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Yoshihiko Noda, um estadista para sanear as contas do Japão

Conhecido por sua defesa da disciplina fiscal, o ministro japonês das Finanças se tornou hoje o primeiro-ministro do país

A fórmula de Noda para superar o principal desafio que o aguarda é praticar uma alta de impostos que ajude a custear a reconstrução e sirva para sanear o déficit e a dívida do país (Chung Sung-Jun/Getty Images)

A fórmula de Noda para superar o principal desafio que o aguarda é praticar uma alta de impostos que ajude a custear a reconstrução e sirva para sanear o déficit e a dívida do país (Chung Sung-Jun/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 29 de agosto de 2011 às 09h04.

Tóquio - O ministro japonês das Finanças, Yoshihiko Noda, conhecido por sua defesa da disciplina fiscal no Japão, se tornou nesta segunda-feira virtual primeiro-ministro do país, ao ser eleito presidente do Partido Democrata (PD), apesar de carecer do perfil midiático de outros candidatos que concorriam ao posto.

Noda, de 54 anos, pode ser considerado um sucessor natural do até agora chefe de governo, Naoto Kan, com quem compartilha a ideia de sanear as maltratadas contas de um país que sofreu duas décadas de declive econômico e que agora deve empreender uma custosa reconstrução após o desastre provocado pelo terremoto e tsunami de março.

Filho de um militar e neto de agricultores, nasceu em Funabashi, na província de Chiba, em 1957 e se formou em Ciências Políticas e Econômicas pela prestigiosa Universidade de Waseda em 1980.

Após completar seus estudos no Instituto Matsushita de Governo e Gestão, criado pelo fundador da Panasonic para formar líderes institucionais, Noda entrou na política se alistando no início dos anos 1990 nas fileiras do Novo Partido do Japão, do ex-primeiro-ministro Morihiro Hosokawa.

No início da década passada chegou ao PD, onde foi nomeado vice-ministro de Finanças no Gabinete de Yukio Hatoyama e se tornou depois responsável pela pasta quando seu então titular, Naoto Kan, foi nomeado chefe de Governo, em junho de 2010.

Noda compartilha com Kan o fato de ser um dirigente que carece da linhagem dos pesos pesados da política japonesa e também seu distanciamento com relação ao principal barão do partido, Ichiro Ozawa, cujas posturas costumam criticar a pequena facção que ele mesmo lidera dentro do PD.

No entanto, ao contrário de Kan, Noda é um estadista de poucas palavras que quase não participa das panelinhas da Dieta (o Parlamento japonês) e que chegou a reconhecer que não espera alcançar uma grande popularidade midiática entre os japoneses, desejosos de um líder carismático há anos.


Sua fórmula para superar o principal desafio que o aguarda é a mesma que defendeu como titular de Finanças: praticar uma alta de impostos que ajude a custear a reconstrução e sirva para sanear o grande déficit e a avultada dívida pública do Japão, a maior do mundo desenvolvido ao duplicar seu Produto Interno Bruto (PIB).

Dos cinco candidatos a ocupar a Presidência do PD, ele foi o único que defendeu a alta de impostos, que desperta uma forte rejeição no seio do partido, especialmente por parte da facção liderada por Ozawa.

Por isso, pediu unidade logo após depois de saber que lideraria um partido quase tão dividido quanto o próprio Parlamento, onde por sua vez Noda não descarta a ideia de uma grande coalizão de Governo com o Partido Liberal-Democrata, principal bloco da oposição, para concretizar a reconstrução.

Além de todas estas tarefas, Noda se propôs a esclarecer o futuro nuclear do Japão após o acidente de Fukushima e solver a tendência deflacionista que afetou o país nos últimos anos e a recente valorização do iene, que prejudica a economia exportadora japonesa.

Na política externa, é defensor de manter e reforçar a tradicional aliança com os Estados Unidos, enquanto as relações com seus vizinhos da Ásia Oriental prometem ser mais complicadas.

O mal-estar se deve a polêmicas declarações, que praticamente constituem seu único deslize político, nas quais afirmou que os militares sepultados no santuário de Yasukuni de Tóquio e declarados criminosos de guerra são inocentes dessas acusações.

Noda reiterou recentemente seus comentários, realizados em 2005, o que promete suscitar as críticas dos países que estiveram sob domínio imperial japonês, como Coreia do Sul e China, cujo crescimento militar também preocupa o novo primeiro-ministro.

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