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Briga na Usiminas vai de Tóquio a Milão e dá chance a locais

O que começou como uma aliança para levar equilíbrio e direcionamento se transformou em uma briga que se estende por três continentes


	Bobina da Usiminas: 3 anos após a Nippon e a Techint concordarem em controlar em conjunto a Usiminas que tem sede em BH, a associação está em dificuldades
 (Divulgação)

Bobina da Usiminas: 3 anos após a Nippon e a Techint concordarem em controlar em conjunto a Usiminas que tem sede em BH, a associação está em dificuldades (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 6 de abril de 2015 às 18h08.

Rio de Janeiro - O que começou como uma aliança para levar equilíbrio e direcionamento à segunda maior siderúrgica do Brasil se transformou em uma briga que se estende por três continentes e está prejudicando o esforço da empresa para lidar com a crise internacional das commodities.

De um lado está a Nippon Steel Sumitomo Metal Corp., do Japão, com mais de 50 anos de experiência, navegando silenciosamente pelas águas perigosas das elites empresariais do Brasil.

Do outro está a Techint, um grupo ítalo-argentino com histórico e motivação para reconduzir a empresa à lucratividade e recuperar um investimento de quase US$ 3 bilhões.

Três anos após a Nippon e a Techint concordarem em controlar em conjunto a Usiminas, que tem sede em Belo Horizonte, a associação está em dificuldades.

Dezenas de advogados e assessores estão ajudando a travar uma batalha no conselho de administração da companhia que ajudou a aumentar em quase três vezes o valor das ações ordinárias da empresa nos últimos seis meses, melhor desempenho mundial de um papel da área siderúrgica, ao mesmo tempo em que houve uma queda das ações sem direito a voto juntamente com as perspectivas para o setor.

A disputa está abrindo as portas para os acionistas minoritários, como o bilionário Lírio Parisotto e o banco Grupo BTG Pactual, que podem ganhar um assento no conselho na reunião desta segunda-feira e eventualmente escolher o presidente do conselho.

“Quando você tem um racha no grupo de controle, abre espaço para os minoritários”, disse Ricardo Kim, analista da XP Investimentos em São Paulo, por telefone. “Isso não resolve o problema porque os dois controladores ainda estão lutando”.

O envolvimento da Nippon com a Usiminas remonta ao final dos anos 1950, quando o esforço de industrialização do Brasil levou o governo de Juscelino Kubitschek a unir-se ao Japão em um empreendimento siderúrgico.

Recuperação do investimento

O acordo de 2012 com a Techint, de propriedade da bilionária família Rocca, por meio do qual o grupo italiano nomearia um CEO e a Nippon proporia um presidente para o Conselho de Administração, trouxe esperanças de uma reviravolta operacional por meio de uma gestão focada no corte de custos, no aumento da eficiência e na venda de ativos.

A ação da empresa havia caído para R$ 6,57 no dia 24 de julho, apenas seis meses depois de a Techint ter pago R$ 36 por ação com direito a voto por meio de subsidiárias como a Ternium SA.

A abordagem de participação ativa do grupo italiano começou a render frutos e no primeiro semestre de 2014 a Usiminas registrou seu melhor lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização em quatro anos, mesmo com o crescimento econômico brasileiro a ponto de paralisar.

A falta de harmonia entre os dois sócios controladores foi revelada no final de setembro.

Em uma acalorada reunião do conselho que durou várias horas, o presidente do conselho, Paulo Penido, deu o voto de desempate a favor da demissão do CEO Julián Eguren e de outros dois executivos nomeados pela Techint devido a uma suposta má conduta financeira.

Os executivos negam qualquer irregularidade e desde então adotaram medidas judiciais com pedido de indenização contra Penido em um tribunal de São Paulo. Penido disse, em comentários enviados por e-mail, que a demissão seguiu as regras do conselho.

Pedra no caminho

O destino dos executivos demitidos continua sendo uma pedra no caminho da reconciliação. Quando Paolo Rocca, da Techint, se encontrou com Kosei Shindo, CEO da Nippon, em Moscou em outubro, durante uma conferência da Associação Mundial do Aço, as conversas foram interrompidas depois que Rocca tentou a reintegração do trio despedido, segundo fontes informadas sobre o assunto, que pediram anonimato.

A Ternium está contestando as demissões na Justiça brasileira.

O prêmio das ações com direito a voto da Usiminas em relação aos papéis preferenciais, que não permitem que seus detentores apresentem votos para decisões de políticas corporativas, subiu para recordes R$ 18,14 no dia 24 de março em meio ao aumento da temperatura da disputa antes da reunião desta segunda-feira.

Nos dois anos até junho de 2014, as ações foram negociadas com um desconto médio de 94 centavos, segundo dados compilados pela Bloomberg. As ações preferenciais registram, em média, um volume de negócios mais de cinco vezes maior que o das ações com direito a voto, mostram os dados.

Nomeação do BTG

O BTG Pactual, do bilionário André Esteves, único banco de investimento de capital aberto do Brasil, também está disputando influência na Usiminas, ou Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais SA, após a nomeação de Marco Antonio Bologna como seu candidato para o conselho.

O BTG pretende contribuir para o desenvolvimento da Usiminas e a experiência de gestão de Bologna será decisiva para isso, disse o banco em uma resposta por e-mail a perguntas enviadas pela Bloomberg.

“Nos últimos meses, o BTG Pactual adquiriu ações ordinárias da Usiminas, diretamente e por meio de um fundo de investimento exclusivo, com o objetivo de capturar o potencial de valorização dos papéis”, disse o banco.

A Usiminas e a Techint preferiram não comentar esta reportagem. A Nippon Steel não respondeu a um e-mail em busca de comentário.

A Ternium conseguiu uma vitória judicial no final de fevereiro quando um juiz de um tribunal de apelação de Minas Gerais decidiu a favor da reintegração de Eguren como CEO.

Outros dois juízes do caso solicitaram mais tempo para estudar o pedido e é esperada uma decisão importante no fim deste mês.

Ainda há esperança

Embora pessoas próximas às empresas não descartem um acordo no último minuto para apresentação de um candidato de consenso para a presidência do conselho na assembleia desta segunda-feira, os controladores discutiram por causa das regras da reunião em comunicados de 2 de abril.

Parisotto, que tem uma fortuna de US$ 1,6 bilhão, segundo o ranking de bilionários da Forbes, foi apresentado como diretor por alguns acionistas minoritários depois que o seu fundo Geração L Par adquiriu uma participação de 5,2 por cento em ações preferenciais da Usiminas e de 1 por cento em ações com direito a voto.

Ele não respondeu a um pedido de comentário enviado por e-mail por um assessor.

Até o dia 2 de abril, Marcelo Gasparino era o único candidato a presidente do conselho, após nomeação pela Tempo Capital Gestão de Recursos Ltda, disse a Usiminas em um comunicado.

A disputa entre as empresas controladoras coincide com uma perspectiva adversa para o setor siderúrgico do Brasil, cuja economia estagnada implica uma demanda fraca.


“Uma coisa é estar num navio no meio de uma tempestade com alguém no controle e outra coisa muito diferente é estar no meio da tempestade sem ninguém no comando”, disse Artur Losnak, analista da Fator Corretora em São Paulo, por telefone. “Nós ainda temos muitos problemas pela frente”.

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