Após incêndios na Amazônia, sueca Paradiset suspende compras no Brasil
Dono da maior rede de produtos naturais da Suécia parou de comprar produtos brasileiros por conta das queimadas e da liberação de 167 agrotóxicos no país
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de setembro de 2019 às 15h44.
Há cerca de três meses, após tomar conhecimento da liberação de 197 agrotóxicos pelo governo Bolsonaro , o empresário sueco Johannes Cullberg decidiu banir produtos agrícolas do Brasil das prateleiras dos seus supermercados. Mais tarde, quando os anúncios de queimadas na Amazônia ganharam o noticiário internacional, o boicote ganhou ainda mais força.
Fundador da Paradiset, maior rede de produtos naturais da Suécia ele vendia itens como manga, castanhas, cacau, limão e água de coco de origem brasileira. Mas decidiu parar de vender os produtos para não expor os clientes dos seus supermercados a mercadorias cuja produção usou defensivos agrícolas que são proibidos pelas leis suecas ou que pudessem ter colaborado com o desmatamento.
O empresário lançou até uma hashtag de boicote aos alimentos brasileiros. No Instagram, há quase 200 publicações com a inscrição #BoycottBrazilianFood. Ele diz que os consumidores e outros empresários locais também têm se sensibilizado com o tema. A seguir, trechos de sua entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Por que a rede decidiu banir os produtos agrícolas do Brasil?
Nosso protesto começou com a liberação de mais agrotóxicos, pelo governo Bolsonaro, há cerca de três meses. Muitos deles foram banidos aqui na Suécia, não poderíamos expor nossos clientes a esse tipo de produto. E o protesto ganhou força quando vimos as imagens de queimadas na Amazônia. O nosso boicote se restringe a produtos que não são orgânicos e podem contribuir para a venda de pesticidas e para o desmatamento.
Qual é o peso da questão ambiental para os suecos?
A sustentabilidade deixou de ser um assunto distante. O consumidor de hoje não quer saber apenas quanto um produto custa ele também se preocupa com a sua origem e a forma como foi produzido. Essa é uma tendência na Suécia, percebemos essa preocupação todos os dias em nossas lojas. A preservação ambiental não é uma questão de viés ideológico, ultrapassa partidos. As crianças daqui aprendem desde muito cedo a importância de se preservar o meio ambiente, é um valor intrínseco para nós.
No início do mês, a marca sueca H&M se juntou às concorrentes internacionais que suspenderam a compra de couro de origem brasileira, em retaliação às queimadas na Amazônia. O boicote aos produtos brasileiros pode se espalhar ainda mais?
Pode, sim. Os empresários estão cada vez mais sensíveis aos problemas ambientais.
A imagem do presidente Bolsonaro ficou chamuscada internacionalmente após esses episódios?
Sem dúvida. Após o aumento das queimadas e os embates com os governos da Alemanha e da Noruega (que bloquearam repasses para a preservação da Amazônia) e com (o presidente francês) Emmanuel Macron, a imagem de Bolsonaro no restante do mundo ficou bem danificada. Ele é visto como uma versão piorada do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Se é que isso é possível, já Trump é um dos políticos menos admirados do mundo.
Vocês voltariam a vender produtos brasileiros?
Claro. Superadas essas questões, a gente adoraria voltar a vender produtos brasileiros e apoiar os agricultores locais.
* O repórter viajou convidado pela Svenska Aeroplan AB (Saab)