obras estão paradas por todo o país e mais de 50 fábricas de veículos paralisaram as operações.
De acordo com a Abal, o setor emprega, diretamente, cerca de 30 mil pessoas e o faturamento da indústria supera 61 bilhões de reais. Em um horizonte cinzento, as empresas que atuam na construção civil e em transportes deverão amargar fortes quedas.
"As grandes fabricantes vão conseguir sobreviver, mas metade das empresas do nosso setor tem pequeno e médio porte. Dependendo da duração dessa crise, muitas podem fechar as portas", diz Milton Rego.
Segundo o dirigente, o principal entrave dessas empresas tem sido os bancos. "Está cada vez mais difícil e caro para rolar as dívidas. O sistema financeiro precisa dar sua dose de contribuição nessa crise, como todo mundo está fazendo."