A pandemia fez a abertura de PMEs crescer 42% nos Estados Unidos, mas o boom deve acabar. Entenda
Mais de 5 milhões de novos pedidos de abertura de negócios foram registrados em 2022, um aumento de 42% em relação aos níveis pré-pandêmicos, mas há muitas incertezas daqui para frente
Bloomberg Businessweek
Publicado em 12 de agosto de 2023 às 08h04.
Durante a pandemia, as contas bancárias dos americanos aumentaram por conta do dinheiro distribuído pelo governo, além de terem economizado por não poderem fazer refeições fora ou mesmo sair de férias.
Misture-se isso a uma boa dose de divulgação impulsionada pela mídia social sobre a facilidade de se criar uma empresa, juntamente com a exibição de programas como Shark Tank, multiplicando-se com uma pitada dos sonhos inspirados em Musk e Bezos de se tornar o próximo bilionário do século, e o resultado é um boom na formação de pequenas empresas.
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- Em 2021, os EUA registraram um recorde de 5,4 milhões de registros de abertura destartups, mostram os dados do censo.
- Dois anos depois, o efeito continua, pois a inflação estimula muitos americanos a buscarem uma atividade paralela e a aceleração do comércio eletrônico e do trabalho remoto torna mais fácil do que nunca criar uma empresa.
- Mais de 5 milhões de novos pedidos de abertura de negócios foram registrados em 2022, um aumento de 42% em relação aos níveis pré-pandêmicos.
- "As pessoas querem liberdade", diz Karen Jenkins, consultora de gestão independente na Carolina do Sul. "Elas querem assumir o controle de suas vidas e estão dispostas a correr mais riscos."
Há espaço para as novas PMEs?
Isso é uma boa notícia para a economia dos EUA, porque as mais de 30 milhões de pequenas empresas do país foram responsáveis por quase dois terços dos novos empregos de 1995 a 2021, de acordo com a Câmara de Comércio dos EUA.
Menos evidente é quantas dessas empresas recém-formadas sobreviverão e prosperarão. Os dados do censo mostram registros de empresas que não estão necessariamente em funcionamento.
É muito mais difícil abrir uma empresa que contrate pessoal, gere receita e obtenha lucro, evidenciado pelas centenas de milhares de startups que fracassam todos os anos ou nunca saem do papel.
Para mais da metade das pequenas empresas, o aumento nos preço dos insumos continua sendo a principal preocupação, de acordo com o Índice de Pequenas Empresas da MetLife e da Câmara de Comércio dos EUA, com quase metade dos entrevistados em uma pesquisa do segundo trimestre dizendo que tomaram um empréstimo no ano anterior para cobrir custos mais elevados.
"A inflação certamente deu uma mordida", diz Jim Holcomb, diretor executivo da Câmara de Comércio de Michigan. "Vemos pessoas cortando algumas das compras menores, e é aí que muitas dessas pequenas empresas atuam."
Os aumentos das taxas de juros do Federal Reserve também cobraram seu preço, tornando mais caros empréstimos bancários — e o presidente do Fed, Jerome Powell, alertou que as taxas podem subir ainda mais.
Na pesquisa da Câmara de Comércio, metade das empresas consultadas disse que o aumento das taxas levou-as a atrasar os planos de expansão.
Quais são os desafios aos novos negócios
O crescimento acontece apesar dos estruturais e demográficos desafios que as pequenas empresas enfrentavam antes mesmo da pandemia.
- Com o desemprego no fundo do poço — em fevereiro atingiu 3,4%, o nível mais baixo desde 1969 — os empresários precisam se esforçar para contratar trabalhadores qualificados.
- Dificuldades em encontrar creches podem complicar as coisas para proprietários e funcionários.
- E à medida que a população envelhece, mais pessoas estão se aposentando, diminuindo ainda mais a força potencial de trabalho e muitas vezes tornando mais caro contratar aqueles que permanecem no mercado.
Antes da pandemia, "tínhamos visto taxas estagnadas de criação de empresas, e uma das principais razões era a mudança demográfica – uma população mais lenta e envelhecida", diz Dane Stangler, que estuda pequenas empresas no Centro de Política Bipartidária, um think tank em Washington, DC.
Um grande fator para o crescimento sustentado é uma explosão de recursos on-line que tornam mais fácil do que nunca para aspirantes a empreendedores se animarem.
Uma década atrás, proprietários de pequenas empresas talvez precisassem de "um MBA para descobrir as coisas, mas agora pode-se obter gratuitamente 99% desse conteúdo no YouTube", diz Thomas Rhodes, sócio da Rhodes Cos., empresa que fornece lembranças de formaturas escolares na Carolina do Sul.
E configurar uma operação de comércio eletrônico costumava exigir a contratação de desenvolvedores e codificadores, o que normalmente levava meses e milhares de dólares. Hoje em dia, "consegue-se tudo isso em 15 minutos", pois uma infinidade de sites oferece esses serviços, diz Rhodes.
Como as minorias estão se beneficiando
Entre os principais impulsionadores do aumento estão as mulheres e os afro-americanos. Em 2021, 49% dos novos proprietários de empresas eram mulheres, acima dos 29% antes da pandemia, de acordo com o Gusto, provedor de serviços de folha de pagamento para pequenas empresas.
E a parcela de empreendedores que se identificam como afro-americanos triplicou de 3% em 2019 para 9% em 2021, sugerindo que o boom das startups está eliminando a desigualdade que assombra as grandes empresas há décadas.
"Essa mudança representa uma grande oportunidade para um novo grupo de empreendedores participarem dos benefícios da propriedade do negócio, para obter maior controle sobre sua vida profissional", diz o economista da Gusto, Luke Pardue.
Essas novas empresas estão encontrando apoio em uma economia que cresceu mais rápido do que o esperado no segundo trimestre, graças à desaceleração da inflação e à forte resiliência dos consumidores e empresas.
Uma pesquisa da Federação Nacional de Negócios Independentes, um grupo de lobby, constatou que 40% dos proprietários esperam melhores condições de negócios, refletindo o otimismo de que os Estados Unidos podem simplesmente controlar a inflação sem desencadear uma recessão.
"É positivo para a economia que haja tantas pessoas interessadas e pensando em abrir um pequeno negócio”, diz Holly Wade, diretora executiva de pesquisa da Federação Nacional de Empresas Independentes (NFIB) “Esse é um sinal muito bom e saudável."
Tradução de Anna Maria Dalle Luche.