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Anglo deve somar US$ 1 bi ao caixa com megaprojeto

Um mineroduto de 525 quilômetros vai transportar minério de ferro por 32 municípios até o litoral do Rio a partir de dezembro

Anglo American: o projeto será lançado com 4 anos de atraso (Nadine Hutton/Bloomberg)
DR

Da Redação

Publicado em 9 de junho de 2014 às 09h24.

Rio de Janeiro - Com 18 mil habitantes, a cidadezinha mineira de Conceição do Mato Dentro, a 170 quilômetros de Belo Horizonte, está na origem de um dos maiores projetos de mineração do mundo.

Foi lá que, no primeiro dia deste mês, o presidente global da mineradora Anglo American , Mark Cutifani, testemunhou a última solda do mineroduto de 525 quilômetros, estrutura de porte inédito que vai transportar minério de ferro por 32 municípios até o litoral do Rio.

Essa foi a última de 288 mil soldas e marca a reta final do projeto Minas-Rio, que deve entrar em operação até dezembro, com quatro anos de atraso.

A expectativa da empresa com o projeto é grande. Ele adicionará de US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão ao caixa anual da Anglo American, sexta maior mineradora do mundo, quando atingir, a partir de 2016, a capacidade plena de produção, de 26,5 milhões de toneladas anuais de minério de ferro.

O grupo anglo-sul-africano estima levar a commodity até a China e ao Oriente Médio a um custo de US$ 35 a tonelada, considerado páreo para enfrentar até mesmo os eficientes rivais australianos.

A mineradora mantém a previsão de iniciar a operação no fim do ano. "O Minas-Rio será um grande gerador de caixa, porque é um produto de volume e com um custo baixo", diz o presidente da Unidade de Negócio Minério de Ferro Brasil da Anglo American, Paulo Castellari.

No País desde 1973, a mineradora mantém em território brasileiro unidades de produção de níquel, nióbio e fosfatos. Mas o negócio mais relevante é, sem dúvida, o projeto Minas-Rio.

Ele teve início em 2007, quando a Anglo comprou uma reserva da MMX, empresa de Eike Batista.

O orçamento de US$ 3 bilhões, na época, saltou para US$ 8,8 bilhões. Somados aos US$ 5,2 bilhões pagos à companhia de Eike, a conta da Anglo chega a US$ 14 bilhões.

O estouro de orçamento e o atraso da obra - que enfrentou denúncias no Ministério Público, remoção de centenas de famílias, gastos com liminares, imprevistos geológicos e arqueológicos, além da demora para obtenção de licenças ambientais - levaram, em abril do ano passado, ao afastamento da presidente global Cynthia Carroll.

Em 2012, quando o cronograma foi alterado pela última vez, a empresa registrou uma baixa contábil de US$ 4 bilhões.

A multinacional, no entanto, está otimista quanto ao retorno do projeto. Recentemente, Mark Cutifani, anunciou o objetivo de atingir um retorno sobre capital de 20% para a companhia.

A meta é chegar a no mínimo15% até 2016. Ao lado de melhoras operacionais em minas do Chile e da África do Sul, a entrada em operação do Minas-Rio é uma das apostas para alcançar o resultado.

"Remunerar nosso capital vai ser muito difícil. Mas com um custo de US$ 35 vamos gerar bastante caixa mesmo se houver um cenário catastrófico de (preço do minério a) US$ 80 por tonelada", diz Castellari.

Estratégia

Toda a produção da Anglo em Conceição do Mato Dentro já foi comercializada em contratos de mais de dez anos para clientes chineses e do Oriente Médio.

Por isso, o projeto já entra em operação com a Anglo de olho em ampliar a capacidade de produção da mina para 30 milhões de toneladas/ano.

Segundo Castellari, a expansão é possível apenas com melhorias operacionais e sem grandes investimentos.

Além de ganhar escala, o excedente de produção deve ajudar a companhia a carimbar um selo de qualidade no minério extraído do Minas-Rio, que tem 68% de teor de ferro e baixo nível de contaminantes.

"Nossa estratégia é usar esse volume para mostrar ao mercado que esse produto é diferenciado e conseguir chegar a outros clientes", revelou.

O executivo admite que os contratos de longo prazo herdados pela Anglo com a compra do ativo da MMX não eram muito "atraentes" e carregavam descontos por terem sido negociados com o projeto ainda em uma fase muito inicial.

"A notícia boa é que temos confiança de que vamos conseguir atrair prêmio (de qualidade para o minério), compensando esses descontos."

O analista de investimento da SLW Corretora, Pedro Galdi, lembra que o Minas-Rio entrará em operação em um momento delicado para o setor, quando a economia chinesa desacelera e o preço médio do minério está abaixo de US$ 100 por tonelada.

Embora avalie que a China continuará sendo uma forte compradora de minério, ele lembra que o governo chinês está tomando medidas para conter a poluição que fatalmente afetarão siderúrgicas locais.

"O projeto Minas-Rio ultrapassou as barreiras do racional, se tornou muito caro e, nesse cenário, pode não ter um retorno tão bom", diz.

Mesmo com a cotação do minério de ferro abaixo dos US$ 100 por tonelada nas últimas semanas, a commodity continua entre as mais atrativas no planejamento de longo prazo da Anglo American.

A análise da empresa é que a China continuará investindo em infraestrutura. Ao mesmo tempo, à medida em que o preço cai, produtores com custos mais altos tendem a fechar as portas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Rio de Janeiro - Com 18 mil habitantes, a cidadezinha mineira de Conceição do Mato Dentro, a 170 quilômetros de Belo Horizonte, está na origem de um dos maiores projetos de mineração do mundo.

Foi lá que, no primeiro dia deste mês, o presidente global da mineradora Anglo American , Mark Cutifani, testemunhou a última solda do mineroduto de 525 quilômetros, estrutura de porte inédito que vai transportar minério de ferro por 32 municípios até o litoral do Rio.

Essa foi a última de 288 mil soldas e marca a reta final do projeto Minas-Rio, que deve entrar em operação até dezembro, com quatro anos de atraso.

A expectativa da empresa com o projeto é grande. Ele adicionará de US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão ao caixa anual da Anglo American, sexta maior mineradora do mundo, quando atingir, a partir de 2016, a capacidade plena de produção, de 26,5 milhões de toneladas anuais de minério de ferro.

O grupo anglo-sul-africano estima levar a commodity até a China e ao Oriente Médio a um custo de US$ 35 a tonelada, considerado páreo para enfrentar até mesmo os eficientes rivais australianos.

A mineradora mantém a previsão de iniciar a operação no fim do ano. "O Minas-Rio será um grande gerador de caixa, porque é um produto de volume e com um custo baixo", diz o presidente da Unidade de Negócio Minério de Ferro Brasil da Anglo American, Paulo Castellari.

No País desde 1973, a mineradora mantém em território brasileiro unidades de produção de níquel, nióbio e fosfatos. Mas o negócio mais relevante é, sem dúvida, o projeto Minas-Rio.

Ele teve início em 2007, quando a Anglo comprou uma reserva da MMX, empresa de Eike Batista.

O orçamento de US$ 3 bilhões, na época, saltou para US$ 8,8 bilhões. Somados aos US$ 5,2 bilhões pagos à companhia de Eike, a conta da Anglo chega a US$ 14 bilhões.

O estouro de orçamento e o atraso da obra - que enfrentou denúncias no Ministério Público, remoção de centenas de famílias, gastos com liminares, imprevistos geológicos e arqueológicos, além da demora para obtenção de licenças ambientais - levaram, em abril do ano passado, ao afastamento da presidente global Cynthia Carroll.

Em 2012, quando o cronograma foi alterado pela última vez, a empresa registrou uma baixa contábil de US$ 4 bilhões.

A multinacional, no entanto, está otimista quanto ao retorno do projeto. Recentemente, Mark Cutifani, anunciou o objetivo de atingir um retorno sobre capital de 20% para a companhia.

A meta é chegar a no mínimo15% até 2016. Ao lado de melhoras operacionais em minas do Chile e da África do Sul, a entrada em operação do Minas-Rio é uma das apostas para alcançar o resultado.

"Remunerar nosso capital vai ser muito difícil. Mas com um custo de US$ 35 vamos gerar bastante caixa mesmo se houver um cenário catastrófico de (preço do minério a) US$ 80 por tonelada", diz Castellari.

Estratégia

Toda a produção da Anglo em Conceição do Mato Dentro já foi comercializada em contratos de mais de dez anos para clientes chineses e do Oriente Médio.

Por isso, o projeto já entra em operação com a Anglo de olho em ampliar a capacidade de produção da mina para 30 milhões de toneladas/ano.

Segundo Castellari, a expansão é possível apenas com melhorias operacionais e sem grandes investimentos.

Além de ganhar escala, o excedente de produção deve ajudar a companhia a carimbar um selo de qualidade no minério extraído do Minas-Rio, que tem 68% de teor de ferro e baixo nível de contaminantes.

"Nossa estratégia é usar esse volume para mostrar ao mercado que esse produto é diferenciado e conseguir chegar a outros clientes", revelou.

O executivo admite que os contratos de longo prazo herdados pela Anglo com a compra do ativo da MMX não eram muito "atraentes" e carregavam descontos por terem sido negociados com o projeto ainda em uma fase muito inicial.

"A notícia boa é que temos confiança de que vamos conseguir atrair prêmio (de qualidade para o minério), compensando esses descontos."

O analista de investimento da SLW Corretora, Pedro Galdi, lembra que o Minas-Rio entrará em operação em um momento delicado para o setor, quando a economia chinesa desacelera e o preço médio do minério está abaixo de US$ 100 por tonelada.

Embora avalie que a China continuará sendo uma forte compradora de minério, ele lembra que o governo chinês está tomando medidas para conter a poluição que fatalmente afetarão siderúrgicas locais.

"O projeto Minas-Rio ultrapassou as barreiras do racional, se tornou muito caro e, nesse cenário, pode não ter um retorno tão bom", diz.

Mesmo com a cotação do minério de ferro abaixo dos US$ 100 por tonelada nas últimas semanas, a commodity continua entre as mais atrativas no planejamento de longo prazo da Anglo American.

A análise da empresa é que a China continuará investindo em infraestrutura. Ao mesmo tempo, à medida em que o preço cai, produtores com custos mais altos tendem a fechar as portas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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