EMPREENDIMENTO DE TRUMP NA ESCÓCIA: registros de marcas cobrem DE sabonetes e perfumes na Índia a serviços de engenharia no Brunei / Jeremy Sutton-Hibbert/The New York Times
Da Redação
Publicado em 6 de março de 2017 às 16h55.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h28.
Danny Hakim e Sui-Lee Wee
© 2017 New York Times News Service
Londres – Donald Trump se coloca como o presidente antiglobalista. Mas o Donald Trump homem de negócios é outra história.
Durante a campanha, a organização de Trump continuou a apresentar dezenas de novos licenciamentos na China, no Canadá, no México, na União Europeia e na Indonésia, e uma de suas empresas solicitou proteção de marca registrada nas Filipinas mais de um mês depois das eleições, segundo uma revisão de registros no exterior feita pelo New York Times.
Seus registros de marcas nos últimos anos cobrem todos os tipos de potenciais produtos, entre eles sabonetes e perfumes na Índia, serviços de engenharia no Brunei e vodca em Israel. No meio de fevereiro, o governo da China, onde suas empresas entraram com pedidos de pelo menos 126 licenciamentos desde 2005, anunciou que estava dando a Trump os direitos de proteger sua marca em projetos de construção, reafirmando uma decisão tomada em novembro.
O contraste com seu antiglobalismo linha dura desde que assumiu a presidência é incrível. Durante suas primeiras semanas como presidente, Trump denunciou a China e o México por práticas comerciais injustas e ridicularizou a União Europeia como “basicamente um veículo para a Alemanha”. Ele terminou o envolvimento dos Estados Unidos na Parceria Transpacífico, um amplo pacto comercial com as nações asiáticas, e disse que iria renegociar o Tratado de Livre Comércio da América do Norte.
“Trump parece ser o arquétipo do empresário com instintos mercantilistas”, afirmou Dani Rodrik, professor da Escola de Governo John F. Kennedy, de Harvard, em um e-mail. “Abra seu mercado para que eu faça negócios nele, mas você terá acesso ao meu mercado somente nos meus termos.”
Os licenciamentos de marca são o resultado natural de uma estratégia de abrangência global. Como qualquer homem de negócios, Trump há muito tempo tenta proteger seus produtos legalmente com registros, seja legalizando o título de um jogo de tabuleiro que uma vez tentou vender, slogans como “Make America Great Again” (Torne a América Grande de Novo) ou simplesmente o nome Trump.
Mas o caminho das marcas oferece pistas adicionais de suas ligações comerciais internacionais, que deixam o presidente vulnerável a potenciais conflitos de interesse, ou pelo menos a desafios de percepção. O anúncio do registro da marca pelo governo chinês na semana passada veio apenas dias depois que Trump parou de desafiar a política chinesa em relação a Taiwan em um telefonema ao presidente do país, Xi Jinping.
O Times revisou nove bancos de dados e identificou cerca de 400 registros de marcas internacionais feitos pelas empresas de Trump desde 2000 em 28 países, entre eles a Nova Zelândia, o Egito e a Rússia, assim como a União Europeia. Há possivelmente muitas mais, mas não existe um repositório central das marcas registradas em todos os países. A Trump Organization vem licenciando marcas por décadas, e disse que possui registros em mais de 80 países.
“Nos últimos 20 e tantos anos, a Trump Organization entrou com pedido de registros em vários lugares”, afirmou a empresa em uma declaração. “Embora a companhia não vá fazer nenhum novo negócio internacional, continuará a tomar medidas para proteger suas marcas.” A organização não respondeu questões específicas sobre os negócios oriundos dessas marcas.
Algumas das marcas sugeriam incursões em campos estrangeiros antes desconhecidos. Enquanto Trump atacava Hillary Clinton por suas ligações com o Brunei durante a campanha presidencial, explorava oportunidades no país, registrando uma marca que cobria várias categorias usadas para projetos imobiliários, segundo a análise do Times.
A Trump Organization também possui projetos internacionais para sua nova marca de hotéis, a Scion. A organização registrou o nome Scion no ano passado na Indonésia, na União Europeia, na China e no Canadá, embora um executivo tenha dito recentemente que enquanto Trump está na presidência o foco seria se expandir domesticamente.
Algumas vezes as marcas de Trump são registros para empreendimentos que nunca se materializam ou projetos imobiliários em construção para os quais ele está licenciando seu nome. Outras vezes, elas parecem ser parte de uma estratégia defensiva contra uma violação de marca registrada.
Algumas marcas reforçam a ideia de que, para Trump, a “arte da negociação” frequentemente tem se revelado ardilosa no exterior. Seus registros estão cheios de projetos que fracassaram ou que estão paralisados, incluindo empreendimentos em Cozumel, na Baja California, no México, na Rússia e no Brasil.
Vários de seus licenciamentos são curiosos. Ele registrou uma marca na União Europeia com o nome de “Numquam Concedere”, “Nunca Desista”, em latim, que é parte do cume de um de seus campos de golfe na Escócia. Seus licenciamentos em Israel mostram que sua fracassada vodca Trump foi revivida no país, onde a marca foi licenciada por outra empresa e passou a ser feita com batatas e não grãos, aumentando sua popularidade entre os judeus praticantes durante a Páscoa.
E apesar de Trump ser conhecido por estar envolvido em um projeto de construção de arranha-céus na Índia, também tem uma marca lá em uma categoria que cobre sabão em pó, perfume e sabonetes. Não está claro se ele se vê como o rei do sabonete na Índia ou estava apenas deixando marcadores para produtos em desenvolvimento.
O que será de seus empreendimentos no exterior ainda não se sabe. Trump disse que entregou o controle de seus negócios para seus dois filhos mais velhos, embora se mantenha estreitamente ligado a seu império.
As relações com o exterior levaram alguns advogados especializados em ética que trabalharam na Casa Branca e acadêmicos constitucionais a entrar com uma ação judicial, dizendo que Trump está violando a constituição por permitir que seus negócios recebam pagamentos de governos estrangeiros. Os advogados do presidente contestaram o mérito da ação.
Preocupações sobre os benefícios vindos de governos estrangeiros para a Trump Organization geralmente focam em pagamentos e em grandes empréstimos oferecidos por instituições como o Banco da China. Mas as marcas também podem ser um problema.
“Não estamos falando de uma situação isolada em que uma autoridade do governo consegue proteção para um livro que escreveu em uma terra distante algum tempo atrás”, explica Norman L. Eisen, advogado de ética da administração Obama que é parte do grupo que entrou com o processo.
“Estamos falando sobre um candidato que foi atrás agressivamente de proteção para grandes quantidades de propriedades intelectuais em governos estrangeiros durante a campanha, e que por meio dos negócios que vai continuar a ter não apenas procurará manter, mas possivelmente expandir esse número”, diz Eisen.
Os filhos de Trump dizem que vão renunciar a novos negócios estrangeiros e desistir de alguns que já existem no exterior, como um empreendimento paralisado na República da Geórgia que despertou novo interesse depois da eleição.
Mas há alguns sinais de que o crescimento no exterior continua. Recentemente, as organizações de Trump tomaram medidas para construir um novo campo de golfe de 18 buracos na Escócia como uma expansão de um dos dois resorts que possui no país.
Spring Chang, fundadora da Chang Tsi & Partners, uma firma de advocacia que representa a Trump Organization, diz que não quer comentar sobre marcas específicas, mas afirma que encoraja uma “defesa estratégica” para seus clientes para evitar que o nome de uma celebridade passe a ser tratado como um termo genérico.
Embora a Trump Organization tenha batalhado por anos contra a utilização indevida de seu nome no país, ela também foi atrás de um grande número de empreendimentos hoteleiros na China, apesar de recentemente um de seus executivos ter sugerido que a organização iria abandonar esses projetos.
Mas essa estratégia com certeza não foi apenas defensiva. “Fiz muito dinheiro na China”, ele uma vez se gabou durante a campanha, afirmando: “Faço negócios com a Europa, com a Ásia e com a China o tempo todo”.