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Além dos EUA e da China: protecionismo afeta empresas em todo o mundo

Comércio global, que caiu em 2019 pela primeira vez em dez anos, é abalado por incertezas, epidemia do coronavírus e protecionismo

PORTO DE HAMBURGO: previsão de expansão global caiu de 3,9% para 3,7% / REUTERS/Fabian Bimmer/File Photo (Fabian Bimmer/File Photo/Reuters)

Karin Salomão

Publicado em 7 de fevereiro de 2020 às 12h00.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2020 às 13h00.

Paris - As disputas comerciais entre os Estados Unidos e a China são apenas a ponta do iceberg. Medidas protecionistas e a consequente queda no comércio global são alguns dos principais riscos que governos e empresas devem enfrentar em 2020, de acordo com a pesquisa anual da Coface, seguradora de créditos francesa. O estudo foi apresentado esta semana, em evento em Paris, na França.

O ano passado foi marcado pela primeira queda no comércio exterior em 10 anos, tanto pela desaceleração da economia global quanto pelo aumento da retórica protecionista.

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Segundo a seguradora, entre 2018 e 2019 mais de mil medidas protecionistas foram implementadas no mundo todo, cerca de 40% acima da média dos três anos anteriores. As medidas vão além da criação de taxas para importações e incluem ainda subsídios para indústrias nacionais, por exemplo.

Embora a disputa comercial entre os Estados Unidos e a China, que chegou a um acordo no fim do ano passado, tenha chamado a atenção do mundo, os dois países são responsáveis por apenas 23% das medidas protecionistas adotadas no período.

A seguradora prevê que a trégua anunciada entre os dois países não será capaz de restaurar a confiança das empresas ou de impulsionar a indústria ou comércio exterior.

"A incerteza em torno do comércio global está na máxima histórica", diz Julien Marcilly, economista-chefe da Coface. "A tendência é mais profunda e a disputa entre os Estados Unidos e a China é só a ponta do iceberg."

O crescimento global encolheu 0,75 pontos percentuais no ano passado, para 2,5%, e deve continuar encolhendo esse ano, cerca de 2,4%, de acordo com estimativas da Coface. O comércio global deve crescer apenas 0,8% no ano, como consequência.

A instabilidade global contribui para o aumento na volatilidade dos preços de commodities, como produtos agrícolas, metais e petróleo, uma vez que esses produtos estão muito integrados na economia global. Os preços do aço devem continuar em queda pelos próximos seis meses, uma vez que o crescimento da China, responsável por metade da demanda de aço no mundo, deve ser de apenas 5,8% no ano.

A China também deve ser pressionada pela epidemia do coronavírus. O surto prejudicou as vendas durante o ano novo chinês, que ocorreu no dia 25 de janeiro, período em que os consumidores chineses aproveitam para comprar, sair com amigos e viajar. Por conta do receio da epidemia, muitos deixaram de viajar e até de sair de casa.

E o Brasil?

A análise de risco do Brasil se manteve estável em relação ao ano passado, em “relativamente alto”.

A redução no comércio exterior e a recessão na Argentina abalaram as exportações - o país vizinho recebe 6% das exportações brasileiras, sendo o quarto maior parceiro comercial, atrás da China, Europa e Estados Unidos.

Para 2020, as exportações devem continuar fracas. “Somos pouco competitivos para exportar para outros países”, diz Patricia Krause, economista da Coface Brasil. Os preços baixos das commodities, assim como a epidemia do coronavírus na China, também são fatores de risco.

Segundo Krause, o crescimento da economia brasileira - estimado em 1,5% pela Coface e em 2,2% pelo Banco Central - deve vir do incentivo ao consumo. A alta no setor de construção civil é outro destaque do país, segundo a instituição.

A melhora no nível de desemprego, reformas, privatizações e baixas taxas de juros, assim como maior confiança de empresários, devem colaborar para que o ano de 2020 seja mais positivo.

Exame viajou para Paris a convite da Coface.

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