Assembleia de credores da Odebrecht muda para dia 31 e será on-line
Já não bastasse todos os ineditismos do próprio caso, a pandemia impôs a necessidade da criatividade para marcar uma reunião entre os credores
Da Redação
Publicado em 24 de março de 2020 às 11h15.
Última atualização em 25 de março de 2020 às 07h58.
A Odebrecht vai realizar a primeira assembleia de credores totalmente on-line do Brasil. O grupo pediu e obteve do juiz do caso autorização para a inovação. A decisão de João de Oliveira Rodrigues Filho, da 1ª Vara de Falências de São Paulo, tornou-se pública ontem à noite. Com isso, a assembleia que estava marcada para dia 25 foi adiada para dia 31. A extensão foi para permitir que os credores se adaptem e se preparem para o encontro em ambiente virtual.
A plataforma que vai receber a novidade é ClickMeeting. Já não bastasse todos os ineditismos do próprio caso, a pandemia do coronavírus impôs a necessidade da criatividade. Com um total de R$ 98 bilhões em compromissos listados quando do pedido de proteção contra credores, em junho do passado, o conglomerado vai reestruturar mais de R$ 50 bilhões em vencimentos, pois são excluídos do total as dívidas cruzadas entre as empresas controladas e mais compromissos com seguradoras de obras. As dívidas estão espalhados em 20 holdings e subholdings, sociedades sem atividades que são as controladoras dos negócios operacionais de fato.
Trata-se de uma recuperação judicial de avais e garantias de dívidas, e não dos compromissos originais que estão nas empresas operacionais, já vencidos na maioria dos casos, ou com reorganizações em andamento. É uma forma de deixar a holding sem alavancagem e pressões para tocar o dia-a-dia dos negócios.
“É uma iniciativa fundamental para um momento em que o isolamento social se impõe, mas também em que o mundo não pode parar”, afirmou Eduardo Munhoz, advogado que conduz o caso pela Odebrecht, sobre a assembleia virtual. “A decisão do juiz é muito importante. O tempo da economia não é o mesmo da quarentena. É um dever agora se dar um bom uso para a tecnologia que já existe e está disponível. É um precedente muito relevante”, afirmou ele.
O processo da Odebrecht envolve um total de nada menos do que 500 credores. A expectativa é que, na reunião presencial, cerca de 300 participassem. Assim como na assembleia tradicional, a condução dos trabalhos será feita pelo administrador judicial, a Alvarez & Marsal.
Com a assembleia de credores, o grupo, um dos maiores ícones atingidos pela Operação Lava-Jato, conseguirá reorganizar R$ 34 bilhões em dívidas com bancos no país – Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, BNDES, Caixa e Santander. Um acordo com as bases para o plano de recuperação foi alcançado com cinco dessas instituições na semana passada (todas menos a Caixa, que não participou das negociações).
Para a Odebrecht, dar agilidade à solução é essencial. Assim que o processo for homologado, a empresa poderá receber cerca de R$ 250 milhões em dividendos da sua principal controlada hoje, a petroquímica Braskem. O pagamento refere-se ainda ao ano de 2018.
Os recursos estão parados em uma conta protegida. Desde 2016, a Odebrecht concedeu as ações da controlada em garantia a bancos credores, para cobrir dívidas que hoje estão em R$ 13,6 bilhões.
As instituições têm direito não apenas aos papéis, como proteção, como aos dividendos pagos como forma de amortização dos compromissos. No ano passado, o conglomerado negociou acesso aos proventos pagos pela empresa para ajudar na composição do caixa mínimo até que a petroquímica seja vendida para que os compromissos sejam quitados. A Odebrecht terá até três anos para vender a Braskem.
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