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3. Maria Silvia Bastos Marques - Presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Considerada pela revista Fortune uma das mulheres mais influentes do mundo dos negócios

Para onde ruma a globalização no momento em que alguns países começam a se fechar para o resto do mundo?

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h25.

A senhora parte do princípio de que a globalização é um acontecimento ECONÔMICO - e é assim que muitos governos pensam, inclusive o dos Estados Unidos. Mas ela é, antes de mais nada, um acontecimento PSICOLÓGICO. É a aceitação, por praticamente todo o mundo de hoje, (a única exceção é, provavelmente, a África ao sul do Saara), dos valores, aspirações, expectativas e estilo de vida da classe média ocidental como a "norma". Esse é o estágio final de algo que começou há 80 anos, logo depois da Primeira Guerra Mundial, com a primeira REVOLUÇÃO DA INFORMAÇÃO desde a invenção da imprensa, em 1455: o CINEMA. O cinema foi o primeiro tipo de informação que atravessou todas as fronteiras e era acessível aos camponeses e aos pobres em todo o mundo. Os primeiros grandes filmes mudos, como os de Harold Lloyd ou Charlie Chaplin, foram exibidos em Lhasa, no Tibete - não apenas para o Dalai Lama, mas na maioria dos mosteiros -, seis meses depois de ter sido lançados. É claro que o telégrafo e o telefone também eram mundialmente difundidos, mas, na maioria dos casos, só eram acessíveis a uma pequena elite mais rica e, assim mesmo, apenas em países bastante desenvolvidos (o governo suíço decretou, por volta de 1925, que deveria haver UM telefone para cada 40 famílias, em cada bairro, em caso de mobilização! - e a Suíça, naquela época, era provavelmente o país mais rico do mundo). Com a INTERNET - mas também (e ainda mais) com a televisão e os telefones portáteis -, praticamente todos hoje em dia, a não ser os que estão em áreas distantes e isoladas, são parte de uma comunidade mundial de informação. E isso é a GLOBALIZAÇÃO.

Conseqüentemente, todo mundo hoje - até mesmo o camponês mais pobre de uma aldeia na Índia, perto de Madras ou Bangalore - se confronta e se compara com os padrões, valores e expectativas do mundo desenvolvido. Isso também vale - talvez mais ainda - para expectativas relacionadas a produtos e serviços: seu preço, sua qualidade, seu design e assim por diante. Em termos econômicos, provavelmente iremos enfrentar um PROTECIONISMO crescente - ou seja, a consolidação de grandes blocos (Nafta, União Européia, talvez o Mercosul - embora este na verdade não adicione muito ao mercado brasileiro). A CHINA está evoluindo rapidamente para uma confederação de grandes economias regionais, uma centrada em Pequim/Tianjin, outra centrada em Xangai, uma terceira em Ghuangzu/Hong Kong, outra em torno de Xian, outra ao redor de Taiwan e assim por diante.

Cada uma dessas regiões provavelmente se tornará altamente protecionista, nem que seja para proteger as manufaturas, que vêm declinando com rapidez como fonte de riqueza e empregos em todo o mundo (algo semelhante ao declínio da agricultura desde 1950). Mas não há proteção contra o fluxo da INFORMAÇÃO, e a COMPETIÇÃO é cada vez mais determinada pelas informações disponíveis. Todos, em qualquer lugar, conseguem ver e vêem o que está disponível em qualquer parte do mundo. Para dar um exemplo, um dos meus amigos brasileiros recentemente viajou do Brasil para a Europa, via Miami-Chicago-Nova York. Ele voou do Brasil para Miami por uma companhia brasileira. Mas comprou sua passagem - incluindo o vôo de volta, de Frankfurt para o Brasil - pela internet, e encontrou a passagem mais barata numa agência de viagens canadense, localizada em Montreal. Meu amigo comprou sua passagem naquela agência por um preço 40% menor do que a cotação da agência brasileira. Minha filha mais velha, que mora em Boston, dá aulas há 20 anos em universidades francesas, seis meses por ano. Ela está indo para a França logo depois do Natal - primeiro Paris e depois Tours - para começar as aulas na primeira semana de janeiro. Comprou sua passagem numa agência em São Francisco - e, novamente, encontrou-a na internet por um terço a menos do que a Air France oferecia. Não faz absolutamente NENHUMA diferença o fato de uma empresa - seja ela produtora de bens ou de serviços - estar num país desenvolvido ou num país em desenvolvimento. Aliás, a competição mais dura ocorre provavelmente entre países desenvolvidos.

Todo dia, por exemplo, milhares de canadenses cruzam a fronteira em direção aos Estados Unidos para se submeter a cirurgias em hospitais americanos. No Canadá, as cirurgias são gratuitas - pagas por um serviço de saúde financiado pelo governo. Mas, como o serviço de saúde canadense tenta conter gastos pagando mal os médicos, há espera de até nove meses por uma cirurgia. Os hospitais americanos são caros - mas você é atendido imediatamente. Ao mesmo tempo, todo mês, centenas de mulheres grávidas dos estados americanos do norte cruzam a fronteira para ter seus filhos no Canadá. Nos Estados Unidos, o serviço de saúde cobre cerca de dois terços do custo. No Canadá, o Estado paga tudo. Uma das grandes implicações disso - particularmente importante num país com uma história de protecionismo tão longa quanto a do Brasil - é que o protecionismo não protege mais. Mesmo que consiga rechaçar produtos e serviços de outros países, você não consegue rechaçar a informação.

Um exemplo americano. Existe, no mundo inteiro, uma supercapacidade de processamento de aço - um resultado da política do Banco Mundial nos anos 60 e 70 do século passado, pela qual foi financiada uma grande usina siderúrgica em cada país (até mesmo em lugares como o Peru, onde não há minério de ferro nem reservas de carvão ou calcário). E grandes países - especialmente a Alemanha, a França e a Holanda - relutaram em dispensar operários ou fechar siderúrgicas obsoletas. Conseqüentemente, produtores de aço europeus ofereceram aço nos Estados Unidos a preços muito baixos - bem abaixo do custo real de produção. O governo Bush reagiu cobrando tarifas extras sobre esse dumping dos exportadores de aço europeus. Mas os principais consumidores americanos - especialmente a indústria automobilística - se recusam a pagar pelo seu aço mais do que os europeus cobram, mesmo que não possam - por causa das tarifas americanas - obter aquele aço por aqueles preços. Eles SABEM qual é o preço mundial desse produto hoje em dia e não querem pagar nada acima disso pelo simples motivo de que têm de ser competitivos diante dos preços no resto do mundo - e o aço é um dos principais fatores no custo dos automóveis.

As principais implicações dessa situação são: (a) seus preços e sua qualidade - e os seus serviços - têm de ser "mundialmente competitivos", pois seus clientes não irão aceitar nada diferente disso; (b) você provavelmente terá de negociar uma aliança ou uma parceria com uma empresa estrangeira, especialmente para obter acesso IMEDIATO à TECNOLOGIA em evolução; e (c) terá de organizar a sua INFORMAÇÃO para ser, como acabei de dizer, GLOBALMENTE COMPETITIVO, mesmo que o seu mercado seja puramente local ou regional e aparentemente esteja totalmente protegido. VOCÊ NÃO ESTÁ COMPETINDO COM PRODUTOS OU SERVIÇOS. ESTÁ COMPETINDO COM A INFORMAÇÃO!

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