A bilionária venda do laticínio Itambé azedou
A 1ª Vara Empresarial de SP suspendeu, na última sexta-feira, a compra da marca de laticínios mineira Itambé pela multinacional francesa Lactalis
Gian Kojikovski
Publicado em 18 de dezembro de 2017 às 16h46.
Última atualização em 19 de dezembro de 2017 às 18h59.
A 1ª Vara Empresarial de São Paulo suspendeu, na última sexta-feira, a compra da marca de laticínios mineira Itambé pela multinacional francesa Lactalis, maior do mundo no setor. A decisão foi tomada com base em um pedido feito pela brasileira Vigor, que detém 50% da empresa.
Os outros 50% são da Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR). Para a Justiça, a CCPR pode ter violado a cláusula do acordo de acionistas ao negociar com a Lactalis sem dar o direito de preferência de compra para a Vigor, conforme o acordado.
A CCPR disse, por meio da assessoria de imprensa, que não comenta o caso, que está em segredo de Justiça. EXAME apurou que a cooperativa vai recorrer da liminar e tomará outras medidas cabíveis tanto na área judicial como na arbitral, onde o contrato entre CCPR e Vigor previa a resolução de conflitos.
A Vigor, que pertencia ao Grupo J&F, foi comprada pela mexicana Lala Foods em agosto em uma transação que também incluía a compra dos 50% da Itambé pertencentes à CCPR. O valor total era de 5,725 bilhões de reais. Nesse montante, 1,4 bilhão eram destinados a comprar 100% da Itambé – 700 milhões para a Vigor, e 700 milhões para a CCPR.
Mas, pelo acordo de acionistas assinado entre J&F e CCPR, qualquer das partes tinha direito de recompra pelo mesmo valor oferecido por um interessado. Resultado: a cooperativa negou-se a vender sua parte e confirmou que iria adquirir o que pertencia à sócia por 700 milhões.
Até aí tudo bem. Mas um dia depois de consumar o acordo, em 4 de dezembro, a cooperativa mineira vendeu 100% da Itambé para a Lactalis. Embora o valor não tenha sido divulgado, a estimativa é de que ele tenha girado em torno de 1,9 bilhão – ou seja, com um acréscimo de 500 milhões de reais em 24 horas. Em 2013, a Vigor adquiriu 50% da Itambé por 410 milhões de reais, avaliando a empresa em 820 milhões de reais.
O processo corre em segredo de Justiça. Um executivo próximo ao assunto disse a EXAME que causou desconfiança o fato de o negócio entre CCPR e Lactalis ter sido fechado tão pouco tempo depois do pagamento feito à antiga sócia. Por contrato, a CCPR também estaria vedada de realizar a venda para outra empresa do setor sem dar o direito de preferência para a Vigor, que alega isso em seu pedido. O juiz Luis Felipe Ferrari Bedendi levou esse acordo de acionistas em conta ao conceder a liminar.
Para completar o quiproquó, quando a J&F colocou a Vigor à venda, no primeiro semestre, a Lactalis estava entre as interessadas e assinou um acordo confirmando que não faria proposta por nenhuma das empresas das quais a marca brasileira era sócia. Isso impediria a multinacional francesa de apresentar propostas diretamente pela Itambé por dois anos.
A Vigor foi colocada à venda pela holding dos irmão Joesley e Wesley Batista em maio, depois que a delação premiada de ambos veio à tona e colocou o futuro do grupo em risco. O objetivo era gerar caixa para manter a operação do negócio de carnes saudável. Em julho, o grupo também vendeu a Alpargatas, dona da marca Havaianas, por 3,5 bilhões de reais.
A disputa jurídica que entre Vigor, Lactalis e CCPR não tem data para acabar.