Negócios

A Starbucks do imposto de renda

A multinacional H&R Block estampa em seu site a promessa de “maior restituição ou menor imposto a pagar”

Cliente passa por loja da H&R Block: popular nos EUA, a empresa tem como desafio agora adaptar a receita de sucesso à realidade das nações emergentes (Scott Eells/Bloomberg)

Cliente passa por loja da H&R Block: popular nos EUA, a empresa tem como desafio agora adaptar a receita de sucesso à realidade das nações emergentes (Scott Eells/Bloomberg)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de março de 2014 às 10h08.

São Paulo - Em meio à temporada do imposto de renda no Brasil, a multinacional H&R Block estampa em seu site a seguinte promessa: “maior restituição ou menor imposto a pagar”. Com esse mesmo lema, a empresa norte-americana conquistou seis de cada dez contribuintes nos Estados Unidos e espalhou escritórios por todo o país.

As mais de 11 mil “lojas”, abertas nos últimos 59 anos, transformam a empresa numa espécie de Starbucks da contabilidade. Nas grandes cidades americanas, há quase uma em cada esquina. O desafio, agora, é adaptar a receita de sucesso à realidade das nações emergentes, sobretudo a do Brasil, onde a operação ainda é incipiente.

A H&R Block desembarcou no País há três anos a partir de uma joint venture com o grupo nacional Semco, do empresário Ricardo Semler. A parceria recebeu investimento de R$ 5 milhões no primeiro ano, com o objetivo de conquistar 30 mil contribuintes até o fim de 2012.

Um ponto de partida tímido, se comparado aos 27 milhões de brasileiros que devem prestar contas ao Fisco neste ano. Mas é, segundo a multinacional, um primeiro passo considerável dentro de um país acostumado à familiar figura do contador.

Atualmente, estima-se que ao menos 40% dos brasileiros deleguem a um terceiro a responsabilidade de preparar a sua declaração de imposto de renda - seja um amigo, contador ou empresa especializada. Não há um consenso sobre esse porcentual, que pode chegar a 60%, segundo especialistas do setor.

Em todo o Brasil, há quase 500 mil contabilistas e 83 mil organizações contábeis registrados no Conselho Federal de Contabilidade. Mas é da outra fatia, daqueles que declaram sozinhos, que a H&R vem atraindo a maioria dos seus clientes, afirma Eduardo Wurzmann, presidente da operação brasileira.

Segundo o executivo, o potencial de ganhos por aqui é grande. “Mesmo se olharmos apenas para os 40%, teremos 10,8 milhões de pessoas pagando ao menos R$ 100 por declaração, o que já representa um mercado bilionário”, destaca Wurzmann.


Para não ficar atrás na disputa, a empresa trabalha com uma tabela de preços competitiva: R$ 99 pela declaração chamada básica e R$ 175 pela complexa (sem limitações de fontes de rendimento, deduções e bens).

Para o presidente da Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis (Fenacon), Mario Elmir Berti, a estratégia pode se aplicar a grandes centros, mas não é a realidade do Brasil.

“Os números mostram um mercado muito pulverizado. Além disso, os serviços de pessoa física e jurídica geralmente estão atrelados. O contador que faz para a empresa já faz para o empresário”, diz Berti.

A H&R sabe disso e não quer bater de frente com a categoria. Ao contrário, está atrás de parcerias. “Queremos ficar com o que os contadores consideram a parte chata. Ou seja: o imposto de renda”, diz Robert Turtledove, presidente da área internacional da empresa.

Sem revelar números da operação brasileira, Wurzmann diz apenas que a filial cresceu 500% em 2013, o que despertou especial interesse da matriz.

A multinacional fechou o ano passado com uma receita total de R$ 6 bilhões - 90% dessa receita vem dos EUA e o restante está dividido entre Canadá, Austrália, Brasil e Índia.

Malha fina

Com o aumento da renda do brasileiro, cresce também o número de contribuintes e, consequentemente, a quantidade de pessoas presas na malha fina da Receita Federal. Em 2013, foram 711,3 mil documentos retidos por erros ou omissões, contra 604,3 mil em 2012.


A falta de correção integral da tabela do IR, que já acumula defasagem de 61,4%, também contribui para acentuar o quadro. Isso porque os reajustes abaixo da inflação aumentam o alcance do Fisco sobre a nova classe média.

Mas não são apenas os irregulares da malha fina que brilham aos olhos da H&R. A empresa também quer atrair aqueles que “acham” que sabem declarar impostos. Ideia que Turtledove resume em uma frase: “Você provavelmente é muito bom no seu trabalho e no que faz, mas não presuma que você seja bom em declarar impostos”. Segundo o executivo, metade dos norte-americanos que elaboram os próprios documentos comete imprecisões.

Para chegar até o brasileiro, a multinacional foca investimentos na parte digital. Nada de milhares de escritórios espalhados pelo País, como nos EUA, porque imóvel no Brasil é muito caro, diz Turtledove.

Ele afirma que tudo por aqui pode ser feito online: do atendimento ao envio dos documentos. Outro pilar é a parceria com diferentes empresas para vender os serviços contábeis aos funcionários. Atualmente, são cerca de cem companhias parceiras.

Outro obstáculo à expansão da multinacional está no forte empenho do Fisco brasileiro para automatizar a declaração, deixando o contribuinte cada vez mais independente.

Este ano, por exemplo, a Receita inicia o processo de preenchimento automático dos documentos. Quem tem certificação digital (aproximadamente 1 milhão de pessoas) já conta com o benefício.

Nascido no Zimbábue, formado na África do Sul e hoje vivendo nos Estados Unidos, Turtledove diz não se assustar com as diferenças regionais e com os obstáculos brasileiros. Ele garante que a H&R tem um trunfo universal: “Nós falamos a língua dos impostos.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:AlimentaçãoBebidasCafeteriasEmpresasEmpresas americanasFast foodImposto de Renda 2020ImpostosLeãoStarbucks

Mais de Negócios

15 franquias baratas a partir de R$ 300 para quem quer deixar de ser CLT em 2025

De ex-condenado a bilionário: como ele construiu uma fortuna de US$ 8 bi vendendo carros usados

Como a mulher mais rica do mundo gasta sua fortuna de R$ 522 bilhões

Ele saiu do zero, superou o burnout e hoje faz R$ 500 milhões com tecnologia