Bradesco: baixos volumes de crédito contribuíram para o aumento da inadimplência, que subiu para 4,22% em março. (Omar Paixão)
Da Redação
Publicado em 2 de maio de 2016 às 06h47.
São Paulo - Os resultados do Bradesco e do Santander Brasil no primeiro trimestre confirmaram as expectativas de um cenário mais desafiador para os grandes bancos no País, com calotes crescentes e encolhimento dos empréstimos.
A demanda ainda mais fraca associada à desvalorização do dólar, que fechou março em R$ 3,59, influenciado pelo contexto político no País, contribuiu para que as carteiras diminuíssem até mesmo no comparativo anual.
O alívio veio das receitas com tarifas e seguros, fora as margens financeiras, que seguiram sendo impulsionadas pela reprecificação das carteiras por conta dos juros altos.
Apesar disso, não foram suficientes para evitar a queda no resultado, em linha com a expectativa de analistas que já anteviam a piora dos números do setor em meio ao aprofundamento da crise política e econômica no Brasil.
O Bradesco, por exemplo, reportou nesta semana a primeira queda anual em seu lucro líquido em mais de quatro anos. O resultado contábil da instituição somou R$ 4,121 bilhões, cifra 2,9% menor do que a vista em idêntico intervalo de 2015, de R$ 4,244 bilhões.
A queda ocorreu, principalmente, por conta da constituição de uma provisão específica para uma grande empresa do setor de óleo e gás, no valor de R$ 836 milhões.
O banco não revelou o nome, mas, segundo analistas, seria a Sete Brasil, prestes a entrar com pedido de recuperação judicial.
Luiz Carlos Angelotti, diretor gerente e de relações com investidores do Bradesco, disse que esse crédito estava 10% provisionado, mas foi feito um ajuste para 70% por agravação de rating.
Embora tenha descartado provisão do mesmo montante no próximo trimestre, admitiu que, se necessário, novos colchões serão constituídos.
"Entendemos que não deve se repetir todo trimestre, mas pode ocorrer em um trimestre futuro. O restante dos clientes são mais pulverizados", explicou Angelotti, em teleconferência com a imprensa.
A Sete Brasil tem R$ 14 bilhões em dívidas. Do total, R$ 12 bilhões foram tomados com Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú Unibanco, Santander e Standard Chartered, dos quais R$ 4 bilhões já teriam sido recuperados. O restante, porém, deve ser provisionado nos balanços dos credores.
A fatia equivalente ao Santander não é crédito, mas equity. Deve, portanto, impactar no patrimônio do banco.
Questionado, Sérgio Rial, presidente da instituição, disse a jornalistas que não comentaria sobre casos específicos.
Em termos de crédito, tanto Bradesco quanto Santander viram suas carteiras encolherem. Segundo Angelotti, os baixos volumes contribuíram para o aumento da inadimplência, considerando atrasos acima de 90 dias, que subiu de 4,06% em dezembro para 4,22% em março, impactada, principalmente, pelas pequenas e médias empresas, que sofrem mais com a crise no País.
No banco espanhol, os calotes foram a 3,3% no primeiro trimestre, ante 3,2% nos três meses anteriores.
Angel Santodomingo, vice-presidente executivo e CFO do Santander, afirmou que, diante do cenário macroeconômico desafiador, a carteira de crédito deve permanecer em território negativo nos próximos trimestres.
Analistas também projetam queda dos empréstimos para o Bradesco, que preferiu não mexer nos seus guidances. O banco espera que sua carteira cresça entre 1% e 5% neste ano.
Puxadas pela PDD específica, as despesas com provisões do Bradesco saltaram 30% ao final de março ante dezembro e mais de 50% em um ano, totalizando R$ 5,448 bilhões. O banco, no entanto, preferiu não revisar os guidances do ano.
De acordo com Angelotti, ainda é cedo para mudanças. Acrescentou, contudo, que no caso dos gastos com calotes, o teto da faixa de R$ 16,5 bilhões a R$ 18,5 bilhões passa a ser mais factível.
Na direção contrária, o Santander Brasil reduziu seu colchão para perdas com créditos duvidosos. Rial classificou o ajuste como natural e garantiu que a política de provisionamento não mudou.
"Não há preocupação com a inadimplência diferente daquela que já vínhamos tendo. O cenário não se tornou muito pior. Os sinais de desemprego já eram claros em 2015", destacou ele, em coletiva de imprensa.
O espanhol, que colhe mais tardio os frutos da mudança de mix de crédito no País, anunciou ontem lucro líquido gerencial, que não exclui o ágio da compra do Real, de R$ 1,660 bilhão no primeiro trimestre, cifra 1,67% maior que a vista em um ano, de R$ 1,633 bilhão.
Foi, de acordo com Rial, o oitavo resultado crescente da instituição em nove trimestres.
O motor para a expansão do lucro foi, conforme o executivo, novos clientes e a vinculação de correntistas existentes ou até então inativos e que passaram a consumir mais produtos com o Santander. Negou, porém, que o lucro tenha crescido em cima do aumento de tarifas.
"Não há ambiente para isso", disse. No Bradesco, receitas e seguros sustentaram dois dígitos de crescimento no trimestre.