ANP volta a monitorar qualidade do combustível e interdita postos
O serviço foi retomado no início deste mês, uma semana antes dos técnicos contratados pela agência encontrarem o álcool batizado
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de novembro de 2016 às 21h19.
Última atualização em 15 de novembro de 2016 às 20h10.
Rio - Postos de combustíveis do Rio de três grandes distribuidoras - BR, da Petrobras; Raízen, da Shell e Cosan; e Ipiranga - foram interditados pela Agência Nacional do Petróleo , Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) na última quinta-feira, 10, por venderem álcool hidratado com uma substância poluente e tóxica, o metanol.
A fraude foi detectada pela equipe de monitoramento da qualidade dos combustíveis da agência, que voltou à ativa no início deste mês.
Sem orçamento, a agência passou a maior parte de 2016 sem o serviço de monitoramento de postos prestado por universidades.
O serviço foi retomado no início deste mês, uma semana antes dos técnicos contratados pela agência encontrarem o álcool batizado.
A adição de solventes a combustíveis foi uma prática recorrente do passado, à qual alguns empresários recorriam para melhorar suas margens de lucro.
Mas perdeu força com o avanço do programa de monitoramento da qualidade da ANP. A descoberta, na semana passada, de que postos de três grandes marcas estavam retomando essa prática, porém, mobilizou o mercado de distribuição e revenda de combustíveis.
A ANP recolheu o álcool batizado e obrigou as distribuidoras fornecedoras a reprocessar o produto. Também abriu processo interno para apontar os responsáveis pela adulteração, que pode gerar multa de R$ 20 mil a R$ 5 milhões.
Já o representante dos donos de postos da cidade do Rio, o Sindicomb, orientou seus associados a suspenderem, na semana passada, a venda de álcool hidratado, segundo a presidente da entidade, Aparecida Siuffo. "O posto não tem laboratório próprio. Não tem como detectar o problema", disse ela.
A BR Distribuidora e a Raízen, que comanda os postos de bandeira Shell, informaram em nota que retiraram o produto de circulação.
As duas empresas atribuem a responsabilidade a um único fornecedor, uma usina de Campos dos Goytacazes, no norte fluminense. O nome da usina não foi informado.
Em comunicado, a Raízen ressaltou que a adulteração tinha o objetivo de "fraudar todo o sistema de distribuição e revenda de combustíveis no Grande Rio". A Ipiranga não se pronunciou.
Apesar de tóxico, a adição do metanol ao álcool hidratado provoca mais prejuízos econômicos e ambientais à sociedade do que representam um problema de saúde pública, segundo o professor de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa.
Ele afirma que seria necessário o consumo de um volume muito grande e por muito tempo de metanol para que a população estivesse em risco.
"O metanol, em geral, é produzido a partir do petróleo, mais poluente que o álcool, que é um biocombustível. A sua utilização significa um retrocesso nesse momento em que o mundo analisa formas de reduzir a poluição. Além de ser uma fraude econômica", afirmou Pinguelli. A ANP não informou o volume de álcool adulterado.
Nota de EXAME.com — Resposta da Ipiranga
A Ipiranga enviou esta resposta a EXAME.com:
"A Ipiranga informa que, ao tomar conhecimento de uma não conformidade no etanol hidratado comercializado em alguns postos no Estado do Rio de Janeiro, por cautela e em respeito aos seus consumidores e revendedores, cessou imediatamente a comercialização de etanol, solicitou que sua rede de revenda cessasse a venda do produto e comunicou a ANP quanto às providências acima adotadas.
Ao mesmo tempo, demos início ao processo de substituição do etanol entregue aos postos revendedores, no intuito de regularizar a qualidade do produto ofertado ao consumidor. Sendo assim, os postos revendedores de nossa rede que ofertam etanol já estão com produto dentro dos padrões de qualidade exigidos por Lei."