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Venezuela propõe reunião de 'alto nível' com Guiana em meio a tensão fronteiriça

Maduro e seu contraparte guianense, Irfaan Ali, concordaram em se reunir na próxima quinta-feira, 14 de dezembro, para discutir "assuntos relacionados com a controvérsia fronteiriça"

Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, defende referendo para anexar parte da Guiana (Zurimar Campos/AFP)

Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, defende referendo para anexar parte da Guiana (Zurimar Campos/AFP)

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Agência de notícias

Publicado em 9 de dezembro de 2023 às 19h09.

O governo venezuelano propôs, neste sábado (9), uma reunião de "alto nível" com a Guiana em meio às tensões provocadas pela disputa territorial entre os dois países sobre a região do Essequibo, que chegou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O presidente Nicolás Maduro manteve "conversas telefônicas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas", Ralph Gonsalves, nas quais fez a "proposta de realizar uma reunião de alto nível com a República Cooperativa da Guiana", informou a Chancelaria venezuelana por meio de um comunicado.

"Estou ativando ao máximo a Diplomacia Bolivariana de Paz, sempre em defesa dos direitos históricos da Venezuela. Uma vez mais, derrotaremos a mentira, as provocações e as ameaças contra o nosso povo. Nossa Pátria Venezuela!", escreveu Maduro na plataforma X (antigo Twitter).

Segundo o premiê granadino, Maduro e seu contraparte guianense, Irfaan Ali, concordaram em se reunir na próxima quinta-feira, 14 de dezembro, para discutir "assuntos relacionados com a controvérsia fronteiriça".

"Ambos concordaram que esta reunião seja celebrada sob os auspícios da CELAC", Comunidade dos Estados Latino-americanos e do Caribe, "e da CARICOM", Comunidade do Caribe, acrescentou o texto assinado por Ralph Gonsalves.

Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também foi convidado a participar do encontro.

A Venezuela e a Guiana disputam o território do Essequibo há mais de um século, mas as tensões se intensificaram desde que o governo Maduro realizou um polêmico referendo, no domingo passado, no qual 95% dos eleitores apoiaram declarar a Venezuela como legítima detentora da região, segundo os resultados oficiais.

Durante o telefonema, Lula instou Maduro a não tomar "medidas unilaterais", que intensifiquem a disputa. O governo brasileiro reforçou sua presença militar na fronteira norte.

Outros países da América do Sul, além de Rússia, Reino Unido e Estados Unidos, pediram nos últimos dias uma distensão e uma solução pacífica para as tensões.

"A maior desgraça"

O governo também anunciou que Maduro conversou com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, que "se comprometeu a impulsionar os esforços a favor do diálogo direto entre as partes, e lembrou que sempre ofereceu seus bons ofícios para a solução da controvérsia", segundo o comunicado de Caracas.

Agora, a disputa territorial pelo Essequibo está nas mãos da Corte Internacional de Justiça (CIJ), cuja jurisdição a Venezuela não reconhece.

E embora os dois países tenham descartado um conflito, a tensão bilateral chegou ao Conselho de Segurança da ONU, que abordou o tema a portas fechadas na sexta-feira, a pedido da Guiana, em uma reunião que terminou sem a emissão de comentários.

"A maior desgraça pada América do Sul é que eclodisse uma guerra entre seus povos", escreveu o presidente colombiano, Gustavo Petro, no X. "A Venezuela e a Guiana devem desescalar o conflito, convido os governos da América do Sul a construir uma equipe mediadora", acrescentou.

Oito países da região, reunidos em uma cúpula do Mercosul, fizeram esta semana uma exortação para que "ambas as partes negociem para buscar uma solução pacífica" para a diferença territorial.

Petróleo e tensão

A Guiana administra o Essequibo há mais de um século, mas a Venezuela reivindicou este território por décadas.

Caracas sustenta que o Essequibo integra seu território, como em 1777, quando era colônia espanhola. O governo venezuelano apela ao acordo de Genebra, assinado em 1966, antes da independência guianense do Reino Unido, que estabelecia as bases para uma solução negociada e anulava um laudo de 1899.

A Guiana, por sua vez, defende este laudo e quer que a CIJ o ratifique.

A disputa se reacendeu em 2015, quando a gigante americana de energia ExxonMobil descobriu enormes reservas de petróleo na região. A Guiana, com 800.000 habitantes, ficou com reservas estimadas em 11 bilhões de barris de petróleo, as maiores per capita do mundo.

Com esse potencial, a Venezuela começou a insistir em sua demanda e desde o referendo de domingo passado, Maduro ordenou que a petroleira estatal PDVSA emita licenças para autorizar a extração de petróleo na região.

Do mesmo modo, Maduro decretou que Tumeremo, cidade do sul do estado de Bolívar (sudeste), fronteiriço com o território reivindicado, seja a capital do eventual estado da Guiana Essequiba, e abriu um escritório do organismo de identificação (Saime) para que os moradores da região possam reivindicar a nacionalidade e documento de identidade venezuelanos.

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