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Vatileaks: mordomo do Papa é condenado a prisão

Paolo Gabriele foi condenado por roubo agravado de documentos confidenciais dos aposentos do Papa Bento XVI

Ex-mordomo Paolo Gabriele foi condenado a um ano e meio de prisão pelo roubo de documentos oficiais do Papa (Alberto Pizzoli/AFP)
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Da Redação

Publicado em 6 de outubro de 2012 às 10h31.

O mordomo do Papa, processado por pelo "roubo agravado" de centenas de documentos confidenciais, foi condenado neste sábado a um ano e meio de prisão pelo Tribunal do Vaticano, ao final de um processo-relâmpago sobre os vazamentos do Vatileaks.

Apenas uma semana depois da abertura do processo sobre este escândalo que revelou intrigas e tensões nas mais altas esferas do Vaticano, o Tribunal condenou Paolo Gabriele a três anos de prisão, mas imediatamente reduziu a pena pela metade.

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O presidente do Tribunal, Giuseppe Dalla Tore, explicou que a pena foi reduzida "em razão de seus serviços" prestados ao Papa, "de sua convicção --que o juiz considera equivocada-- de servir à Igreja", "de sua conduta durante o processo", e "de sua consciência de ter traído o Papa".

"A coisa que eu sinto com mais força em mim, é a convicção de ter agido por amor exclusivo, eu diria até visceral, pela Igreja de Cristo e por seu chefe na Terra. Se preciso repetir, não me sinto um ladrão", disse Gabriele em uma curta declaração.

"É um bom veredicto, equilibrado", comentou à imprensa sua advogada, Cristiana Arru. "Vamos ler as motivações e avaliar" a oportunidade de apelar, acrescentou.

Logo depois da decisão do juiz, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou à imprensa que a possibilidade "de um perdão é muito concreta e muito provável" por parte do Papa.

Antes, o ex-empregado modelo havia afirmado que tinha agido "por amor à Igreja".


"O Papa pode conceder seu perdão, mesmo que não seja solicitado formalmente", afirmou o padre Lombardi, explicando que o Papa "recebe informações sobre o processo, o que o permite analisar sua posição".

O porta-voz, que classificou a pena de "leve" e justa", disse que Paolo Gabriele ainda é mantido em prisão domiciliar, como antes do julgamento.

A advogada Cristiana Arru "tem três dias para apresentar uma apelação e, em seguida, terá mais alguns dias para indicar as motivações dessa apelação", afirmou.

O promotor de justiça (procurador) havia pedido três anos de prisão, assim como uma "proibição definitiva, mas limitada" de exercer responsabilidades na administração pública.

Ele afirmara que a investigação não havia indicado "prova da cumplicidade" de outras pessoas com Gabriele.

"Ninguém no Vaticano sabia que havia um arquivo como esse" no apartamento de Gabriele, "é um arquivo que merecia ser mantido em uma biblioteca em razão da variedade de centros de interesse" que os documentos afetavam, observou.


"Motivação moral"

Já a advogada reconheceu que seu cliente "havia cometido um ato certamente condenável e ilícito, mas tinha a vontade de ajudar, e não de prejudicar a Igreja".

"Ele foi movido por sua fé profunda, pelo mal que viu" no Vaticano, disse ela, retomando a argumentação de Gabriele nos interrogatórios, antes de acrescentar: "Gabriele tinha uma motivação moral, que eu espero que seja reconhecida e até valorizada".

Paolo Gabriele, o ex-empregado modelo de 46 anos, escondeu em seu apartamento mais de mil cartas, documentos de fax e textos diversos, alguns assinados pelo próprio Papa, e transmitiu parte à imprensa.

A quarta e última sessão --depois das de sábado, terça-feira e quarta-feira passados-- foi realizada na presença de um grupo restrito de dez jornalistas na pequena sala do tribunal do Vaticano.

Este julgamento é um passo sem precedentes na transparência da Santa Sé, mas alguns críticos o veem como uma camuflagem destinada a conter um escândalo mais amplo.

A condução do processo pelo presidente Dalla Torre foi criticada. Se atendo estritamente à acusação contra o mordomo, de "roubo agravado", ele impediu que qualquer outro aspecto do caso "Vatileaks" fosse mencionado.

Ele interrompeu assim o acusado a cada vez que este tentou explicar suas motivações e seu desejo de ajudar o Papa, que considerava "manipulado".

O jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, que recebeu de Gabriele dezenas de documentos confidenciais antes de divulgá-los em um livro, foi pouco mencionado.

Durante a instrução, Paolo Gabriele havia declarado que queria combater "o mal e a corrupção" no Vaticano.

O homem que dizia amar o Papa como um filho foi condicionado pelas críticas ao entorno do Papa? Ou foi manipulado? Teve cúmplices? Ele negou, mas Nuzzi, em seu livro "Sua Santita", afirma ter entrado em contato com cerca de vinte de "gargantas profundas".

Qual é o "vasto descontentamento" mencionado pelo acusado?

A tese de um grande complô organizado pelos cardiais parece ser pouco provável, mas as investigações sobre o "Vatileaks" não estão encerradas e poderão levar anos.

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