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Sem data para acabar (Sxc.hu)
Luísa Melo
Publicado em 7 de outubro de 2014 às 09h45.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 15h01.
São Paulo - Deixar que os funcionários decidam quando e por quanto tempo querem tirar férias pode parecer irresponsável, mas a ideia tem ganhado cada vez mais adeptos entre empresas lá de fora. Em setembro, foi a vez do bilionário Richard Branson, dono do Virgin Group, anunciar que adotará a política.
Para Leni Hidalgo, professora de liderança do Insper, a folga ilimitada pode ser convertida em produtividade na indústria criativa (setor das companhias que têm abraçado a medida), mas não funciona para outras áreas.
"Negócios de criatividade e de inovação demandam autonomia, mas isso não cabe para segmentos de operações industriais e serviços. Duvido que essa flexibilidade ocorra em um hotel, por exemplo, porque seria necessário compensar as ausências".
Segundo ela, por conta da crise de falta de talentos na Europa e nos Estados Unidos, as empresas desses lugares tendem a conceder benefícios mais flexíveis na tentativa de reter as pessoas, mas essa moda ainda está longe de pegar no Brasil. "Precisaríamos de um nível de avanço tecnológico e de produtividade maiores do que a gente tem aqui", afirma.
Entre as empresas de grande porte, a Netflix foi uma das pioneiras em permitir que sua equipe tire férias por quanto tempo quiser. A prática existe oficialmente na companhia desde 2002, quando ela teve o capital aberto.
"Os empregados assalariados foram orientados a tirarem o tempo que eles sentiam que era apropriado. Chefes e funcionários foram solicitados a trabalhar nisso uns com os outros", escreveu Patty McCord, à época diretora de talentos da Netflix, na Harvard Business Review.
A política só não foi adotada para os trabalhadores dos call centers e dos depósitos, que são pagos por hora. Porém, mesmo para os demais, há regras: quem atua no setor financeiro e de contabilidade não pode tirar folga no começo e no fim dos trimestres, por causa do fechamento dos balanços. E quem deseja tirar 30 dias consecutivos precisa da aprovação do RH.
Inspirado na iniciativa da Netflix, Richard Branson, dono do Virgin Group, anunciou em seu site que adotará a "não política" de permitir que seus funcionários tirem férias quando e por quanto tempo quiserem. A postagem foi feita no último dia 23 de setembro.
A medida valerá para os empregados de seus escritórios pessoais nos Estados Unidos e no Reino Unido (que empregam cerca de 170 pessoas, segundo o The Guardian). Caso a experiência dê certo, a Virgin deverá "seguir o mesmo caminho".
Conforme o empresário escreveu, caberá a cada pessoa decidir se precisa tirar algumas horas, um dia, uma semana ou um mês de descanso. A única condição para ter acesso ao benefício é estar com os prazos em dia. "Não há necessidade de aprovação prévia e não é esperado que os trabalhadores nem os gerentes tenham controle sobre os dias fora do escritório", disse.
Na Evernote, além de os funcionários poderem tirar férias ilimitadas, eles ganham 1.000 dólares para desfrutá-las. A ideia de pagar para que a equipe descanse surgiu porque, mesmo com a política flexível, muitos empregados da companhia optavam por não ter folgas.
"Eu não quero que as pessoas não tirem férias, porque isso simplesmente não é bom para elas, e é ruim para mim. Você não vai conseguir muito trabalho de alguém que não tira férias há um bom tempo", contou Phil Libin, presidente da empresa, ao The New York Times.
Por lá, para conseguir uma folga, os trabalhadores só precisam comunicar a equipe e estar com todas as tarefas em dia. "Nós queremos tratar nossos funcionários como adultos, e não queremos que estar no escritório pareça uma punição", disse Libin. A medida é adotada na Evernote desde, pelo menos, 2012.
Na produtora de games Valve também não há controle sobre quantos dias os funcionários precisam se afastar do trabalho por doença ou folgas.
"Nós simplesmente dizemos às pessoas que se confiamos nelas para tantas outras decisões, é claro que vamos confiar para gerenciar seu próprio tempo", disse Gabe Newell (foto), cofundador e presidente da empresa, ao The Washington Post, em janeiro.
Segundo ele, controlar quanto tempo os empregados gastam em férias ou licenças médicas é uma questão "realmente secundária" na companhia.
Em dezembro de 2013, o diretor de comunicação e marketing da Motley Fool, Matthew Trogdon, contou ao site da CNN que a empresa também não controla a quantidade e o tempo de duração das férias de seus empregados.
Segundo ele disse, a companhia norte-americana de serviços financeiros nem sequer sabe informar se seus funcionários passaram a tirar mais folgas depois da adoção da política, já que ninguém tem controle sobre isso.
"Eu acho que todo mundo passa por um período de choque no começo", disse Trogdon. "Mas as pessoas se adaptam bem rápido".
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