Natura: a fusão da fabricante de cosméticos brasileira com a americana Avon deve ser aprovada com poucas restrições pelo Cade (Leandro Fonseca/Exame)
São Paulo - Gerar valor para toda a sociedade, e não apenas retorno aos acionistas, tem sido uma preocupação crescente entre empresas brasileiras. Tanto que o País aumentou sua presença entre as companhias mais bem avaliadas pelo Sistema B, movimento global que preza pela integração do resultado financeiro à geração de resultado socioambiental.
O movimento divulgou hoje a lista Best for the World (Melhores para o Mundo), que reúne as companhias que obtiveram as melhores notas na Avaliação de Impacto B, metodologia de análise de impacto socioambiental utilizada para certificar as empresas que fazem parte do Sistema B. Para entrar no levantamento, é preciso que a pontuação da postulante esteja entre as 10% melhores. Este ano, 53 empresas brasileiras atingiram esse desempenho, ante 38 no ano passado. Ao todo, a lista traz cerca de mil empresas.
Em um momento em que o Brasil sofre uma crise de imagem internacional, em virtude das queimadas na Amazônia, o setor privado nacional demonstra um alinhamento cada vez maior ao conceito de empresa socialmente responsável. Segundo Marcel Fukayama, co-fundador e
diretor-executivo do Sistema B no Brasil, o País hoje concentra o maior número de empresas em processo de certificação, no mundo: 4.400. As já certificadas somam 156. Entre elas está a Natura, que foi a primeira empresa de capital aberto a entrar para o movimento, em 2014. “Vemos um fluxo crescente de empresas nacionais buscando a certificação ou utilizando o nosso modelo de avaliação como uma forma de melhorar a gestão”, afirma Fukayama.
A maioria das empresas que buscam certificação no Brasil é composta por pequenas e médias companhias. Mas há grandes corporações no processo, como a varejista Magazine Luiza e a Movida, de aluguel de carros. Ambas já realizaram as mudanças de estatuto necessárias para entrar para o Sistema B, mas ainda aguardam os resultados da avaliação. A Danone é outra multinacional que deve se juntar ao movimento.
Globalmente, mais de 80 mil companhias por ano passam voluntariamente pelo processo. A cada 10 que tentam se certificar, apenas 1 consegue. A nota mínima para obter a certificação é 80, de um total de 200 e a avaliação deve ser refeita a cada dois ou três anos, dependendo da empresa. Já a lista Best for the World é dividida em seis categorias: meio ambiente, clientes, trabalhadores, comunidade, governança e pontuação geral. Há também uma categoria chamada “changemakers” (agentes de mudança), que destaca as empresas que geram impactos positivos em suas áreas de atuação. Este ano, sete brasileiras foram classificadas como changemakers: Natura, Decah, Geekie, Vox Capital, Baluarte Cultura, Recicladora Urbana
e Via Gutenberg.
A ideia de que o retorno ao acionista não deve ser a prioridade das empresas começa a ganhar corpo, não apenas entre as empresas do Sistema B. Em agosto, o grupo The Business Roundtable, fundado em 1972 e que reúne mais de 200 CEOs de grandes empresas globais, divulgou uma carta afirmando que é preciso romper com a lógica de que o lucro é o mais importante nos negócios. Para eles, o foco das empresas deve estar em gerar valor para todos os stakeholders. Entre os signatários estão Jeff Bezos, da Amazon; Tim Cook, da Apple, Mary Barra, da GM; e Larry Fink, da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, dona de uma carteira que ultrapassa os 6 trilhões de dólares. Fink, por sinal, é um dos maiores incentivadores do movimento e vem abordando a questão em sua carta anual aos investidores há, pelo menos, três anos.