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Vice-presidente destituído retorna ao Zimbábue

Emmerson Mnangagwa fugiu do Zimbábue após sua destituição em 6 de novembro por "deslealdade" para com o presidente Robert Mugabe

Emmerson Mnangagwa e Robert Mugabe: presidente e vice juntos em fevereiro deste ano (Philimon Bulawayo/File Photo/Reuters/Reuters)

Emmerson Mnangagwa e Robert Mugabe: presidente e vice juntos em fevereiro deste ano (Philimon Bulawayo/File Photo/Reuters/Reuters)

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AFP

Publicado em 17 de novembro de 2017 às 12h34.

O ex-vice-presidente do Zimbábue Emmerson Mnangagwa, cuja destituição provocou um golpe militar, voltou ao país, onde seguem as negociações sobre o futuro do presidente Robert Mugabe, decidido a se manter no poder.

Mnangagwa, considerado até pouco tempo como sucessor de Mugabe - que, aos 93 anos, é o chefe de Estado em exercício mais velho do planeta - fugiu do Zimbábue após sua destituição em 6 de novembro por "deslealdade" para com o presidente.

No exílio, Mnangagwa criticou duramente Mugabe e sua esposa Grace, acusando-os de se considerarem "semideuses", e prometeu voltar ao país para liderar o Zanu-PF, o partido no poder.

Na quinta-feira, cumpriu sua promessa e retornou a Harare, a capital do país, confirmou à AFP um de seus parentes, algumas horas depois de o exército deixar as ruas e liberar Mugabe, no poder há 37 anos, da prisão domiciliar.

O nome de Mnangagwa é um dos mais fortes para conduzir uma transição que encerraria o reinado de Mugabe.

"A melhor maneira [para o exército] de aparentar legalidade seria Mugabe reconhecer Mnangagwa como vice-presidente e depois se aposentar", explica o analista Derek Matyszak, do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) de Pretória.

De acordo com a Constituição do Zimbábue, em caso de destituição, morte ou impedimento do presidente para exercer suas funções, seu sucessor é o vice-presidente até que haja novas eleições.

No entanto, Mugabe rejeitou na quinta-feira a possibilidade de renunciar evocada durante uma reunião com o chefe do Estado-Maior, o o general Constantino Chiwenga, na qual também participaram dois enviados especiais sul-africanos.

"Ele se recusou a renunciar, acho que tenta ganhar tempo", indicou à AFP uma fonte militar.

Robert Mugabe fez nesta sexta-feira sua primeira aparição pública desde o golpe militar desta semana. Ele compareceu a uma cerimônia de entrega de diplomas universitários em Harare.

Na quinta-feira, apareceu sorrindo e relaxado numa foto de seu encontro com o general Chiwenga.

Em um comunicado publicado pelos meios de comunicação públicos, o exército afirmou estar debatendo com o presidente Mugabe "sobre a próxima etapa".

Golpe militar sem vítimas

Na terça-feira à noite, o exército tomou o controle, sem deixar vítimas, da capital Harare, em apoio a Mnangagwa, transformado em inimigo da primeira-dama, Grace Mugabe.

Em novembro esta última provocou a queda de Mnangagwa para ter o caminho livre para futuramente substituir seu marido. Algo inaceitável para o exército, que decidiu agir.

Os militares, que desempenharam um papel fundamental na independência do Zimbábue em 1980, anunciaram, sem dar nomes, a prisão de várias pessoas próximas ao presidente, em uma operação contra o Zanu-PF e, em particular, contra a facção de Grace Mugabe.

O exército pediu ao país para "ser paciente e pacífico", à medida que conclui sua "operação".

O Zanu-PF, no poder desde a independência do país em 1980, está dividido em duas facções, o "G40" (uma referência a uma geração de líderes de cerca de 40 anos), que apoiam Grace Mugabe, e a chamada facção Lacoste, fiel a Mnangagwa, apelidado de "Crocodilo".

Em Harare, a vida continua apesar do golpe militar. A circulação do trânsito era normal nesta sexta-feira e as lojas estavam abertas, indicou um jornalista da AFP, embora o exército continue bloqueando os acessos ao parlamento e ao Supremo Tribunal.

Os eleitores também continuavam a se registrar para votar nas eleições presidenciais e legislativas de 2018, nas quais Mugabe, em teoria, aspira a outro mandato de cinco anos.

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