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A mudança de ares do Airbnb

Thiago Lavado  Qual é a hora certa de expandir o modelo de negócios? Para as maiores companhias de tecnologia do mundo, a resposta, cada vez mais, é: muito antes de o consumidor achar que é preciso. A varejista online Amazon vem aproveitando o bom momento, com os melhores lucros da história, para aumentar sua presença […]

OFICINA DE CERÂMICA EM LOS ANGELES: o Airbnb quer que as pessoas comecem a oferecer, além de suas casas, seus hobbys na plataforma / Divulgação

OFICINA DE CERÂMICA EM LOS ANGELES: o Airbnb quer que as pessoas comecem a oferecer, além de suas casas, seus hobbys na plataforma / Divulgação

DR

Da Redação

Publicado em 29 de novembro de 2016 às 14h42.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h12.

Thiago Lavado 

Qual é a hora certa de expandir o modelo de negócios? Para as maiores companhias de tecnologia do mundo, a resposta, cada vez mais, é: muito antes de o consumidor achar que é preciso. A varejista online Amazon vem aproveitando o bom momento, com os melhores lucros da história, para aumentar sua presença no varejo físico. A rede social Facebook alcança números recordes de usuários, mas vem expandindo e comprando cada vez mais concorrentes. Agora, chegou a vez do AirBnb, maior site de casas e quartos do planeta, expandir seu negócio para outras pradarias. 

O site, criado em 2008 pelos designers e empreendedores Brian Chesky e Joe Gebbia, que colocaram um quarto de seu próprio apartamento para alugar, vive um dos melhores momentos de sua história. Foram 900 milhões de dólares em faturamento no ano passado. Em agosto, o site recebeu um novo aporte de capital, de 850 milhões de dólares, que elevou seu valor de mercado para 30 bilhões de dólares, 10 bilhões a mais do que a rede hoteleira mais valiosa do mundo, a Marriott International. Em oito anos de funcionamento, o Airbnb já alcançou mais 2,5 milhões de locais listados, em 34.000 cidades de mais de 190 países, com mais de 100 milhões de hóspedes por ano.

Na semana passada, o presidente do Airbnb, Brian Chesky, anunciou que continuará focado em seu ganha-pão: aluguel de casas e quartos residenciais para viajantes. Mas também vai passar a vender “pacotes de experiências” e dicas de viagem, em um programa novo que chamou de Trips. “Se você tem uma paixão, um interesse, um hobby, você pode dividir a sua comunidade com outras pessoas ao redor do mundo”, disse. A novidade é condizente com o posicionamento que a companhia tenta fazer, incentivando para que as pessoas “vivam” onde vão, ao invés de apenas visitar.

A nova ferramenta tem duas frentes: Lugares e Experiências. Na primeira, o Airbnb se responsabiliza por serviços tradicionais. A companhia publica em sua plataforma dicas e listas de lugares e passeios que grandes personalidades fazem com frequência onde vivem. Quer ir surfar em Malibu? O maior surfista do planeta, Kelly Slater, dá as dicas das melhores praias e até do mercado de produtos orgânicos onde faz compras. A ideia é selecionar pessoas influentes para apresentar lugares desconhecidos das cidades. O serviço, gratuito, visa solucionar um problema comum aos guias de viagem: a ideia de que os moradores locais nunca fazem o que está listado em guias. Os dados da empresa apontam para uma necessidade do serviço, já que 79% dos viajantes querem explorar bairros autênticos e 91% deles querem sentir como é viver como um local.

A segunda parte, experiências, é o que marca a verdadeira mudança na companhia. Antes uma plataforma para encontrar um bom, barato e singular substituto para hotéis, agora o Airbnb se propõe a ser uma alternativa às agências de viagens e aos passeios turísticos mais comuns. E, claro, ganhar com isso. Entre as cerca de 500 opções atualmente disponíveis estão desde participar de um show de dançarinas burlescas em Londres, acompanhar um fotógrafo pela vastidão geográfica ao redor de Nairobi, caçar trufas com um cão farejador em Florença e até conhecer um legítimo fabricante de espadas samurai em um distrito de Tóquio.

“Temos um time de cerca de 200 pessoas que trabalharam exclusivamente no desenvolvimento do projeto, mas com o Trips essencialmente se tornando foco do nosso negócio, é provável que cada funcionário nosso se envolva com ele de alguma maneira”, diz Leonardo Tristão, diretor geral do Airbnb no Brasil. Por enquanto, são 12 cidades atendidas pela nova empreitada, mas a companhia quer expandir para 51  até o final de 2017, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro, e aumentar o número de experiências. O número de parcerias com outras empresas também deve aumentar: já foi feita uma com a startup de reserva de restaurantes Resy, que permite que os usuários do Airbnb utilizem a plataforma para reservar uma mesa.

Inovando ou copiando? 

O preço das experiências é salgado: varia entre 600 e 1300 reais, podendo durar de 2 a 4 dias, com cerca de 10 participantes na média. As margens do Airbnb também são maiores nas Experiências, o Airbnb fica com 20% do valor cobrado por quem oferta o serviço, ante uma fatia de 3% dos donos de quartos e imóveis — a exceção são as Experiências oferecidas por ONGs, que são livres de custos.

De uma maneira peculiar, as experiências diferem da noção de “fazer o que um local faz”. Afinal de contas, não é todo dia que um morador de Tóquio acompanha um fabricante de espadas samurai ou um residente de Miami passa o dia com um cuspidor de fogo profissional.

Ainda assim, o curioso mercado de experiências e de engajamento está em expansão mundo afora. Uma pesquisa da San Francisco State University, nos Estados Unidos, revelou que as pessoas são mais felizes quando gastam dinheiro em experiências, não em pertences.

Para Jorge Nahas, presidente da empresa O Melhor da Vida, que atua há 12 anos vendendo experiências no Brasil, de jantares em restaurantes de São Paulo a rafting em Santa Catarina, o mercado de experiências está em expansão, mas requer muita preparação. “É preciso de uma equipe muito grande para fazer a seleção dos parceiros, amarrar as pontas necessárias e renovar os catálogos de experiências”, afirma. 

É, em suma, um ramo mais difícil de operar do que o aluguel de residências e não está claro como o Airbnb deve encarar a concorrência. Companhias consolidadas no ramo, como a rede de consulta de viagens TripAdvisor ou a agência de viagens digital Travelocity, que vende da passagem aérea ao que fazer no destino, devem se mostrar fortes concorrentes frente ao Airbnb. As agências de viagens tradicionais também estão acostumadas a vender pacotes com atrações locais há décadas. É território desconhecido para o Airbnb que antes era um expoente da economia de compartilhamento.

 

Em 2015, durante um episódio do programa televisivo Shark Tank: Nadando com Tubarões, o investidor e dono da administradora de capitais Lowercase Capitals, Chris Sacca, disse que perdera a chance de investir no Airbnb durante seu estágio inicial, porque tinha medo da proposta. Sacca, que já trabalhou no buscador Google e era um investidor experiente do mercado de tecnologia com ações de peso como o aplicativo Uber e as redes sociais Twitter e Instagram, acreditava que o Airbnb teria problemas financeiros em lidar com hóspedes problemáticos demais — em suma, pessoas destruindo a casa dos outros. No episódio, ele se mostra arrependido dos medos do passado diante do sucesso que a companhia alçou sendo aquilo que seus consumidores precisavam que ela fosse. Se o Airbnb está seguindo seu caminho ou se aventurando por viagens desastrosas, vamos descobrir em breve.

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