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A Petrobras ficou no chinelo

  Acostumados às piores tragédias, nós, brasileiros, podemos ao menos olhar para o México em busca de consolos esporádicos. Dois anos após o inglório 7 a 1 para a Alemanha, a seleção mexicana levou 7 a 0 do Chile, na Copa América, na última semana. Na economia, nosso maior caso de corrupção e incompetência, a […]

PEMEX: a petroleira mexicana teve um prejuízo de 41,3 bilhões de dólares em 2015  / Matthew Rutledge

PEMEX: a petroleira mexicana teve um prejuízo de 41,3 bilhões de dólares em 2015 / Matthew Rutledge

DR

Da Redação

Publicado em 29 de junho de 2016 às 16h19.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h15.

 

Acostumados às piores tragédias, nós, brasileiros, podemos ao menos olhar para o México em busca de consolos esporádicos. Dois anos após o inglório 7 a 1 para a Alemanha, a seleção mexicana levou 7 a 0 do Chile, na Copa América, na última semana. Na economia, nosso maior caso de corrupção e incompetência, a Petrobras, não é páreo para a petroleira mexicana, a Pemex.

A Pemex acumula 14 trimestres seguidos de prejuízos e fechou 2015 com um prejuízo de 41,3 bilhões de dólares. É o maior da América Latina, segundo a edição anual MELHORES E MAIORES de Exame, a ser publicada nesta quinta-feira.

Petrobras e Pemex lideram o ranking das maiores empresas da América Latina, com receita líquida em 2015 de 86,2 e 67,6 bilhões de dólares, respectivamente. Mas em comparação com a Pemex, a situação da Petrobras parece até razoável: o prejuízo da estatal mexicana é mais de quatro vezes maior que o da brasileira – que fechou o ano com déficit de 8,9 bilhões de dólares. Entre 2014 e 2015, a receita da Pemex encolheu 27,4%, enquanto a da Petrobras ficou 12,4% menor.

Os resultados desfavoráveis da Pemex fizeram com que, em março, a agência de classificação de risco Moody’s reduzisse a avaliação da empresa a seu menor nível na história. Tanto para a mexicana quanto para a Petrobras, grande parte do problema se deve ao preço do petróleo: o barril foi de um patamar que passava de 100 dólares em 2012 para menos de 50 dólares em grande parte do último ano. Em janeiro, chegou a ser negociado a menos de 35 dólares, menor nível desde 2004. O baque não foi sentido só nas estatais latino-americanas: muitas petroleiras mundo afora registraram lucros menores. A Shell, por exemplo, lucrou 9,1% a menos em 2015.

Ainda que as gigantes multinacionais não tenham apresentado prejuízos, o cenário reflete as dificuldades causadas pelo petróleo barato. “Como a maior parte do lucro da Petrobras e da Pemex vem de exploração, a queda do barril é a principal explicação para os maus resultados”, afirma Adriano Pires, presidente do Centro Brasileiro de Infra Estrutura. As duas estatais –  assim como a venezuelana PDVSA – não investiram o quanto deviam na época de vagas gordas e agora sofrem com a crise do setor.

Semelhanças e diferenças

Nesse ambiente, a Pemex perde (muito) mais que a Petrobras, em parte, porque vem repassando aos consumidores a queda no valor do barril, ao contrário da Petrobras. De 2014 para 2015 o preço médio do petróleo mexicano caiu quase pela metade, de 86,08 para 43,39 dólares por barril. Já no mercado interno brasileiro, a Petrobrás optou por não repetir os baixos preços internacionais, de modo que derivados como petróleo e diesel subiram diversas vezes entre 2013 e 2015. Se estivesse vendendo seus derivados pelo preço internacional, a Petrobras poderia estar em situação ainda pior que a Pemex”, diz Adriano Pires.

Fora a estratégia de preços, Petrobras e Pemex são vítimas de administrações para lá de incompetentes. No Brasil, a Petrobras foi parte da política econômica do governo, e mais tarde, se tornaria o epicentro de um dos maiores esquemas de corrupção da história. No México, a Pemex – que responde por um terço da arrecadação de impostos mexicana – também é uma ferramenta para as mais variadas políticas públicas do governo. O roteiro é o mesmo: bilhões saem do caixa da empresa para financiamento de outros setores do Estado. O resultado é conhecido.

Fundada em 1938, a Pemex é 100% estatal, ao contrário da Petrobras, que tem 725.000 acionistas. A empresa nasceu após o presidente Lazaro Cárdenas decretar a expropriação de 17 petroleiras estrangeiras que operavam no país à época. Até 2013, a companhia detinha o monopólio de exploração no México, mas a participação do setor privado passou a ser permitida na gestão do atual presidente, Henrique Peña Nieto. Por aqui, o governo interino de Michel Temer tenta passar no Congresso uma medida que desobrigaria a Petrobras de atuar com 30% de participação em todos os consórcios do pré-sal.

Para os mexicanos, a importância da Pemex – e, consequentemente, seu controle pelo governo – é ainda maior que no Brasil. “O governo mexicano tira mais dinheiro da Pemex do que o nosso governo tira da Petrobras, não há uma visão de tornar a empresa competitiva. Na Petrobras, historicamente, essa visão existe”, afirma Edmilson Santos, professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP.

O futuro da Pemex

Nesse cenário, a produtividade da Pemex não cresce há 11 anos. Em 2015, a empresa produziu 2,3 milhões de barris por dia, ante 2,4 milhões em 2014. O Golfo do México representa a principal fonte de extração da estatal. Ao contrário do que acontece no pré-sal brasileiro, a extração é majoritariamente em superfícies rasas. Descobertas recentes em águas profundas, como as do campo de Maximimo, em 2010, trouxeram uma expectativa de tempos melhores, mas, mesmo com bilhões investidos em prospecção as reservas são escassas.

“A redução nos volumes produzidos pela Pemex também se deve ao declínio das áreas atualmente em produção, que já são bastante maduras. Uma combinação duplamente negativa de menores preços e menor volume levou ao resultado negativo em 2015”, afirma Andre Garcez Ghirardi, professor da Universidade Federal da Bahia e ex-assessor da presidência da Petrobras.

Como era de se esperar, a Pemex não está confortável com os rombos astronômicos. Em fevereiro, a companhia trocou de comando com a chegada do novo presidente, José Antonio González, ex-economista sênior do Banco Mundial. A ordem, agora, é pisar no freio e vender ativos: o orçamento para 2016 sofreu corte de 5,5 bilhões de dólares em investimentos.

Mas a conta também está ficando para a viúva: Peña Nieto anunciou, em abril, um socorro de 73,5 bilhões de pesos (4,2 bilhões de dólares) para a Pemex. Como a expectativa do Banco Mundial e de agências de risco é que o preço do petróleo deve fechar o ano na casa dos 40 dólares, é bom se preparar para enviar novos botes salva-vidas.

(Carol Oliveira)

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