Negócios

A Disney, a morte e os impostos

Só há duas coisas inevitáveis na vida, diz o ditado, e este mês o reino encantado da Disney está enfrentando ambas: a morte e os impostos. Por incrível que pareça, a morte, embora mais chocante, é um desafio mais simples. Uma semana depois do ataque de aligator (um primo do jacaré) que matou uma criança de […]

DISNEY NA FLÓRIDA: como reagir a uma tragédia que coloca seu negócio em risco?  / Carlo Allegri/ Reuters

DISNEY NA FLÓRIDA: como reagir a uma tragédia que coloca seu negócio em risco? / Carlo Allegri/ Reuters

DR

Da Redação

Publicado em 30 de junho de 2016 às 12h31.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h14.

Só há duas coisas inevitáveis na vida, diz o ditado, e este mês o reino encantado da Disney está enfrentando ambas: a morte e os impostos. Por incrível que pareça, a morte, embora mais chocante, é um desafio mais simples. Uma semana depois do ataque de aligator (um primo do jacaré) que matou uma criança de 2 anos no resort Seven Sea’s Lagoon, no dia 16, a empresa reabriu as praias do Walt Disney World, em Orlando.

Com algumas mudanças: as praias serão fiscalizadas por empregados durante o dia e fechadas à noite. (Eram 21 horas, horário em que os animais costumam se alimentar, quando o menino Lane Graves caminhava na beira da água e foi arrastado pelo aligator para o fundo do lago; o corpo foi recuperado no dia seguinte).

Logo depois do ataque, a Disney construiu cercas em volta das praias e mudou as placas de advertência do local. Antes, elas apenas avisavam que era proibido nadar. Agora, alertam para a presença de aligatores e cobras.

A empresa também demonstrou sensibilidade: de Xangai, onde inaugurava o sexto parque da Disney no mundo e o primeiro na China continental, o CEO da Disney, Bob Iger, telefonou aos pais oferecendo suas condolências, e o presidente do resort, George Kalogridis, voou de volta aos Estados Unidos para lidar com a crise. Nos parques, todas as piadas sobre crocodilos foram banidas, não se sabe por quanto tempo (nos barcos, os capitães costumavam dizer, por exemplo: “tomem conta de suas crianças, ou os crocodilos o farão”).

Também foi feita uma caçada ao animal que matou a criança. Na quarta-feira, 22, autoridades da Flórida anunciaram que o animal havia sido morto. Seis aligatores foram capturados e três deles tinham a boca de tamanho compatível com as marcas deixadas no corpo do menino, sendo que dois estavam nas proximidades do ataque. Todos sofreram eutanásia.

Além disso, a Disney reforçou a retirada de aligatores da região. “Mas você nunca vai conseguir retirar todos”, disse um caçador de aligatores que já trabalhou para a Disney. “Há muitos canais, muitas passagens.” A Flórida tem cerca de 1,3 milhão de aligatores. Eles eram uma espécie em extinção, mas a proteção ambiental os beneficiou. Em 1987, eles foram retirados da lista de espécies ameaçadas.

Pelo contrato de arrendamento da propriedade, a Disney tem direito a remover 300 animais da área no período de dez anos – especialmente os de mais de 4 metros. Na última década, retirou 240. Este ano, a empresa já removeu 15, um a menos do que no ano passado inteiro.

Apesar da profusão de animais (um deles, enorme, foi filmado recentemente andando por um campo de golfe), os ataques são extremamente raros. O último caso de que se tinha notícia era de 1989, e a criança mordida sobreviveu (“não culpo a Disney”, disse ele, já adulto, na semana passada). É possível que os bichos estejam ficando mais acostumados à presença humana, principalmente porque alguns turistas os alimentam.

A próxima providência da empresa deverá ser tomada sem alarde: o pagamento de uma indenização à família. Há dúvidas sobre a responsabilidade da Disney no caso. Contra ela há o fato de que as placas não eram tão claras quanto deveriam ser. Porém, o resort é uma reserva natural onde, naturalmente, espera-se que haja animais selvagens. Por enquanto, os pais do garoto não querem tocar no assunto, mas é do interesse da Disney resolver o caso de forma rápida e justa.

Disney vs. Apple

A segunda batalha da Disney contra coisas inevitáveis é um pouco mais complicada. No início do mês, em entrevista à CNNMoney, Bob Iger afirmou que os impostos nos Estados Unidos são muito altos e anticompetitivos. “Não quer dizer que as empresas não devam pagar impostos, mas eu acho que a estrutura está errada… a taxa básica devia ser mais baixa e os buracos na legislação deviam ser fechados.”

À primeira vista, pode soar como uma queixa normal de empresários. Mas a Disney é uma das mais responsáveis pagadoras de impostos dos Estados Unidos. Em um universo em que as empresas conseguem escapar com poucos arranhões do Fisco, a Disney pagou, no ano passado, 4,4 bilhões de dólares de imposto, para uma receita de 13,9 bilhões de dólares. Isso dá quase 32% de taxa.

Compare isso com a empresa mais valiosa do mundo. A Apple faz uso de um dos “buracos” do sistema americano – aquele que permite que uma multinacional transfira propriedades intelectuais para uma subsidiária no exterior (em algum lugar com impostos baixos ou mesmo nulos) e pague a essa subsidiária pelo seu uso. Dessa forma, os lucros da empresa ficam em sua maior parte fora do alcance do Fisco americano.

É o que acontece com a maior parte dos 216 bilhões em caixa da Apple, que transferiu boa parte de suas patentes para uma sede na Irlanda (e seu CEO, Tim Cook, já disse que não tem nenhuma vontade de repatriar esse dinheiro e sujeitar a empresa a uma mordida que pode chegar à casa dos 40%). O mesmo estratagema é usado por grande parte da indústria farmacêutica, assim como da de tecnologia.

Para esta batalha, no entanto, não bastam a mobilização de seu pessoal e a correção de deslizes. A Disney depende do Congresso – lá, como cá, uma casa sujeita aos mais variados tipos de pressão.

(David Cohen)

Acompanhe tudo sobre:Exame Hoje

Mais de Negócios

Ex-CEO do YouTube descreve luta contra o câncer em carta; leia

10 frases de Thomas Edison para inspirar futuros empreendedores

Do burnout à criação da primeira marca brasileira de roupa íntima para adolescentes

O que cinco CEOs aprenderam ao se tornarem “funcionários disfarçados”