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Atacarejo cresce e já domina 40% da venda de alimentos

A busca incessante pelos preços mais baixos garantiu uma alta de 10% ao formato no ano passado

(Paulo Whitaker/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 28 de março de 2022 às 09h29.

Última atualização em 28 de março de 2022 às 09h40.

Em um ambiente de inflação e de queda da renda, o atacarejo ganhou espaço entre os brasileiros. A busca incessante pelos preços mais baixos garantiu uma alta de 10% ao formato no ano passado, contra uma queda de 2,4% do varejo alimentar como um todo, segundo estudo da McKinsey obtido com exclusividade pelo Estadão. Com isso, em um ano, a fatia do atacarejo no varejo de alimentos saltou de 35% para 40%. Hoje, são mais de 2 mil lojas desse perfil pelo País.

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E a perspectiva é de que esse modelo ganhe ainda mais participação, chegando a 50% das vendas nos próximos anos. "Em meio à pressão inflacionária, o único formato que conseguiu ser resiliente foi o atacarejo", comenta Roberto Tamaso, sócio da McKinsey. Segundo o especialista, o estudo deixa claro que, no futuro próximo, não há perspectiva de que a sensibilidade do consumidor ao quesito preço venha a diminuir.

"Os consumidores estão dispostos a comprar produtos mais econômicos. O varejo terá de ter oferta de produto, e isso também abre a possibilidade para a marca própria", diz o executivo. A pesquisa mostrou que 70% dos consumidores estão buscando melhores preços e que 40% se dizem abertos a comprar opções mais econômicas.

Fazendo as contas

O aposentado Almir Cornachioni, de 62 anos, tem aumentado a frequência de visitas à loja do Assaí, no bairro Aricanduva, onde mora para driblar o aumento da inflação. "O atacarejo é mais barato. São quatro casas no mesmo quintal e oito pessoas da família, nos agrupamos para fazer as compras", conta. A preferência, em tempos de orçamento apertado, tem razão de ser: segundo recente pesquisa da Nielsen, os produtos básicos são, em média, 15% mais baratos nos atacarejos do que em supermercados e hipermercados.

Como é aposentado e vive perto da unidade que frequenta, ele corre ao Assaí muitas vezes por semana, especialmente quando recebe cupons de desconto pelo WhatsApp. Ele tem ajudado até nas compras dos vizinhos. "Quando estou indo ao mercado, minha vizinha pede para ver o preço de alguns produtos. Eu mando o valor e às vezes ela me faz um Pix para eu levar para ela", conta.

Em resumo, a McKinsey classifica o atacarejo como um vencedor na crise. "É um formato que deu certo e tudo indica que vai continuar a crescer", afirma Bruno Furtado, sócio da consultoria. Depois de as grandes redes já terem avançado nas capitais brasileiras, a tendência agora é de avanço no interior dos Estados, comenta. Outra constatação é de que hoje o modelo faz parte do dia a dia de todas as classes sociais, e não só da baixa renda.

A musicista Geraldine Ruiz, moradora da zona morte de São Paulo, é cliente de atacarejo há cinco anos. "Quando tem algum produto com preço bom, preferimos comprar no atacado e estocar em casa, pois sabemos que a inflação vai salgar no mês seguinte. Produtos como óleo e café estão nessa estratégia", comenta.

Sócio-fundador da consultoria em varejo Varese, Alberto Serrentino afirma que o atacarejo tem ganhado força no Brasil desde a crise de 2015. Na época, 47% das famílias brasileiras costumavam visitar essas lojas, porcentual que subiu para 65% no ano passado.

Serrentino diz que a agressiva abertura de lojas também auxiliou o setor. "O atacarejo ganhou muito por conta da expansão. Foi um formato agressivo em aberturas de lojas e migração, o que faz com que o market share (participação de mercado) cresça."

Faturamento

As mais de 2 mil lojas de atacarejo no Brasil faturaram R$ 230 bilhões no ano passado, segundo dados da Associação Brasileira dos Atacadistas de Autosserviços (Abaas) e da Nielsen IQ. A expansão do número de lojas foi forte: 26% apenas em 2021, especialmente nas regiões Norte e Sul, além dos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

No Norte, o grande nome do segmento é o Grupo Mateus, que tem colocado o pé no acelerador desde que abriu seu capital, em 2020. Hoje, o grupo possui 210 lojas. Mais da metade está no Maranhão, onde a rede foi fundada e detém 80% de participação no setor.

"Vamos entendendo as novas possibilidades de faturamento e onde é possível entrar com um determinado nível de competitividade. É um equilíbrio das contas e vamos preenchendo as rotas", afirma Sandro Oliveira, diretor executivo da companhia.

Outra "onda" de novas lojas de atacarejo está vindo com a venda dos pontos do Extra Hiper para o Assaí - a bandeira de atacarejo pertence ao francês Casino, mas foi desmembrada do Grupo Pão de Açúcar (GPA) no Brasil. O Assaí, que tem hoje 216 lojas, prevê abrir mais 50 unidades neste ano, número recorde.

Diretor regional do Assaí, Luiz Carlos Araújo afirma que o modelo tem sido bem recebido por toda a parcela da população. Agora, uma das estratégias é agregar mais serviços às unidades, como o de açougue. "O cliente já exige um padrão melhor, mas não podemos perder a essência, que é de ser de custo baixo", diz.

Já o GPA desistiu do formato de hipermercado. "Passamos por profundas mudanças e tomamos importantes decisões para o futuro dos negócios do grupo. Iniciamos o ano com a cisão do negócio de atacarejo (Assaí) e finalizamos um ciclo com a descontinuidade do formato de hipermercados do grupo no Brasil, suportados por uma análise de médio e longo prazos das tendências do varejo", afirma o diretor de operações do GPA, Frederic Garcia.

Foi com a chegada de uma loja perto de casa que a advogada Maria Carolina Garcia mudou suas compras. Na região do Tatuapé, um Extra mudou para Assaí. Grávida no início da pandemia e trabalhando no setor da aviação, um dos mais afetados pela crise buscou economia no atacarejo. "O que também gosto é que temos a possibilidade de outras marcas não tão famosas, mas também boas" diz.

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