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Apesar dos desafios, a Tesla acelera

Matt Richtel Fremont, Califórnia – Elon Musk, diretor executivo da Tesla Motors, sentou-se em uma sala de reuniões com paredes de vidro aqui na fábrica de automóveis. Ao seu redor, trabalhadores e robôs estavam construindo os veículos de luxo de 70.000 dólares que redefiniram a maneira pela qual as pessoas pensam em carros elétricos. Só […]

NOVA FÁBRICA DA TESLA: “Precisamos de fábricas grandes com produção em alta velocidade”, diz Musk / Henry/The New York Times
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Da Redação

Publicado em 10 de agosto de 2016 às 12h20.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h22.

Matt Richtel

Fremont, Califórnia – Elon Musk, diretor executivo da Tesla Motors, sentou-se em uma sala de reuniões com paredes de vidro aqui na fábrica de automóveis. Ao seu redor, trabalhadores e robôs estavam construindo os veículos de luxo de 70.000 dólares que redefiniram a maneira pela qual as pessoas pensam em carros elétricos.

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Só que os automóveis são apenas um entre os muitos projetos de Musk. Bilionário sul-africano e empreendedor, ele é o maior investidor do principal fornecedor de energia solar produzida em telhados, administra uma empresa privada de foguetes e, em postagem recente em um blog, prometeu criar um serviço para compartilhamento de carros e ônibus e caminhões movidos a bateria. Sem falar em seu plano para a maior fábrica de baterias do mundo. Com sede em Nevada, a Gigafactory teve planos anunciados há pouco tempo.

“O que vai ser muito louco sobre a Gigafactory não é só o fato de ela ser gigante. Não se pode mudar o mundo com fabriquetas que produzem com lentidão. Precisamos de fábricas grandes com produção em alta velocidade”, diz ele.

Tamanho e velocidade são lemas para Musk e sua visão de negócios de “vamos salvar o mundo”, que abordam alguns dos maiores pontos de pressão na mudança climática. Musk quer criar uma alternativa a combustíveis fósseis popularizando a energia solar e usando baterias para armazenar energia do Sol e do vento para alimentar casas, carros e empresas em qualquer dia de qualquer estação do ano.

Contudo, embora seu império de energia limpa seja visto como visionário – até urgentemente necessário – por cientistas preocupados com a mudança climática, ele chegou a um grande obstáculo. Em junho, as autoridades federais norte-americanas de segurança abriram uma investigação sobre a morte de Joshua Brown, morto quando seu Tesla S bateu em um caminhão que entrou na sua frente.

Foi o primeiro caso de morte conhecida de alguém operando o sistema de piloto automático do Tesla, tecnologia criada para prevenir desastres desse tipo controlando o volante e os freios. A fábrica reconhece que nem o carro nem Brown acionaram os freios, e diz que o piloto automático não conseguiu ver a carreta branca contra o céu claro da Flórida.

Críticos dizem que foi prematuro a Tesla lançar o sistema para evitar colisões no mercado em outubro – tecnologia saudada logo depois por Musk como “provavelmente melhor do que uma pessoa agora”. Para eles, a Tesla fez algo perigoso ao chamar o sistema de piloto automático, sugerindo que a tecnologia poderia operar sozinha o carro, ainda que exija que o piloto se mantenha completamente envolvido caso algo dê errado. “A Tesla não deveria transformar os compradores em cobaias”, diz Joan Claybrook, ex-administradora da Agência Nacional de Segurança de Tráfego em Rodovias.

Pé pesado

Em resumo, asseguram os críticos, uma empresa empenhada com a velocidade precisa compreender quando reduzir. Musk, entretanto, afirma que seu arrependimento foi não ter lançado o piloto automático mais cedo ainda.

Diante do chão de fábrica da Tesla e procurando um horizonte invisível enquanto raciocinava, ele diz que a morte de Brown foi “muito triste”. Mesmo assim, a tecnologia eleva a segurança, o empresário insiste, e uma morte no que a empresa conta como 225 milhões de viagens usando a tecnologia não enfraquece a ideia.

“A decisão fácil, ou mais fácil, seria, eu suponho, do ponto de vista de minimizar os ataques e as críticas, atrasá-la e tentar esperar por algum momento em que seja teoricamente melhor”, Musk declara acerca do piloto automático. “Mas quando se espera por qualquer momento além do ponto em que é melhor do que os carros existentes, você está tomando a decisão de matar pessoas com estatísticas.”

Muita gente em Wall Street sustenta que pouco importa se a Tesla continua mudando o mundo se também continuar a perder centenas de milhões de dólares por ano. As empresas fornecedoras de eletricidade também encaram Musk com cautela, entrando com questionamentos regulatórios contra sua aposta de revolucionar a maneira pela qual a energia é gerada, transportada, armazenada e paga.

Em junho, a Testa anunciou ter feito a proposta de compra da SolarCity, avaliada em cerca de 2,6 bilhões de dólares. Presidente da SolarCity, Musk descreveu a aquisição como uma forma de completar sua visão de uma empresa única, capaz de fornecer energia solar, carros elétricos e baterias para armazenamento.

Embora muitas pessoas na comunidade financeira considerem a proposta de fusão como, em primeiro lugar, uma maneira de Musk fazer os acionistas da Tesla protegerem seu investimento na SolarCity, ambientalistas argumentam que o plano faz todo o sentido.

Os fãs de Musk afirmam que seu elevado talento está pegando as ideias da energia renovável, discutida teoricamente há muito tempo por outras pessoas, e as transformando em realidade. “Ele é um candidato razoável a Henry Ford de sua época. Quer dar o pontapé inicial do mercado de massa da energia renovável”, diz Bill McKibben, ambientalista e escritor.

Para ajudar a baratear seus carros elétricos, Musk pretende acelerar o ritmo da fábrica da Tesla. Ela produz 2.000 veículos por semana, somente um terço do que um fabricante convencional pode produzir no mesmo período.

Elevar a produção é crucial para a próxima etapa do plano principal: construir uma versão barata do automóvel elétrico. O novo Modelo 3, que será vendido a 35.000 dólares – metade do modelo S – deve ser lançado no final de 2017 e já conta com 315.000 encomendas.

Musk posicionou a Tesla como um reagente ágil que pode ajudar os consumidores a salvar o planeta enquanto as autoridades ainda estão esboçando seus estudos. Mesmo assim, ele também contou com alguma ajuda governamental.

Além de benefícios como subsídios públicos para os consumidores de painéis solares e carros elétricos, a Tesla recebeu 465 milhões de dólares emprestados do Departamento de Energia dos Estados Unidos para trabalhar com a tecnologia para economizar combustível. Os empréstimos foram quitados em 2013.

E é com grande ajuda financeira do estado de Nova York que a SolarCity está construindo uma fábrica de 10.ooo metros quadros em Buffalo; a Tesla sustenta que as empresas de petróleo e gás natural recebem benefícios ainda maiores.

Mesmo que a Tesla atinja suas metas, é claro que Musk sozinho não pode reverter a mudança climática. Por exemplo, se a empresa terminar com 500.000 veículos nas ruas nos próximos três anos, a cifra representaria uma migalha entre os mais de 260 milhões de veículos motorizados dos EUA.

“Esses caros farão uma diferença grande? Não”, diz David Keith, professor adjunto da Faculdade de Administração Sloan, do Instituto de Tecnologia do Massachusetts, a respeito da Tesla. Para ele, a maior influência é cultural. “Talvez seja a primeira vez que um produto ecológico, com credenciais ambientais significativas, é a coisa que todo o mundo queria”, avalia.

Uma questão oportuna sobre a empreitada da Tesla envolve a dependência da empresa das baterias de íon de lítio. O composto químico pode ser volátil e vários dos primeiros veículos da empresa pegaram fogo antes de a fabricante construir um escudo de titânio debaixo do carro para impedir fogo ou outros danos.

Outra questão: será que as baterias, mesmo na escala colossal da Gigafactory, podem ser vendidas por um valor que convença a maioria dos consumidores a abandonar o vício em combustível fóssil? “Ele precisa ter um pouco de sorte”, diz John B. Goodenough, 94 anos, físico que ajudou a desenvolver a bateria recarregável de íon de lítio na Universidade Oxford nas décadas de 1970 e 80. “Somente pela audácia ele já merece o crédito.”

De acordo com Musk, seus empreendimentos devem vir a ser julgados pelo “grau com que aceleraram o surgimento da energia sustentável”. Se ele acelerar a adoção em cinco ou dez anos, seria um bom resultado, acredita. “Sinceramente, eu não me preocupo tanto com negócios. Essa não é minha principal motivação”, assegura Musk, cuja fortuna líquida foi estimada pela revista “Forbes” em 12,5 bilhões de dólares.

Porém, a Tesla existe em um mundo empresarial, onde muitos concorrentes e críticos podem estar torcendo por seu fracasso. A história do piloto automático e a morte de Joshua Brown lhes deram uma narrativa com mais do que dinheiro em jogo. “As coisas estão extremamente intensas agora”, admite Musk.

©  2016 New York Times News Service

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