Destroços do voo MH17 da Malaysia Airlines, na Ucrânia (Bulent Kilic/AFP)
Da Redação
Publicado em 31 de julho de 2014 às 14h31.
Rozsypne - O exército ucraniano anunciou nesta quinta-feira a suspensão de sua ofensiva contra os separatistas pró-russos no leste do país para facilitar as investigações dos especialistas internacionais no local onde o avião da Malaysia Airlines caiu.
Os inspetores holandeses e australianos conseguiram, enfim, ter acesso ao local da queda, após várias tentativas frustradas desde domingo devido aos combates que tornaram impossível a investigação sobre esta tragédia que provocou uma nova escalada da crise e novas sanções contra Moscou.
Mas, pouco após a chegada do grupo, várias explosões foram ouvidas nas proximidades, segundo um jornalista da AFP.
Uma coluna de fumaça era observada na área, a menos de dez quilômetros do local onde estão os destroços da aeronave e os corpos das vítimas do Boeing 777 abatido por um míssil em 17 de lho com 298 pessoas a bordo.
O primeiro-ministro malaio, Najib Razak, fez um apelo pelo fim imediato dos combates entre as forças ucranianas e os separatistas no local da queda do avião malaio.
"Peço o fim imediato das hostilidades nos arredores e no local do acidente", declarou durante uma coletiva de imprensa em Haia.
Após reconquistar várias cidades nos arredores da catástrofe aérea, o comando militar ucraniano anunciou um gesto de boa vontade ao decretar "um dia de silêncio" nas zonas de combate a pedido do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
"Hoje há um cessar-fogo a pedido de Ban Ki-moon devido ao trabalho dos especialistas na zona onde o avião caiu. O Estado-Maior da operação antiterrorista decidiu decretar um 'dia de silêncio' e suspender os combates", declarou à AFP Oleksi Dmytrashkivski, porta-voz das forças ucranianas.
A tragédia do avião da Malaysia Airlines provocou relações do mundo inteiro e conduziu o reforço das sanções contra Moscou, acusado de financiar a rebelião. As medidas ocidentais atingem principalmente setores vitais da economia russa, como seus grandes bancos públicos ou energia.
Missão armada holandesa-australiana
Os investigadores russos, que farão parte da equipe internacional sob patrocínio da Holanda, também chegaram a nesta quinta-feira a Kiev e esperam visitar o local ainda hoje para examinar os destroços do avião.
Os peritos forenses da Holanda, que perdeu 193 de seus cidadãos na tragédia, visitaram o local da queda várias vezes, mas nenhum investigador encarregado de estabelecer as causas do desastre tiveram acesso às evidências por razões de segurança.
O Parlamento ucraniano aprovou nesta quinta o envio de uma missão militar holandesa-australiana, que deve proteger o local e permitir o trabalho dos investigadores.
"É muito importante a aprovação desses textos que permitirão um trabalho transparente no local do ato terrorista", ressaltou o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, presente no Parlamento após uma votação a portas fechadas.
De acordo com o texto dos acordos, a missão holandesa será composta por "militares e não militares", chegando a até 700 homens. A Austrália, por sua vez, tem o direito de enviar até 250 homens, entre "policiais, militares e civis".
Além disso, o Parlamento ucraniano rejeitou nesta quinta-feira a renúncia apresentada pelo primeiro-ministro, Arseni Yatseniuk, a fim de evitar uma nova crise política.
Ucrânia jamais entrará em default
Yatseniuk, um economista elogiado pelo Ocidente e no cargo desde fevereiro, anunciou sua demissão em 24 de julho, depois da dissolução no Parlamento da coalizão governamental, que preparou o caminho para eleições legislativas antecipadas.
Os deputados rejeitaram na ocasião as leis impopulares destinadas a reconduzir as finanças deste país em profunda recessão e que se beneficiam de uma forte ajuda internacional.
Depois de anunciar sua saída, Yatseniuk voltou atrás e aceitou continuar à frente do governo ucraniano se o parlamento aprovasse as leis orçamentárias e fiscais, o que aconteceu nesta quinta.
Estas leis preveem medidas de economia orçamentária e um maior financiamento para as forças armadas mergulhadas no conflito no leste do país.
"Hoje há duas novidades importantes para a economia mundial. A primeira, é que a Argentina declarou moratória, a segunda é que a Ucrânia não está inadimplente, e nunca estará", comemorou Yatseniuk.
No plano militar, o presidente Poroshenko considerou que suas "forças armadas lideram com sucesso a ofensiva final" e o chefe de Estado-Maior declarou que a Ucrânia tinha a intenção de acabar em menos de um mês "com a fase ativa de sua operação militar" contra os separatistas pró-russos.
Mas Kiev, que denuncia a chegada incessante de armas da Rússia, exigiu explicações de Moscou sobre o lançamento de novas manobras militares envolvendo mísseis terra-ar S-300 no sul do país, perto da fronteira com a Ucrânia.
Por seu envolvimento no conflito ucraniano, a Rússia enfrenta a pior crise com o Ocidente desde o fim da Guerra Fria e tem sido punida por sanções econômicas sem precedentes.
Após os Estados Unidos e a União Europeia, foi a vez nesta quinta-feira do grupo de países do G7 ameaçar impor sanções contra a Rússia se ela se recusar "a escolher o caminho da desescalada" na Ucrânia.
Na Grã-Bretanha, uma nova investigação "pública" deve ser aberta nesta quinta-feira sobre a morte do opositor russo Alexander Litvinenko, um assunto de disputa entre Londres e Moscou.