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Brasil tem seu Carlos Slim – nos museus - desde 2002

Enquanto Eike Batista não cumpre a promessa de ultrapassar o bilionário na lista da Forbes, Bernardo Paz, da Itaminas, saiu à frente do mexicano como mecenas

Obra de Chris Burden: o Instituto Inhotim tem um custo mensal aproximado de 1,8 milhão de reais (Eduardo Eckenfels)

Obra de Chris Burden: o Instituto Inhotim tem um custo mensal aproximado de 1,8 milhão de reais (Eduardo Eckenfels)

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Da Redação

Publicado em 13 de julho de 2011 às 15h11.

São Paulo – No final de março, o empresário mexicano Carlos Slim inaugurou seu museu, o Soumaya. O local tem arquitetura e acervo aclamados e concentra-se em obras clássicas, por sinal, cerca de 60.000 delas. Se quiser algumas dicas sobre arte contemporânea, Slim pode recorrer ao empresário brasileiro Bernardo Paz. Com origem no setor de mineração e siderurgia, o empresário inaugurou Inhotim em 2002.

Inhotim é um “complexo museológico” com sede em uma fazenda de 97 hectares que reúne 500 obras de mais de 100 artistas, entre eles, os brasileiros Vik Muniz, Hélio Oiticica, Adriana Varejão e Cildo Meireles e os estrangeiros Paul McCarthy, Janet Cardiff e Yayoi Kusama. Apesar de possuir menos obras, a sede é bem maior que o museu de 17.000 metros quadrados de Slim.

O Instituto Inhotim tem um custo mensal aproximado de 1,8 milhão de reais de manutenção e programas sócio-educativos. Para bancar o museu, Paz conta com o faturamento da loja e da bilheteria e com recursos captados com o setor privado. Mas isso não é suficiente para cobrir os custos de manutenção. “O restante é doação minha. Coloquei aqui todo o meu dinheiro”, disse Paz.

Paz atua há mais de 25 anos nos ramos de mineração e siderurgia como sócio-controlador em mais de vinte empresas – ele construiu o grupo Itaminas. “Para se ter uma ideia, tenho a maior capacidade instalada para a produção independente de ferro-gusa no país”, afirmou. Assim como o museu de Slim, Inhotim não tem fins lucrativos.

Foi na década de 80 que o empresário começou a idealizar seu museu. Em um momento durante sua carreira de empresário, Paz decidiu mudar de vida, afastar-se um pouco das empresas – diz-se que após sofrer um derrame durante uma viagem. Com isso, tornou-se amigo do paisagista Roberto Burle Marx – que palpitou na diversidade de plantas do terreno.

Foi por meio de outro amigo, o artista Tunga, que Paz interessou-se por arte contemporânea e passou a ter contatos com artistas desse segmento no Brasil e no exterior. “Assim, me desfiz da coleção modernista (da família), que era excelente, e passei a adquirir obras de artistas contemporâneos e a frequentar coleções e galerias”, disse. Desse modo, o empresário começou a criar seu acervo particular.

Paz abriu ao público a coleção como um parque particular, primeiro através de visitas agendadas (2005) e em seguida ao grande público (2006). Não existe uma primeira obra da coleção e Paz acha difícil dizer quanto foi investido, já que criou o instituto ao longo de anos e “de forma intuitiva”. “Intuitivamente, fui construindo os pavilhões, colocando as obras, trouxe artistas para escolherem onde queriam desenvolver seus projetos”, afirmou. A primeira obra comprada foi do artista, e amigo, Tunga.



O empresário não especifica o valor da obras. Muitas foram realizadas pelos artistas no próprio local, com custo de material, instalação e realizado parcialmente pela equipe do artista e equipe do Inhotim. “Muitas obras, por suas dimensões e singularidades, sequer poderiam ser postas à venda, o que dificulta estimar o valor delas” afirmou.

Caso antigo

A relação entre empresários e arte não é novidade. Ainda em 1947, Assis Chateubriand, junto com o jornalista e crítico Pietro Maria Bardi, idealizou o MASP - e ganhou seu nome no letreiro. Chatô usava seu prestígio para arrecadar os recursos para a aquisição das obras.  No ano seguinte, o industrial Ciccillo Matarazzo e sua esposa criaram o MAM (Museu de Arte Moderna). O modelo museográfico era o do MoMA (Museu de Arte Moderna) de Nova York, criado na década de 1920, pela esposa de John D. Rockefeller – o herdeiro do fundador da Standard Oil - e duas amigas.

O Inhotim começou como uma iniciativa particular, em 2006. Em 2009 tornou-se uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – Oscip. “Construí Inhotim na base da persistência e com os meus próprios recursos”, afirmou. Hoje, alguns programas sociais desenvolvidos no local possuem colaboração do governo federal e Inhotim é apto a captar recursos pela Lei Rouanet. Entre os patrocinadores do espaço estão Fiat, Grupo Lafarge, Cemig, V&M, Magnesita, Banco Votorantim, Líder Interiores e Vivo.

Ao todo são cerca de 700 funcionários sendo que 85% deles são de Brumadinho, cidade de 30 mil habitantes no Vale do Paraopeba. Paz planeja a construção de um primeiro hotel boutique para acomodar o público – e já se especulou que ele também gostaria de construir um centro de convenções, um teatro e até um aeroporto. Como um típico empresário, Paz não comenta os rumores de mercado. “Não sei qual vai ser o próximo passo. Isto aqui não se acaba”, afirmou.

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