Bolsonaro indica guinada intervencionista com troca na Petrobras
A decisão de mudar o comando da Petrobras é o sinal mais recente de que o presidente Jair Bolsonaro está disposto a sacrificar a agenda pró-mercado do ministro da Economia, Paulo Guedes, para segurar sua popularidade
Leo Branco
Publicado em 22 de fevereiro de 2021 às 10h00.
Última atualização em 23 de fevereiro de 2021 às 09h04.
A decisão de mudar o comando da Petrobras é o sinal mais recente de que o presidente Jair Bolsonaro está disposto a sacrificar a agenda pró-mercado do ministro da Economia, Paulo Guedes , para segurar sua popularidade.
A decisão de Bolsonaro de indicar o general Joaquim Silva e Luna , atual diretor-geral de Itaipu Binacional, para substituir o economista formado pela Universidade de Chicago, Roberto Castello Branco, após divergências sobre aumentos nos preços de combustíveis, surpreendeu até seu núcleo político.
Não houve espaço para discutir a decisão, o que mostra um presidente cada vez mais impaciente com a incapacidade do governo de apaziguar sua base de apoio, incluindo caminhoneiros , que ameaçam fazer greve devido a reajustes nos preços do diesel, disseram duas fontes do governo familiarizadas com o pensamento do presidente.
Bolsonaro justificou sua decisão no sábado alegando que, embora não pretenda interferir na Petrobras, a gestão da petroleira mostrou “compromisso zero” com o Brasil. Sem entrar de detalhes, ele disse que está se preparando para substituir outras áreas de seu governo que podem não estar funcionando, incluindo o setor de energia. O Palácio do Planalto não ofereceu comentários adicionais quando procurado pela Bloomberg no domingo.
“Isso nos lembra outros momentos de interferência do governo na política econômica”, disse Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, lembrando a decisão da ex-presidente Dilma Rousseff de reduzir os preços da energia elétrica em 2013. “O mercado quer saber se a decisão do presidente é uma nova diretriz para a política econômica.”
O real pode desvalorizar 2% nesta segunda-feira, enquanto o Ibovespa pode cair cerca de 4%, de acordo com a mediana das expectativas de 200 investidores institucionais consultados pela XP Investimentos no domingo.
James Gulbrandsen, diretor de investimentos para a América Latina da NCH Capital com cerca de US$ 3 bilhões em ativos sob gestão, disse que a incerteza deixa o Brasil sob o risco de ser evitado pelos investidores. “Se Bolsonaro interferir no preço da eletricidade, provavelmente é o fim do jogo para sua capacidade de atrair capital estrangeiro”, disse ele.
Castello Branco ganhou elogios dos investidores ao reduzir a dívida da empresa e defender sua independência do governo. A nomeação de Silva e Luna ainda precisa de aprovação do conselho da Petrobras.
O silêncio de Guedes
Paulo Guedes manteve-se em silêncio sobre a Petrobras porque não há nada que ele possa dizer sobre a decisão do presidente que a faça parecer melhor, disseram integrantes da equipe econômica.
O ministro, no entanto, não desistiu de sua agenda e tentará minimizar as preocupações dos investidores sobre a intervenção política, acelerando a aprovação de uma pauta de austeridade no Congresso, disseram as pessoas, pedindo anonimato porque as discussões não são públicas.
Procurado, o Ministério da Economia não comentou o assunto.
Guedes passou os últimos dias negociando com parlamentares a aprovação de uma emenda constitucional que abre espaço para o governo fazer uma nova rodada de auxílio emergencial em troca de cortes de gastos públicos nos próximos anos. A chamada PEC Emergencial garantirá credibilidade fiscal e previsibilidade, e as negociações estão indo bem porque há um entendimento de que o país não tem tempo a perder, disseram as pessoas.
Apesar de ter perdido várias batalhas políticas recentemente, acrescentaram as fontes, Guedes não pretende deixar o cargo. O ministro quer deixar um legado econômico do qual possa se orgulhar.