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Um ano depois de sua morte, Chávez segue onipresente

Venezuela completa um ano sem Hugo Chávez, mas com sua figura onipresente

Homem segura retrato do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez: um ano após a morte do "Comandante Supremo", venezuelanos ainda veem sua figura (Raul Arboleda/AFP)

Homem segura retrato do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez: um ano após a morte do "Comandante Supremo", venezuelanos ainda veem sua figura (Raul Arboleda/AFP)

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Da Redação

Publicado em 3 de março de 2014 às 14h05.

Caracas - A Venezuela completa um ano sem Hugo Chávez, mas com sua figura onipresente, em meio a uma crise econômica e a uma violência criminosa que desencadeou uma onda de manifestações opositoras no último mês, com um saldo de 18 mortos.

Com um desfile cívico-militar, o governo de Nicolás Maduro lembrará na quarta-feira, dia 5 de março, o primeiro aniversário da morte do líder da "revolução socialista do século XXI" na Venezuela, num momento em que também se completa um mês de protestos de rua contra seu herdeiro político, para quem seus simpatizantes pedem tempo porque está "aprendendo a governar".

Maduro foi eleito como o primeiro presidente pós-Chávez no dia 14 de abril, ao vencer por uma margem de apenas 1,5% o opositor Henrique Capriles.

Um ano após a morte do "Comandante Supremo", vítima de um câncer que combateu por quase dois anos, os venezuelanos ainda veem sua figura, rosto e olhos pintados nas ruas de Caracas e nos edifícios oficiais, que lembram o carismático líder que governou por 14 anos (1999-2013).

O governo "fez grandes esforços para que a figura de Chávez siga presente", enquanto sua voz cantando o hino nacional abre quase todos os atos oficiais, afirma à AFP a socióloga Maryclen Stelling.

Mas estas mesmas ruas no último mês foram palco de protestos estudantis, da classe média e líderes opositores que rejeitam a insegurança, a escassez de produtos básicos (um em cada quatro), a inflação (56%) e a detenção e repressão de manifestantes.

Embora o descontentamento da classe média seja evidente, Stelling descarta "uma desestabilização do governo" porque os pobres, que são a maior parte da base eleitoral chavista, "ainda que sejam afetados pela crise econômica e pela insegurança, estão conectados politicamente, misticamente, religiosamente, com Chávez, seu legado e o socialismo bolivariano do século XXI".

Uma situação que volta a refletir a polarização da sociedade venezuelana, que marcou a gestão de Chávez.

Problemas herdados

Com as maiores reservas petrolíferas do mundo, a Venezuela sofre uma seca de divisas para importações, das quais o consumo nacional depende, diante de uma deficiente produção local, gerando escassez.

Os economistas atribuem os problemas à política econômica estatal iniciada por Chávez - e reforçada por Maduro - com controle cambial desde 2013 e um grande déficit fiscal, devido a um intenso gasto durante três campanhas eleitorais (duas presidenciais e uma de autoridades regionais) entre outubro de 2012 e abril de 2013.

Em seus discursos com fortes ataques à oposição - o que lhe impediu de estabelecer um diálogo com líderes opositores como Capriles - Maduro culpa uma "guerra econômica da burguesia parasitária" pela escassez, a monopolização e o contrabando de itens básicos.


"Chávez agiu como um dique de contenção, o modelo dava sinais de problemas, mas ele com seu carisma, suas palavras, servia de salva-vidas. Ao não estar presente, parece que os problemas se evidenciam com maior força", considera o cientista político Ángel Oropeza, da Universidade Católica Andrés Bello.

Como nunca antes em 15 anos de chavismo, os venezuelanos fazem longas filas nos supermercados, e, às vezes, há confusão quando aparecem produtos como farinha, pão, óleo, açúcar ou papel higiênico.

Diante das dificuldades econômicas, Maduro ordenou baixas forçadas, decretou um máximo de 30% de lucro para todos os setores produtivos - reforçando o controle de preços iniciado por Chávez em 2003 -, mas, por outro lado, se viu obrigado a flexibilizar o mercado cambial para facilitar divisas a importadores.

Diferentemente de Chávez, Maduro colocou o combate à violência (que gera 65 mortes diárias, segundo uma ONG) como principal tema em seu governo, lançando o movimento pela paz e pela vida, entre outros planos.

No entanto, a criminalidade foi o detonador dos protestos estudantis em San Cristóbal (ocidente) no dia 4 de fevereiro, e que uma semana depois se ampliaram a cidades como Caracas, Valência, Maracay e Mérida, somando reclamações pela deterioração econômica.

Disciplina militar

O governador chavista de Táchira (cuja capital é San Cristóbal), José Vielma Mora, criticou a repressão nas manifestações e a captura do líder opositor Leopoldo López, preso desde 18 de fevereiro acusado de instigar a violência com sua convocação a protestar pedindo a saída de Maduro.

Mas o incidente não ganhou espaço. "Claramente à luz do dia as divisões (que possam existir dentro do governismo) não são vistas porque o chavismo nisso é muito disciplinado e tentam se mostrar unidos", afirma a historiadora Margarita López Maya.

Neste ano o presidente também cerrou fileiras com o chefe do Parlamento e ex-militar Diosdado Cabello, visto como líder da ala radical do chavismo e ligado aos militares.

Além disso, os militares ganharam espaço no aparato estatal bolivariano: agora têm um canal de televisão, um banco, e muitos oficiais adicionais em cargos públicos, em especial na área financeira.

O presidente Maduro, cuja profissão antes da política era motorista de ônibus - diferentemente do tenente-coronel Chávez -, também adotou a terminologia bélica para falar de seu governo revolucionário.

Assim, os membros parecem ter deixado de lado as reuniões de gabinete para se reunir em postos de comando para preparar as batalhas e as ofensivas que levem à vitória na guerra contra a burguesia, o império ou os inimigos fascistas. E os atos públicos agora terminam com o lema: "Chávez vive, a luta segue".

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