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Argentina exige que Vale pague ordenado de funcionários

O governo argentino quer que a empresa se comprometa a manter o pagamento dos salários dos empregados do projeto de potássio Rio Colorado durante um ano


	Logo da Vale: os empresários argentinos estão preocupados com os efeitos na relação com o Brasil de um endurecimento da posição da Argentina contra a Vale.
 (Divulgação)

Logo da Vale: os empresários argentinos estão preocupados com os efeitos na relação com o Brasil de um endurecimento da posição da Argentina contra a Vale. (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.

Buenos Aires - Em proposta apresentada nesta quarta-feira (13) pelo Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social da Argentina ao diretor executivo da Vale no país, Sérgio Leite, o governo argentino quer que a empresa se comprometa a manter o pagamento dos salários dos empregados do projeto de potássio Rio Colorado durante um ano. O tom da forte fala do ministro do Planejamento e Investimento Público da Argentina, Julio De Vido, foi levado à audiência no ministério. Uma das fontes ouvidas disse que o governo ameaçou, claramente: "Se não oferecer um plano de desinvestimento que não prejudique os funcionários, o governo vai tirar a concessão da mina e do porto de Bahia Blanca (na província de Buenos Aires)".

Durante uma audiência que teve a participação dos governadores de Mendoza, Francisco Paco Pérez, de Rio Negro, Alberto Weretilneck, e de Nequén, Jorge Sapag, Leite foi duramente questionado sobre a decisão de "abandonar" o empreendimento na Argentina e o futuro dos funcionários. De acordo com estimativas da administração argentina, o projeto de potássio Rio Colorado tem 4,5 mil operários contratados diretamente pela Vale e outros 6 mil pelas empresas envolvidas na ação.

Na segunda-feira (11), a empresa anunciou a suspensão do projeto de potássio, mas não detalhou por quanto tempo. Esse aspecto também foi levantado pelas autoridades argentinas, conforme uma fonte que participou da reunião. O diretor executivo da Vale na Argentina não respondeu à maioria das perguntas, nem sobre a proposta salarial, e alegou que deve consultar a diretoria no Rio. O Executivo argentino deu um prazo de 48 horas para que a companhia apresente as respostas. Novo encontro foi marcado para esta sexta-feira (15), às 10 horas (horário de Brasília).

A audiência contou com a presença de vários prefeitos envolvidos com a construção da mina, com o trajeto da ferrovia que transportaria o metal e com a reserva de exploração de gás não convencional para abastecer a mina. Houve questionamentos sobre o que fazer com a rede ferroviária inacabada, que ficaria "abandonada", e o Ministério do Trabalho voltou a pedir à Vale que apresente alternativas para continuar com o projeto ou um plano de desinvestimento gradual, que possa poupar os trabalhadores.


Relação bilateral

Os empresários argentinos estão preocupados com os efeitos na relação com o Brasil de um endurecimento da posição da Argentina contra a Vale. De Vido e o governador de Mendoza deixaram claro nesta quarta-feira, em discurso, que o governo poderia processar a empresa por quebra de contrato e retomar a concessão sem nenhum ressarcimento.

Empresários da União Industrial Argentina (UIA) temem que as discussões saiam do controle e possam arranhar a relação bilateral. "Uma expropriação de uma concessão brasileira poderia disparar uma crise, o que seria ruim para os dois sócios", alertou um empresário que preferiu não se identificar.

Os executivos da Câmara Argentina de Empresas de Mineração (Caem) emitiram uma nota pedindo que os dois lados "busquem soluções através do diálogo para que o projeto seja viável". A Caem alertou para o risco de se abandonar uma obra emblemática que "conflui uma clara complementação entre a mineração e o setor agrícola".

No comunicado, a câmara reconheceu que "é a obra produtiva mais importante da Argentina em termos econômicos e sua interrupção implica não só em graves prejuízos para as empresas locais e trabalhadores que perderão seus empregos, mas também frustrará um trabalho articulado entre argentinos e brasileiros".


Esperança

O projeto é um dos dois maiores da Argentina, previsto, inicialmente, em US$ 5,9 bilhões. O outro desta envergadura é também do setor de mineração, no valor de US$ 6 bilhões de investimentos: Pascua Lama, da canadense Barrick Gold, localizado na divisa da província argentina de San Juan com a fronteira do Chile. Fonte do governo de Mendoza disse que "existe ainda a tênue esperança de um encontro entre as presidentes (Cristina Kirchner e Dilma Rousseff) que ajude a destravar o diálogo e encaminhar uma solução".

"Somente um pedido de Dilma poderia sensibilizar a Vale a fazer um esforço maior porque, até o momento, a empresa rejeitou todas as opções que lhe oferecemos", disse a fonte do governo de Mendoza. De acordo com nota da presidência da república da Argentina, a Vale corrigiu o valor do projeto de US$ 5,9 bilhões para US$ 8,8 bilhões, em dezembro, e para US$ 10,9 bilhões, em fevereiro. De Vido disse que a empresa pediu benefícios fiscais no valor de US$ 3 bilhões e acusou a companhia de querer compensar as perdas mundiais com a concessão de privilégios pelo Estado argentino.

O ministro do Trabalho, Carlos Tomada, segundo as fontes, pediu à Vale que suspenda a ordem de emissão dos avisos de demissão, que havia sido dada na terça ao consórcio de empresas liderado pela Odebrecht e Techint. Outras duas empresas brasileiras participam do empreendimento: Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, contratadas, respectivamente, para a construção da mina e do terminal marítimo.

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