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Violentos combates ao redor do QG de Kadafi

O quartel-general do ditador estremeceu após uma forte explosão nas proximidades, o que criou uma onda de pânico entre os repórteres

Rebeldes celebram em Trípoli, mas combates perto da residência de Kadafi são cada vez mais violentos
 (Filippo Monteforte/AFP)

Rebeldes celebram em Trípoli, mas combates perto da residência de Kadafi são cada vez mais violentos (Filippo Monteforte/AFP)

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Da Redação

Publicado em 23 de agosto de 2011 às 08h31.

Trípoli - Violentos combates com artilharia pesada e foguetes aconteciam nesta terça-feira ao redor do complexo residencial do coronel líbio Muammar Kadaafi, no bairro de Bab al-Aziziya em Trípoli, comprovou a AFP.

O quartel-general do ditador fica perto do hotel Rixos, onde estão hospedados muitos jornalistas estrangeiros. O edifício estremeceu às 9h GMT (6h de Brasília) após uma forte explosão nas proximidades, o que criou uma onda de pânico entre os repórteres, que se refugiaram no subsolo.

Aviões, aparentemente da Otan, sobrevoavam a capital, cenário de muitos combates entre rebeldes e forças leais a Kadafi em bairros próximos ao hotel Rixos.

Soldados do regime protegiam o hotel, que abriga 30 correspondentes internacionais.

O Rixos permanecia sem água ou energia elétrica, que são restabelecidas apenas por uma hora durante a noite.

Para aumentar ainda mais a tensão no país, Seif al-Islam, influente filho de Kadafi, reapareceu na madrugada desta terça-feira para desmentir sua prisão e reforçar a sensação de grande confusão que reina em Trípoli, controlada em sua maior parte pelos rebeldes, que proclamaram o fim da era Kadafi.

"Estou aqui para desmentir as mentiras", declarou Seif al-Islam aos jornalistas estrangeiros no perímetro de Bab al-Aziziya, o complexo residencial do pai, em referência ao anúncio de sua detenção.

"Trípoli esta sob nosso controle. Todo mundo pode ficar tranquilo. Tudo está bem em Trípoli", disse Seif, apresentado como sucessor e porta-voz oficioso do regime, cercado por dezenas de simpatizantes.

Seif al-Islam afirmou ainda que as forças leais ao regime infligiram "elevadas perdas hoje (segunda-feira) aos rebeldes que assaltavam" a residência-quartel de Bab al-Aziziya.

O procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), o argentino Luis Moreno Ocampo, havia confirmado horas antes que recebera informações confidenciais segundo as quais Seif al-Islam, objeto de uma ordem de prisão da corte por crimes contra a humanidade cometidos na Líbia, havia sido detido pelos rebeldes.

Mas nesta terça-feira, o porta-voz do TPI afirmou que o tribunal nunca recebeu uma confirmação sobre a detenção de Seif al-Islam.

"Depois do anúncio de ontem, nos comunicamos com o Conselho Nacional de Transição (CNT) para obter a confirmação da detenção, mas jamais recebemos por parte do CNT", declarou à AFP o porta-voz Fadi el-Abdallah.

O presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafah Abdel Jalil, também afirmara na segunda-feira ter recebido informações seguras sobre a detenção de Seif al-Islam.

Mohamed Kadafi, outro filho do ditador que também teve a prisão anunciada no domingo pelos rebeldes, conseguiu escapar, de acordo com fontes rebeldes em Benghazi.


Nesta terça-feira, as forças do regime de Kadafi dispararam três mísseis Scud dos arredores de Sirte, reduto do regime, contra Misrata, cidade controlada pelos rebeldes, informou a Otan, que denunciou um "ato irresponsável".

"Podemos confirmar as informações relativas ao disparo de três mísseis terra-terra Scud a partir de Sirte", declarou à AFP a porta-voz da Otan, Oana Lungescu.

"Os mísseis caíram na região costeira de Misrata, a princípio sem provocar vítimas nem danos", completou.

"Caíram na região costeira de Misrata, muito provavelmente no mar ou na costa. Não estamos a par de danos ou vítimas".

O enviado especial da ONU para a Líbia, Abdel Ilah Jatib, revelou que o regime líbio havia solicitado sua intervenção para negociar antes da ofensiva rebelde de sábado.

"Poucos dias antes do ataque dos rebeldes contra Trípoli, autoridades líbias me solicitaram uma intervenção na ONU", declarou Jatib, ex-ministro jordaniano das Relações Exteriores ao jornal oficial Ad Destur.

"Respondi que como mediador buscava o que era aceitável para o outro lado. E o outro lado se nega a negociar qualquer coisa antes da saída de Muammar Kadafi", completou.

"Os rebeldes foram muito claros: não querem negociar antes de Kadafi ir embora", disse Jatib.

"Os dirigentes líbios interpretaram mal e subestimaram a posição internacional, pensando que com o tempo a meima perderia força ou mudaria", destacou Jatib, antes de afirmar que sua missão está perto do fim.

Os rebeldes entraram em Trípoli na noite de sábado e já controlam a Praça Verde - lugar simbólico no qual os partidários do regime costumavam se reunir - e a sede da televisão estatal, que não transmitiu sua programação diária, mas as forças leais a Kadafi ainda resistem em alguns bairros, incluindo Tajura, Suq-Joma e Fashlom.

Segundo o Centro de Imprensa dos rebeldes, reforços estão chegando a Trípoli por mar a partir da cidade de Misrata, 200 km ao leste, para garantir a tomada da capital.


O presidente americano, Barack Obama, e membros da União Europeia já dão como certa a queda de Kadafi e prometeram ajudar o futuro governo líbio.

"O regime de Kadafi está chegando ao fim. O futuro da Líbia está nas mãos de seu povo", declarou Obama na ilha de Martha's Vineyard (Massachusetts, nordeste dos EUA), onde passa férias por alguns dias com a família.

O presidente destacou que Muammar Kadafi "ainda tem a possibilidade de impedir um novo banho de sangue, ao renunciar espontaneamente ao poder (...) e pedindo às forças que continuam a se enfrentar que deixem suas armas".

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, afirmou que o regime líbio está em "plena retirada" e que Kadafi deve abandonar qualquer esperança de permanecer no poder.

A China anunciou que respeita a decisão do povo líbio e espera que a estabilidade retorne rapidamente à Líbia.

O secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, se declarou "totalmente solidário" com o governo rebelde na Líbia; e o Egito reconheceu o órgão político dos rebeldes como o governo legítimo líbio.

A queda de Trípoli ocorre mais de seis meses depois do início dos protestos populares contra Kadafi no contexto da "Primavera Árabe", que já derrubou os presidentes do Egito, Hosni Mubarak, e da Tunísia, Ben Ali.

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