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Um ano após queda de Ben Ali, Tunísia enfrenta desafios

Ex-ditador foi o primeiro a ser derrubado pelos protestos populares na região; país enfrenta problemas sociais enquanto tenta estabelecer a democracia

"Ben Ali foi um trauma, um asco político" resumiu um analista tunisiano (Getty Images)

"Ben Ali foi um trauma, um asco político" resumiu um analista tunisiano (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de janeiro de 2012 às 12h31.

Túnis, Tunísia - No dia 14 de janeiro de 2011, o intocável Zine El Abidine Ben Ali, primeiro déspota árabe derrubado por seu povo, fugia da Tunísia após 23 anos de poder absoluto, mas um ano depois ninguém se lembra dele na Tunísia, um país que enfrenta uma urgência social e desafios democráticos maiores.

Embora diversos tunisianos gostassem de ver Ben Ali e os membros de seu clã julgados no país, atualmente ninguém fala do ex-líder, refugiado na Arábia Saudita com sua esposa Leila.

"Ben Ali foi um trauma, um asco político. Já não representa um perigo. Mas em relação ao sistema, a página ainda não foi virada", analisou Yadh Ben Achour.

Para este jurista e ex-presidente da instância que dirigiu as reformas entre a Revolução e as eleições de outubro passado, conquistadas pelos islamitas, "os vícios" que caracterizavam e que provocaram a queda do antigo regime persistem: corrupção, desemprego, falta de experiência democrática.

O desemprego, dissimulado sob o "milagre econômico" de Ben Ali, tornou-se evidente e afeta regiões inteiras. A média nacional é de 19%, mas o índice pode chegar a 50% nas zonas no interior do país, abandonadas durante décadas.

Uma série de tentativas recentes de imolação na Tunísia, gesto tão simbólico em um país onde a revolução começou por um suicídio por fogo, "mostra quão profundo é o desamparo das pessoas", destacou o economista Mahmoud Ben Romdhane.

A tumultuada acolhida que tiveram há alguns dias o presidente Moncef Marzouki e o primeiro-ministro islamita Hamadi Jebali em Kasserine, cidade símbolo da revolução, ilustra a raiva das regiões do interior e a ausência de estado de graça para as novas autoridades.


A corrupção é outra das pragas que segue apodrecendo a economia tunisiana.

Segundo o índice de percepção da corrupção estabelecido pela organização especializada Transparency International, entre 2010 e 2011, a Tunísia caiu do 59º para o 73º lugar entre 183 países.

O último fator de risco para a Tunísia reside na falta de experiência democrática. "Ben Ali se foi, mas o resto da matilha segue aí", comentou um jovem executivo comercial.

A maioria dos líderes do ex-partido no poder "se reciclaram dentro das outras formações políticas, com exceção dos partidos de extrema esquerda e de nacionalidades árabes", constatou Salem Labiadh, professor de sociologia política na Tunísia.

"É inevitável, mas isto mantém a dúvida sobre a manutenção do regime democrático, crucial para o desenvolvimento e o futuro do país".

"Além disso, a elite de esquerda não digeriu sua derrota nas eleições, e o novo governo não tem experiência", comentou.

Os islamitas "têm experiência na resistência, mas não no governo", destacou o jurista Ben Achour, que ressaltou a "improvisação e o mal início" do governo Jebali, e se inquieta pelas reticências do Ennahda em se distanciar de uma base integralista e radical que se manifestou nos últimos meses.

"O sucesso do Ennahda libertou muitas forças adormecidas, forças de regressão e de ignorância", advertiu.

No entanto, a maioria dos tunisianos considera que será difícil voltar atrás no que se refere a uma liberdade de expressão adquirida duramente.

Para o sociólogo Salem Labiadh, o número de meios de comunicação, de partidos políticos e de associações constituem "um bom indicador" da vitalidade democrática da Tunísia.

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