A história do bilionário Antônio Ermírio de Moraes em fotos
Obsessão com o trabalho, simplicidade com as roupas e investida na política e no teatro: saiba mais sobre o dono da Votorantim, maior conglomerado privado do país
Da Redação
Publicado em 10 de maio de 2013 às 14h05.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 15h37.
Antônio Ermírio de Moraes é o rosto mais conhecido por trás do grupo Votorantim, com faturamento de 24 bilhões de reais e atuação no setor de cimento, celulose, bancos e processamento de suco de laranja. Por muitas décadas, foi ele a dar a palavra final nos negócios do grupo criado pelo pai, o engenheiro e ex-senador José Ermírio de Moraes.
O patriarca comprou as ações de uma empresa de tecelagem instalada no bairro Votorantim, em Sorocaba (SP). O empreendimento já era, de certa forma, da família: a planta pertencia ao sogro de José Ermírio de Moraes, o imigrante português Antonio Pereira Inácio.
Atravessando diferentes momentos econômicos, com transições de moedas e surgimento de crises, o grupo conseguiu crescer - e permanecer sob o controle da família. Os primeiros feitos foram a aquisição da companhia Nitro Química (1935) e a criação da Companhia Brasileira de Alumínio (1955). Na década de 80, foi a vez de o conglomerado industrial se lançar no negócio de papel e celulose e, mais tarde, no setor financeiro. Hoje, o grupo Votorantim atua em mais de 20 países.
Nome forte da companhia, Antônio Ermírio sempre foi conhecido pela aversão ao endividamento. Conta-se que em 1956 ele acabou contraindo empréstimos depois da fundação da Companhia Brasileira de Alumínio. O financiamento equivalia a 16 meses de faturamento da empresa. Na mesma época, foi acidentalmente queimado por soda cáustica ao visitar a unidade. Acabou ficando um mês de cama. O episódio teria contribuído para reforçar sua visão conservadora sobre as finanças da companhia.
A obsessão com os negócios do grupo Votorantim é outra marca registrada do empresário. Depois de estudar engenharia metalúrgica na Colorado School of Mines, nos Estados Unidos, ele trabalhou por um ano com o pai - de graça, para que fosse "testado". Os anos eram do governo de Eurico Gaspar Dutra, na década de 40, e o país ensaiava seus passos rumo à industrialização.
Na viagem de lua-de-mel com a esposa Maria Regina, em 1953, Antônio Ermírio não se desligou dos negócios, admitindo ter visitado companhias de aço na Áustria e na Alemanha.
Em 86, o empresário lançou-se candidato ao governo do estado de São Paulo pela União Liberal Trabalhista (PTB, PL e PSC). Mas acabou perdendo o pleito para Orestes Quércia, do PMDB. Na época, as eleições não contavam com segundo turno.
Da decepção com a política e o patrimonialismo - o empresário já taxou a política como "o maior dos teatros" -, nasceu a vontade de fazer arte. Antônio Ermírio escreveu três peças de teatro que mais tarde viraram livros: Brasil S.A., Acorda Brasil e S.O.S. Brasil. Na montagem da primeira peça, em 1996, ele gastou 250.000 dólares. Na época, explicou porque resolvera financiar a empreitada: “Não achei nem justo nem honesto que empresários e editores apostassem dinheiro nesta que podia ser apenas uma aventura”.
Até 2001, o empresário ocupava o topo da lista da Forbes entre os mais ricos do país. Naquele ano, sua fortuna foi avaliada em 3,5 bilhões de dólares. No levantamento mais recente, Antônio Ermírio aparece com o terceiro maior patrimônio. Os 12,7 bilhões de dólares o colocam atrás apenas de Joseph Safra (US$ 15,9 bilhões) e Jorge Paulo Lemann (US$ 17,8 bilhões).
Em entrevista à revista Veja em 2003, ele afirmou nunca ter seguido nenhuma moda em matéria de gestão "Não acredito em nenhum guru. Acredito em dois mais dois é igual a quatro. Tudo o que estiver fora disso me parece esquisito", disse. "Há uns cinco anos recebi a visita de um rapaz de uma dessas firmas de consultoria que gostam de cobrar em dólar e falar inglês. Quando o rapaz disse que tínhamos de sair do negócio de alumínio, pedi licença e não fiquei para ouvir o resto. Vem aqui dar palpite em idioma estrangeiro e ainda fala bobagem. Perdi a paciência. O fundamental é seguir a lógica, o bom senso, e ouvir as boas cabeças que você tem na empresa." E seguiu: "Não existem truques. Nossos melhores colaboradores estão conosco há várias décadas, trabalham dez horas por dia e são homens sinceros. É isso que vale. A diretoria da empresa é formada por nosso pessoal. Nunca peguei uma pessoa de fora. Ah, claro, é vital também nunca dever muito", completou.
O empresário já disse ter ficado duas décadas sem comprar nenhum terno. E que ser simples era o que permitia que ele andasse no meio do povo sem ser reconhecido. Antônio Ermírio também revelou que não andava no banco de trás do carro dirigido pelo motorista porque isso seria "muito pernóstico". E reforçou que considerava o luxo excessivo uma bobagem. Uma das filhas - o empresário teve cinco homens e quatro mulheres - confirmou a fama do pai. Em declaração à imprensa, a publicitária Maria Regina de Moraes Waib disse que foi dele a ideia de presenteá-la com um carro usado no seu aniversário de 18 anos.
Por muitos anos, Antônio Ermírio ocupou a presidência do Hospital Beneficência Portuguesa, que atende 60% dos pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A família não é dona do hospital. Mas Antônio Ermírio colocava a mão na massa mesmo assim. Além de comandar a reunião do conselho do hospital, o empresário costumava visitar a enfermaria nos fins de semana, além de acompanhar de perto os gastos efetuados, assinando todos os cheques acima de 3.000 reais. Em maio de 2008, o empresário recebeu a Medalha de Mérito Oswaldo Cruz das mãos do então presidente Lula pelo trabalho da instituição com o SUS.
A sede histórica do maior conglomerado industrial privado do país foi instalada no centro de São Paulo, mais especificamente na Praça Ramos. E Antônio Ermírio nunca escondeu o apreço pelas andanças na região. Há alguns anos, ele foi parado na rua por um fotógrafo que pediu para tirar um retrato de empresário. E sua resposta acabou minando o intento do profissional. "Se eu fosse o Antônio Ermírio, você acha que eu estaria andando a pé na rua, sem seguranças?", disparou, escapando de ter o flagra registrado.
Antônio Ermírio não reprimia seu descontentamento com os lucros vultosos das instituições financeiras. "Fico triste ao ver que uma coisa tão fácil é mais lucrativa que algo que me tomou a vida inteira", chegou a dizer. A bem da verdade, o banco Votorantim já chegou a responder por cerca de 20% dos ganhos do grupo. A instituição foi fundada em 89 para que a área financeira do conglomerado lidasse com a inflação galopante e o vai-e-vem das commodities. Em 2009, o BB desembolsou 4,2 bilhões de reais para levar metade do Votorantim e fortalecer suas operações no financiamento de veículos. No mercado, circulam rumores a respeito do interesse do banco público em ampliar sua participação no Votorantim para 75%, permanecendo, por outro lado, com a minoria (49,99%) do capital votante da instituição.
A Votorantim também ganhou as manchetes depois de amargar perdas bilionárias com derivativos em 2008, uma situação que surpreendeu o mercado pela histórica postura de conservadorismo financeiro do grupo. Na época, a VCP, empresa de celulose do conglomerado, divulgou perdas de 2 bilhões de reais. Em 2009, a companhia se uniu à Aracruz e formou a Fibria, que já renegociou suas dívidas em duas ocasiões. Em 2012, a última linha do balanço da companhia veio no vermelho, com prejuízo de 698 milhões de reais.
Em 2001, Antônio Ermírio deixou a presidência do conselho de administração do grupo Votorantim, passando o bastão para seus filhos e sobrinhos. Na época, a dívida do conglomerado não chegava a uma vez a geração de caixa do grupo. Hoje, ela supera 18 bilhões de reais e equivale a 3,6 vezes a geração de caixa da Votorantim. Com a situação financeira mais apertada, o grupo deve encarar uma situação inédita desde que começou a publicar seus resultados, em 2006. A expectativa do mercado é que o conglomerado apresente, pela primeira vez, prejuízo no balanço, com perdas de 900 milhões a 1 bilhão de reais em 2012.
Em entrevista recente à Rádio Cultura, o amigo e sociólogo José Pastore afirmou que foram apenas os problemas de saúde que fizeram Antônio Ermírio diminuir o ritmo (Pastore lançará uma biografia sobre o empresário em junho). Até o fim dos anos 90, sua jornada era de 12 horas por dia. Antônio Ermírio, que já implantou um marca-passo no coração em 98 e retirou um tumor do intestino em 2004, sofre de Alzheimer. Afastado da ingerência direta sobre os negócios, o empresário de 84 anos deverá assistir à abertura de capital da Votorantim Cimentos, uma estratégia não considerada pela família por anos.
A ideia de ter as ações negociadas em bolsa foi colocada na mesa como maneira de injetar capital no grupo e reduzir suas dívidas. Em abril, a Votorantim Cimentos protocolou na Comissão de Valores Mobiliários um pedido de registro da sua oferta pública inicial de ações, que poderá acontecer ainda este ano. A operação deve captar de 3,5 a 4,5 bilhões de dólares.
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