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As 20 cidades finalistas da concorrência da Amazon

Ao todo, 238 cidades americanas, canadenses e mexicanas apresentaram propostas. A ideia de uma concorrência foi tão boa que pode ter inspirado a Apple

SEDE DA AMAZON EM SEATTLE: a empresa tem mais de 30 prédios, todos localizados na região central da cidade (David Ryder/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 19 de janeiro de 2018 às 16h12.

Última atualização em 19 de janeiro de 2018 às 16h12.

Nova York – John Tory, prefeito de Toronto, disse que a competição em que sua cidade estava entrando era a “Olimpíada das concorrências”. Olhando para os critérios, disse o prefeito Naheed Nenshi, “não posso imaginar um lugar que os atenda melhor” que Calgary, no Canadá. Craig Richard, responsável pelo departamento de desenvolvimento econômico de Tampa, na Flórida, afirmou que, “numa escala de 1 a 10, isso é um 13 para nós”. Mas talvez ninguém tenha se empenhado pessoalmente como o prefeito de Kansas City, no Meio-Oeste americano: ele escreveu mais de mil resenhas de produtos como parte de sua campanha pela cidade.

Todos estavam se referindo à competição pública anunciada pela Amazon em outubro do ano passado para abrigar uma segunda sede (a principal continuará em Seattle, no extremo noroeste dos Estados Unidos). Em troca de isenções fiscais e com uma grande de lista de exigências, a gigante do varejo online promete a criação de até 50.000 empregos e investimentos de mais de 5 bilhões de dólares ao longo de 20 anos.

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Ao todo, 238 cidades americanas, canadenses e mexicanas apresentaram suas propostas (as candidatas tinham de ser da América do Norte, ou então certamente as inscrições seriam contadas aos milhares). Das mencionadas acima, apenas Toronto passou para a segunda fase, segundo uma lista divulgada na manhã desta quinta-feira pela Amazon. Também estão entre as 20 finalistas metrópoles como Nova York, Chicago, Los Angeles e Atlanta, que já eram consideradas favoritas por dispor de aeroportos internacionais, força de trabalho qualificada e bons sistemas de transporte público. Áreas metropolitanas de menor escala, como Columbus, no Meio-Oeste, e Raleigh, no sul do país, foram algumas das surpresas. A Amazon promete anunciar ainda este ano onde erguerá o que está chamando de HQ2 (contração de headquarters 2, ou quartel-general 2).

“Passar de 238 para 20 foi muito difícil – todas as propostas mostraram tremendo entusiasmo e criatividade”, disse num comunicado Holly Sullivan, encarregada pela seleção. O critério mais importante para a escolha será a disponibilidade de pessoal – já presente na cidade ou então que possa ser atraída pela nova sede. Outro fator decisivo será o mercado imobiliário. Diferentemente de outras grandes empresas de tecnologia, a Amazon prefere se instalar dentro de áreas urbanas, não em grandes campus em áreas de subúrbio. Em Seattle a empresa tem mais de 30 prédios, todos localizados na região central da cidade. A empresa diz pretende ocupar até 45.000 metros quadrados de escritórios. Com os prometidos 50.000 empregos – pagando em média 100.000 dólares anuais –, o potencial de desenvolvimento econômico tem poucos paralelos na história recente das grandes cidades americanas.

Apesar de a empresa falar mais do que vai levar para a cidade vencedora, o preço cobrado pela Amazon também não deve ser baixo. Newark, que está a poucos quilômetros de Nova York e fica no estado de New Jersey, prometeu até 7 bilhões em isenções. Muitas outras concorrentes não revelaram que tipos de benefícios estão dispostas a oferecer.

O prefeito de San Jose, na ponta sul do Vale do Silício, foi uma das poucas vozes contrárias ao frenesi causado pela competição. “Não me entenda mal, a Amazon é uma empresa maravilhosa. Qualquer cidade aceitaria de braços abertos a vitalidade econômica da presença de uma empresa com 50.000 funcionários e 5 bilhões de dólares em investimentos”, escreveu num artigo para o The Wall Street Journal Sam Liccardo. “Mas minha cidade não vai oferecer incentivos para a Amazon. Por quê? Por que eles são mau negócio para os contribuintes. Os empregos não geram receitas à altura das despesas públicas.” Liccardo afirma que as isenções tributárias são apenas “a cereja do bolo”, já que esse tipo de decisão costuma ser tomada com outros critérios mais importantes. “Os incentivos podem ser importantes para os departamentos responsáveis pela parte imobiliária, mas para uma empresa como a Amazon, que faturou quase 136 bilhões de dólares, eles são um erro de arredondamento.”

Às declarações de Liccardo deve ser acrescentada a ressalva de que sua cidade já vai receber cerca de 2. 000 funcionários do Google – o prefeito pode estar reclamando de barriga cheia. Mas é inegável o impacto de tanta gente, de renda tão alta, ocupando tanto espaço de uma área urbana já desenvolvida. O melhor exemplo é justamente Seattle. A Amazon dobrou a área que ocupa na cidade nos últimos três anos. As taxas de desemprego caíram e a renda domiciliar média aumentou. Mas também aumentaram os preços dos imóveis – estima-se que, em média, a cada dia seja demolida uma casa, que será substituída por uma de valor três vezes maior. O número de moradores de rua também explodiu: em relação à população total, a cidade tem uma porcentagem de sem-tetos mais alta que metrópoles como Nova York e Los Angeles.

O projeto é complexo e envolve potenciais consequências negativas para a cidade vencedora, mas não há sinal de que as candidatas estejam menos entusiasmadas. E o mesmo vale para as empresas. A ideia da concorrência foi considerada um golpe de mestre de relações públicas por parte da Amazon, e ninguém menos que a Apple pode estar se inspirando no modelo. A empresa anunciou esta semana que vai repatriar a maior parte dos 252 bilhões de dólares que estão no exterior. A medida é consequência direta do corte de impostos aprovado pelo governo Trump no final do ano passado – a Apple afirmava havia anos que o dinheiro ficaria no exterior enquanto os impostos de repatriação não fossem reduzidos.

Parte do dinheiro que será injetado na economia americana, segundo declaração do CEO Tim Cook, será investido na contratação de até 20.000 funcionários, que trabalharão em um novo campus – em cidade a ser definida. A empresa não anunciou se haverá uma concorrência semelhante à da Amazon. Sabe-se apenas que o local escolhido ficará nos Estados Unidos e que a divulgação deve sair até o fim deste ano. Nem tudo estará perdido para as 237 cidades derrotadas na competição da Amazon.

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