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'Venezuela voltará a respirar', diz filha de Maria Corina no Nobel da Paz

Ana Corina recebeu prêmio em lugar da mãe, que não chegaria a tempo em Oslo

Ana Corina Sosa, filha de María Corina Machado, recebe o Nobel da Paz em lugar de sua mãe, em Oslo (Odd Andersen/AFP)

Ana Corina Sosa, filha de María Corina Machado, recebe o Nobel da Paz em lugar de sua mãe, em Oslo (Odd Andersen/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de internacional e economia

Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 11h09.

O Prêmio Nobel da Paz de 2025 foi entregue nesta quarta-feira, 10, a Maria Corina Machado, principal líder da oposição na Venezuela. Ela, no entanto, foi representada na cerimônia por sua filha, Ana Corina Sosa Machado, que leu um discurso escrito pela mãe.

"Aos nossos presos políticos, aos perseguidos, às suas famílias e a todos que defendem os direitos humanos, a eles pertence esta homenagem", disse Sosa.

No discurso, ela ressaltou que o candidato de oposição Edmundo González "ganhou com 67% dos votos" e foi aplaudida.

"A ditadura respondeu aplicando o terror. Duas mil e quinhentas pessoas foram sequestradas, desapareceram ou foram torturadas. Eles marcaram suas casas e fizeram famílias inteiras de reféns. Padres, professores, enfermeiras, estudantes: todos perseguidos por compartilharem um documento eleitoral. Crimes contra a humanidade, documentados pelas Nações Unidas; terrorismo de Estado, usado para sufocar a vontade do povo", afirmou.

Apesar do cenário sombrio, Ana defendeu que a luta contra o presidente Nicolás Maduro, que comanda uma ditadura na Venezuela, chegará ao fim.

"A Venezuela voltará a respirar. Abriremos as portas das prisões e veremos o sol nascer sobre milhares de pessoas inocentes, injustamente encarceradas, finalmente abraçadas por aqueles que nunca deixaram de lutar por elas. Veremos avós sentarem seus netos no colo para contar histórias, não de heróis distantes, mas da coragem de seus próprios pais", disse.

"Meus queridos venezuelanos, o mundo se maravilhou com o que conquistamos. E em breve testemunhará uma das imagens mais comoventes do nosso tempo: o retorno de nossos entes queridos para casa", afirmou.

Maria Corina a caminho

Maria Corina está a caminho de Oslo, mas não chegou a tempo para a cerimônia. Ela não é vista em público há meses.

No mês passado, o procurador-geral da Venezuela declarou à AFP que Corina Machado seria considerada "foragida" se deixasse seu país, onde é acusada de "atos de conspiração, incitação ao ódio e terrorismo".

Em uma ligação telefônica com o presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Jørgen Watne Frydnes, divulgada pela organização pouco antes da cerimônia, María Corina Machado disse que está "muito triste" e que lamentava muito não chegar a tempo do evento. "Muitas pessoas arriscaram a vida para que eu consiga chegar em Oslo", disse.

No fim de semana, o Instituto Nobel anunciou que Corina Machado receberia o prêmio, que inclui uma medalha de ouro, um diploma e 1,2 milhão de dólares. Também organizou na terça-feira uma coletiva de imprensa e entrevistas com diversos meios de comunicação internacionais, que foram canceladas.

A ex-diretora de campanha de Corina Machado, Magalli Meda, deu a entender na terça-feira que a opositora já havia saído da Venezuela. "Como vamos pensar que María Corina não vai voltar e vai ficar no exílio", disse Magalli Meda em um vídeo publicado no X.

Sua presença em Oslo levantaria, portanto, a delicada questão de seu retorno à Venezuela ou de sua capacidade de liderar a oposição venezuelana a partir de um hipotético exílio.

"Ela corre o risco de ser presa se voltar, embora as autoridades tenham mostrado mais moderação com ela do que com muitos outros, porque uma prisão teria um simbolismo muito forte", analisa Benedicte Bull, professora especializada em América Latina na Universidade de Oslo.

Por outro lado, "ela é a líder incontestável da oposição, mas se permanecer muito tempo no exílio, acho que isso mudará e ela perderá progressivamente influência política, acrescentou.

Por que Maria Corina levou o Nobel da Paz

Em outubro, o Comitê Nobel anunciou o prêmio para María Corina Machado, engenheira de formação, por seus esforços em favor de "uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia" na Venezuela.

Corina Machado passou à clandestinidade depois das eleições presidenciais de julho de 2024, que concederam um terceiro mandato a Nicolás Maduro. Os resultados não foram reconhecidos pelos Estados Unidos, União Europeia e por vários países da América Latina.

A líder opositora afirma que Maduro roubou as eleições de seu candidato, Edmundo González Urrutia, e publicou cópias dos votos emitidos nas máquinas de votação como evidência da fraude. O chavismo nega as acusações.

Ela é elogiada por seus esforços a favor da democracia na Venezuela, mas os adversários criticam sua afinidade com o presidente americano Donald Trump, a quem dedicou seu Nobel.

O presidente republicano ordenou uma grande mobilização militar no Caribe, que resultou em vários ataques das forças americanas contra supostas "narcolanchas", com um saldo de 87 mortos até agora.

Maduro, no entanto, diz que o verdadeiro objetivo das operações dos EUA é derrubar o seu governo e assumir o controle das reservas de petróleo da Venezuela.

Com AFP.

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