Além do automóvel: Nissan quer vender design (sustentável) no futuro
O estúdio de design da montadora, em São Paulo, está desenvolvendo peças de mobiliário com sobras de materiais da linha de produção
Juliana Estigarribia
Publicado em 14 de novembro de 2020 às 08h00.
Última atualização em 14 de novembro de 2020 às 08h42.
Com a indústria automotiva global em profunda transformação, tanto na seara dos produtos quanto no modelo de negócios, as montadoras estão se reiventando. Alguns passos visam mais o curto prazo. Outros miram, talvez, as próximas décadas.
Neste cenário complexo, a Nissan quer atuar nas duas frentes. Além do conceito de carro elétrico, autônomo e conectado, que já está ganhando as ruas ao redor do mundo, a marca japonesa aposta no design para a longevidade dos negócios.
As montadoras vêm construindo carros há mais de cem anos e uma etapa crucial desse trabalho -- e apaixonante, para os entusiastas -- é o design dos modelos. Ao longo das décadas, muitas marcas usaram essa paixão para alastrar uma identidade como estilo de vida.
"Queremos que a Nissan esteja em todos os momentos da vida do cliente. Quero ver uma bicicleta, um tênis, uma poltrona com design da marca. Estamos focando em novos produtos", afirma John Sahs, chefe do estúdio de design da Nissan na América Latina, em entrevista à EXAME.
Sahs nasceu no Vietnã, cresceu na Califórnia, Estados Unidos, e morou muitos anos no Japão. Foi escalado para chefiar o time de design da Nissan na América Latina há dois anos e meio. "Meu chefe do Japão me falou para vir para cá e espalhar o design da Nissan para além dos automóveis."
Com essa missão, o executivo colocou como uma de suas prioridades a sustentabilidade. Para ele, os materiais que sobram nas linhas de produção têm grande potencial para se tornar novos produtos. A começar por móveis.
Pelo segundo ano consecutivo, a Nissan será a única montadora a participar da Semana de Design de São Paulo 2020, que termina neste sábado, 14. A exposição da Nissan é virtual e o visitante verá peças do projeto Alpha, que inclui diferentes protótipos criados em parceria com importantes casas de design e instituições de ensino.
Em setembro, o Centro de Design da Nissan anunciou a ampliação da oferta de consultoria para além da área automotiva. Os novos serviços incluem produtos de mobilidade, design de interiores, comunicação visual, entre outros.
"Quando desenhamos um carro, pensamos não só na aparência, mas o que será melhor para sua funcionalidade. Para isso, precisamos levar em conta os materiais que serão usados", conta Sahs.
Ele afirma que reutilizar materiais que sobram da produção é uma excelente forma de pensar design de maneira sustentável. "Não desenhamos os móveis pensando em quais materiais temos disponíveis. Procuramos materiais que possam servir tanto para uma peça de mobiliário quanto para o carro, isso é sustentabilidade."
O executivo destaca que mesmo reciclados os materiais usados nos móveis são feitos para durar. "Queremos mudar a visão de que reciclagem não é durável ou bonito."
Ele relata que a equipe está buscando junto a fornecedores da montadora quais materiais utilizados na linha de produção podem servir como insumos para peças de mobiliário, por exemplo. Principalmente tecidos se aliam a ferro, madeira e espuma para criar peças únicas.
"Estamos sendo desafiados a utilizar reciclados em outras áreas, como dentro da nossa casa. Se podemos aplicá-los em um móvel, é possivel usar também nos carros."
Num horizonte em que a forma de consumir o carro vai mudar, com muito mais foco no uso em vez da posse, as montadoras estão buscando formas de se reiventar. Para Sahs, é perfeitamente possível que a Nissan comercialize esses móveis e outros produtos mais.
"Sou muito otimista. Se o consumidor gostar, vejo possibilidade de desenvolver produtos em parceria com os fornecedores para venda. Queremos que a Nissan esteja em todos os momentos da vida do cliente", diz o executivo. "A matriz sabe que está na hora de iniciar uma estratégia de espalhar o desgin da Nissan para além de carros."