Zika vírus: os especialistas da OPAS estimam que o vírus tenha chegado ao continente em algum momento de 2014, "possivelmente proveniente de ilhas do Pacífico" (Thinkstock/Damrongpan Thongwat)
Da Redação
Publicado em 20 de janeiro de 2016 às 07h18.
O zika vírus já está presente em praticamente toda a América Latina e no Caribe, e a prioridade absoluta é fortalecer o combate ao mosquito do gênero Aedes aegypti, alertou nesta terça-feira à AFP um especialista da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS).
"O primeiro caso foi confirmado no Brasil em maio de 2015, e desde então já se propagou por todo o continente de forma muito rápida. Em outubro já estava na Colômbia e no Cone Sul, e depois na América Central", disse Sylvain Aldighieri, chefe do departamento de Doenças Transmissíveis da OPAS.
Os cinco casos confirmados de infecção pelo vírus no Haiti "mostram que o vetor de transmissão da doença já está presente também no Caribe", acrescentou. E os casos foram registrados também na Martinica.
Os especialistas da OPAS estimam que o vírus tenha chegado ao continente em algum momento de 2014, "possivelmente proveniente de ilhas do Pacífico", comentou Aldighieri.
Nesta terça-feira, a Bolívia confirmou um caso autóctone de zika, e na Colômbia já se registraram mais de 11.000 casos confirmados. Na sexta-feira, os Estados Unidos alertaram as mulheres grávidas para que evitem viajar a 14 países da América Latina e do Caribe.
Essa rápida disseminação do vírus em toda a região, disse Aldighieri, é explicada principalmente pela presença do mosquito Aedes aegypti na maior parte do continente, com exceção do Canadá e partes do Chile continental.
"Esse mosquito é claramente um gênio da adaptação e encontrou um nicho perfeito no continente" para se desenvolver, disse o especialista.
Este mosquito é o vetor de transmissão do vírus da dengue, do Chikungunya e da febre amarela, e agora também distribui o zika.
"O risco é o mesmo para todos os países da região, porque o mosquito está presente em todos eles e, portanto, gera os mesmos desafios que a epidemia de dengue", explicou Aldighieri.
O especialista disse à AFP que a "prioridade absoluta é a luta contra o vetor. Isso inclui médicos bem preparados, enfermeiros bem treinados e grupos capacitados para identificar áreas onde o mosquito está presente e atuando para sua eliminação".
No Brasil, mais de 3.500 casos de microcefalia foram registrados entre outubro de 2015 e neste mês de janeiro, no período de maior incidência do vírus zika.
A análise de quatro destes casos mostra que os bebês estavam infectados com zika enquanto estavam no útero e que o vírus chegou aos seus cérebros. Dois destes casos terminaram em abortos espontâneos e os outros dois na morte dos bebês pouco depois de nascer.
"O ministério da Saúde e acadêmicos brasileiros têm estudado essa relação com muito cuidado", disse o especialista, que observou a existência de uma "coincidência temporal e espacial" entre o vírus e os casos clínicos relatados.
Os especialistas observam que em 2015 o Brasil teria tido 1,5 milhão de casos prováveis de dengue, o que equivale a um salto de 176% em relação a 2014.