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A classe média chega a Porto Real

Um novo tipo de morador -- e de consumidor -- habita hoje a cidade

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

Quando desembarcaram em Porto Real para iniciar as obras da fábrica, os franceses da Peugeot Citroën tinham outro grande desafio pela frente. Onde conseguir mão-de-obra especializada num estado que nunca havia abrigado uma montadora de automóveis? A saída foi convocar jovens recém-formados no ensino médio para participar do projeto. Em parceria com o Senai, foi instalada uma minilinha de montagem no prédio da entidade, em Resende, a 20 quilômetros de Porto Real. Ali foram treinados mais de 2 000 estudantes que, após dois meses de curso, saíam metalúrgicos.

Por essa razão, hoje, ao entrar na fábrica da Peugeot Citroën e nas outras indústrias do pólo, o visitante depara com operários que mais se assemelham a colegiais. A contratação dessa mão-de-obra abriu perspectiva de trabalho para os jovens da região e vem sendo a base do surgimento de uma classe média ascendente.

Um de seus integrantes é Cléber Duizit, de 23 anos, encarregado na linha de produção da Peugeot Citroën. A fábrica foi seu primeiro emprego com carteira assinada. Ele começou como auxiliar na linha de produção. Hoje faz faculdade de administração, alugou um apartamento e pretende comprar um carro. "Já estou com minha independência garantida", diz. Na linha de montagem, onde os homens são a maioria entre os 1 500 funcionários, Luciane de Carvalho, uma loura de 26 anos e riso fácil, chama a atenção. "Nunca tinha pensado em mexer com carro", diz. Hoje, a operadora, que fez curso na Peugeot argentina, diz adorar o que faz. Luciane conta que sempre encarou com bom humor as brincadeiras dos colegas que a chamavam de "loura burra". Mas chegou a pintar o cabelo de castanho-escuro para se livrar das gozações. "Depois relaxei", diz. Seu irmão também é funcionário da montadora.

Mas o impacto na renda não foi só para os funcionários. A cidade e toda a região vivem dias de prosperidade. Foi de olho nas possibilidades de negócio que o comerciante Valtair Lima, de 52 anos, da vizinha Barra Mansa, decidiu abrir uma loja de material de construção em Porto Real. "As perspectivas da cidade são as melhores possíveis", diz Lima. Antes da chegada das fábricas, não havia restaurantes na cidade. Hoje existem nove. Porto Real ganhou hotel, fórum, três farmácias, um jornal. A prefeitura está construindo uma nova sede. Já levantou também uma maternidade, um hospital e multiplicou redes de água e esgoto, calçamento e asfalto. "Entra-se num círculo virtuoso", diz Waldir Peres, diretor da Fundação Cide. "Começam a surgir novos serviços para atender uma nova classe média."

Penedo, o distrito turístico da região, de origem finlandesa, também sente os ares da mudança. A maioria dos executivos franceses da Peugeot prefere morar na cidade, com infra-estrutura turística. O resultado é que os hotéis estão sempre cheios. "Ficamos um ano com a casa fechada só para os franceses", diz Luís Augusto Rodrigues, dono do hotel Hibiscus. Em Penedo, alguns restaurantes já têm cardápio em francês. "É ótimo tê-los por aqui", diz o garçom Marcelo Gomes, do restaurante Costa. "Eles gastam muito e dão ótimas gorjetas."

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