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União Europeia quer ajuda do Egito para lidar com a crise migratória

A União Europeia começou a negociar com países do norte da África para tentar evitar que os fluxos migratórios cheguem à Europa

Imigração: a UE tem disponibilizado bilhões de euros para assegurar acordos com líderes ao redor do Mediterrâneo (Ismail Zitouny/Reuters)

Imigração: a UE tem disponibilizado bilhões de euros para assegurar acordos com líderes ao redor do Mediterrâneo (Ismail Zitouny/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 20 de setembro de 2018 às 16h49.

Salzburgo - O chanceler austríaco, Sebastian Kurz, instou os países da União Europeia (UE) nesta quinta-feira, 20, a negociar com países do norte da África, principalmente o Egito, a contenção do fluxo de migrantes entrando na Europa, em meio a profundas divisões no bloco sobre como lidar com a crise migratória.

Kurz, cujo país atualmente detém a presidência rotativa da UE, e o presidente do conselho da UE, Donald Tusk, visitaram o Cairo durante o fim de semana para conversas com o presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sissi, general do exército que assumiu o poder em 2014. Ambos o elogiaram por ter impedido a população de sair da costa do Egito rumo à Europa.

"O Egito provou que pode ser eficiente", disse Kurz durante cúpula do bloco em Salzburg, na Áustria. "Desde 2016, o país tem impedido que navios saiam do Egito para a Europa ou, quando saíam, os trazia de volta."

Kurz disse que o Egito agora está "preparado para possivelmente aprofundar a cooperação" com o bloco em novas negociações". Ele também afirmou que líderes da UE apoiam a ideia de negociar com outros países do norte da África.

Ao lidar com a crise dos migrantes nos últimos anos, a UE tem disponibilizado bilhões de euros para assegurar acordos com líderes ao redor do Mediterrâneo de inclinações autocráticas. O bloco elogia o acordo firmado com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, para desacelerar a chegada de imigrantes nos últimos dois anos, em troca de até 6 bilhões em ajuda para refugiados sírios e outros incentivos.

Só a Itália pagou, sozinha, bilhões ao ex-ditador líbio Muamar Kadafi para impedir que africanos deixassem a costa do país. Milhares foram transportados da costa da Líbia para a fronteira sul do país.

Além de manter o controle rígido sobre o litoral do Egito, Sissi poderia ter uma influência importante com militares e milícias na Líbia, atualmente um dos principais pontos de partida para migrantes que tentam entrar na Europa pela Itália. Tusk já está fazendo lobby para realizar uma cúpula entre a UE e a Liga Árabe no Cairo, em fevereiro.

O pedido para a reunião vem depois de uma temporada na qual o governo anti-imigração italiano fechou seus portos para navios de ONGs e até para a própria Guarda Costeira, quando carregava pessoas resgatadas em alto mar. Centenas de migrantes passaram dias no mar ou a bordo de barcos em portos enquanto os países da UE decidiam quem deveria acolhê-los.

A procura pela ajuda de Sissi é um novo sinal da determinação da UE de terceirizar o desafio da imigração, embora os números de chegada sejam muito pequenos se comparados com 2015, quando mais de um milhão de pessoas entrou na Europa, principalmente fugindo de conflitos na Síria e no Iraque.

Os países da UE estão estudando planos para criar "plataformas de desembarque" nos países do norte da África, onde pessoas resgatadas no mar poderiam passar por triagem. Até o momento, nenhum país africano expressou interesse em abrigar tais plataformas.

A incapacidade da UE de balancear a responsabilidade pelos migrantes e dividir o ônus de hospedá-los tem garantido voto vencedor para países governados pela extrema direita no bloco, composto por 28 países.

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