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"Black Friday chinesa" dobrou total de pedidos no Brasil, batendo 900.000

Puxado pela AliExpress, Dia do Solteiro teve média de 210 pedidos por minuto no Brasil, o dobro de 2018. Apesar da alta, data ainda tem pouco impacto local

AliExpress: empresa do grupo Alibaba tenta emplacar o Dia do Solteiro no Brasil (Sefa Karacan/Anadolu Agency/Getty Images)
CR

Carolina Riveira

Publicado em 16 de novembro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 30 de julho de 2020 às 14h24.

Às vésperas da Black Friday, que acontece no próximo dia 29 de novembro, um conjunto de promoções acontecia discretamente no Brasil. Com a liderança da gigante chinesa AliExpress , do grupo Alibaba, as varejistas chinesas celebraram por aqui uma nova edição do Dia do Solteiro, data de compras que acontece anualmente na China em 11 de novembro.

Os números finais da edição brasileira mostram que o total de pedidos dobrou em relação ao ano passado. Foram mais de 910.000 pedidos na AliExpress e em outros sites estrangeiros participantes, alta de 102% ante os 450.000 em 2018. Apesar de a data oficial ter sido celebrada na segunda-feira 11, os números incluem compras entre 10 e 12 de novembro, período de duração das promoções.

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Os dados dizem respeito à AliExpress, a americana Tiendamia e a chinesa UseGiraffe, empresas cujos pagamentos são processados pela fintech curitibana Ebanx. O Ebanx não divulgou a receita das vendas neste ano -- no ano passado, o faturamento no Dia do Solteiro foi de 79 milhões de reais no Brasil, segundo a fintech.

Por minuto, o Ebanx registrou cerca de 210 pedidos por minuto relacionados ao Dia do Solteiro, ante média de 100 por minuto em 2018.

Centro de distribuição na China durante o Dia do Solteiro: como não há estoque no Brasil, produtos compras em sites chineses precisam vir diretamente do país (Stringer)

Além das parceiras do Ebanx, também participou do Dia do Solteiro a B2W, dona de Americanas.com e Submarino, uma das poucas varejistas brasileiras que fez algum tipo de ação mais direta para a data. Para o Dia do Solteiro, a Americanas.com ofereceu cupons de 10 a 50 reais em produtos chineses. Contatada por EXAME, a empresa não quis divulgar uma estimativa de quanto a ação gerou em número de pedidos e faturamento, nem se pronunciar sobre sua participação na data.

A B2W participou do dia de compras chinês pela primeira vez, depois de a plataforma da companhia passar a incluir neste ano produtos de varejistas chineses com seu projeto "Americanas Mundo", entrando na categoria cross-border ("cruza fronteiras", isto é, com itens vindos diretamente de fora do país). A categoria de produtos vindos de fora representa 6,7 milhões de itens na B2W, segundo dados de setembro.

A brasileira Kabum, especializada em artigos de informática, também ofereceu desconto de 11% em seus produtos para quem usasse o cupom "11DO11".

Em entrevista anterior a EXAME, o diretor de operações da AliExpress para a América Latina, Ken Huang, disse que pretende tornar o Dia do Solteiro "maior que a Black Friday" no Brasil. A data teve ações no Brasil desde 2017, mas, neste ano, a Alibaba fez pela primeira vez uma campanha para o Dia do Solteiro no país, reforçando os gastos em marketing e contratando influenciadores.

A AliExpress é a terceira plataforma mais usada pelos brasileiros para compras no exterior, segundo estudo do Ebanx.Dentre os entrevistados, 23,9% compraram naAliExpress ao menos uma vez nos últimos 12 meses. O mercado de cross-border movimentou no comércio eletrônico brasileiro 10 bilhões de dólares em 2018, o equivalente a 22% de todo o e-commerce no Brasil, segundo estudo da consultoria de inteligência de marketing Americas Market Intelligence.

Festa de início do Dia do Solteiro deste ano: varejista transformou a data em feriado de compras em 2009 (Aly Song)

Nacionais não aderiram

Apesar do crescente faturamento dos importados na modalidade cross-border, a baixa presença de empresas brasileiras no Dia do Solteiro fez a data ter pouco impacto no restante do varejo nacional, segundo levantamento da empresa de inteligência de comércio eletrônico Compre & Confie feito a pedido de EXAME.

O faturamento no comércio eletrônico brasileiro na segunda-feira 11 mais que dobrou, mas não por causa do Dia do Solteiro. Sem incluir a AliExpress, que não está na base de dados da Compre & Confie, o e-commerce brasileiro teve mais um dia normal, com faturamento de 313,6 milhões de reais (alta de 126% ante o mesmo dia em 2018) e 758.600 pedidos (alta de 98%). A alta, embora expressiva, teria vindo apenas de um crescimento natural, segundo informou a equipe de inteligência da consultoria.

Como o dia 11 de novembro caiu em um domingo no ano passado, a consultoria calcula que já estava prevista uma alta de 100% nas compras, porque há mais movimento no e-commerce às segundas. Soma-se a isso o crescimento médio anual entre 2018 e 2019 no e-commerce brasileiro, que está entre 20% e 30%.

A Compre & Confie analisa dados de mais de 80% dos pedidos feitos no Brasil, mas sua base inclui sobretudo as varejistas brasileiras, que não tiveram campanhas de marketing ou promoções específicas para o Dia do Solteiro neste ano.

Enquanto isso, na Black Friday , data que chegou ao Brasil em 2010 e que já entrou para o calendário de compras nacional, haverá cerca de 3,3 bilhões de reais em vendas no Brasil, com 5,5 milhões de pedidos -- o que representaria seis vezes mais do que os pedidos do Dia do Solteiro.

Quase 1 bilhão de pedidos

No mundo, o Dia do Solteiro representou vendas globais de 38,4 bilhões de dólares neste ano para a Alibaba. A data gerou um assombroso volume de mais de 900 milhões de pedidos e faturamento 26% maior do que no ano passado, segundo contagem da própria empresa feita ao vivo durante a segunda-feira.

A maior parte das vendas ainda é na China, onde o Dia do Solteiro tornou-se tradição a partir de 2009, quando a Alibaba ressignificou a data. Até então, a comemoração ocorria em algumas universidades chinesas. O 11/11 foi escolhido devido aos números "um", como forma de comemorar a "solidão", em contraponto ao Dia dos Namorados.

Na China, mesmo marcas ocidentais aderiram à festa. Neste ano, a Alibaba divulgou que 15 marcas venderam mais de 1 bilhão de iuanes (mais de 100 milhões de dólares), incluindo as empresas de eletrônicos chinesas Huawei e Xiaomi e sua concorrente americana Apple, além das fabricantes de artigos esportivos americanas Nike e Uniqlo.

À medida em que a Alibaba tenta intensificar sua atuação fora da China, o Dia do Solteiro também deve continuar fincando o pé em outras regiões. Neste ano, o faturamento global da Alibaba no 11 de novembro teve alta de 26%, a menor desde que a data começou. As expectativas eram ainda menores, ficando entre 20% e 25%.

Com a economia chinesa desacelerando, a Alibaba precisará cada vez mais expandir as operações para novos mercados. Os executivos da empresa no Brasil não descartam a abertura de um centro de distribuição, além de novas rotas para agilizar a entrega dos produtos. Ainda não se sabe se o Dia do Solteiro conseguirá virar uma data tão grande quanto a Black Friday, mas o certo é que as empresas chinesas devem fazer cada vez mais barulho por aqui.

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