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Turismo no Nilo custa caro ao meio ambiente

São mais de 300 hotéis flutuantes, responsáveis pela poluição no rio

O Nilo à altura do Cairo: rio pode se tornar impróprio para consumo em 15 anos (Marco Di Lauro/Getty Images)

O Nilo à altura do Cairo: rio pode se tornar impróprio para consumo em 15 anos (Marco Di Lauro/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 25 de outubro de 2010 às 11h21.

Cairo - Participar de um cruzeiro em algum dos hotéis que singram o Nilo já não é turismo inócuo, mas uma das causas do aumento da poluição nas águas desse curso d'água, que correm o risco de não serem aptas ao consumo humano em 15 anos.

Com base no relatório sobre o Nilo publicado recentemente pelo centro Habi para os direitos ambientais, os mais de 300 hotéis flutuantes entre as cidades de Luxor e Assuã são os responsáveis pela poluição do Nilo, ao descarregar em suas águas seus resíduos.

"O problema é que os sistemas de tratamento de águas residuais não são suficientes: não têm os canais para descarregamento rápido e existem poucos locais para receber e tratar esta água", disse à Agência Efe o diretor da divisão de pesquisa ambiental do Centro Nacional de Investigação (CNI), Ahmed Shaaban.

Os impactos deste turismo sujo para a saúde pública não são menores já que, segundo o relatório, 17 mil crianças morrem de gastrenterite ao ano por beber água contaminada do Nilo, enquanto as doenças renais, também ocasionados pela ingestão da água suja, são quatro vezes mais comuns no Egito.

A causa são as altas concentrações de bactérias fecais que saem dos banheiros dos navios diretamente para água do rio.

"Quando analisamos o Nilo, não encontramos bactérias comuns, encontramos de tudo e até alguns tipos que não há Egito", afirma Shaaban, que junto de sua equipe se dedica a realizar controles de qualidade de água a partir de Assuã e Alexandria.


Pelo relatório, a conta desses passeios turísticos, inclui uma redução significativa da biodiversidade aquática, com o desaparecimento de 33 tipos de peixes e o risco de extinção de outros 30.

Além disso, o documento informa que 50% das perdas na agricultura pelo uso da água para a irrigação e uma despesa de US$ 500 milhões ao ano em consequência das toneladas de poluentes industriais, agrícolas, médicos e turísticos que são derramados no que constitui a principal fonte de água do país.

Para Shaaban, no entanto, os navios não têm toda a culpa, mas dividem o peso com a população e as fábricas às margens do rio que derramam nele água contaminada.

"Esse é nosso problema: a população aumenta, a poluição aumenta, as fábricas aumentam e tudo vai parar no rio", diz Shaaban.

Segundo o cientista, "seguimos aumentando a poluição a este ritmo, o Nilo provavelmente morrerá em 15 anos", o que significa que sua água deixará de ser apta para o consumo.

Apesar dos navios turísticos não serem os únicos responsáveis, parte da culpa corresponde à crescente demanda dos passeios turísticos internacionais que aumentaram quase proporcionalmente à poluição das águas.

O representante de uma agência turística que oferece cruzeiros de quatro dias entre Luxor e Assuã e uma das testemunhas do aumento da demanda por cruzeiros, especialmente entre os meses de novembro e fevereiro, com grupos de até 250 pessoas.

Segundo Shaaban, não há razão para desconfiar das agências turísticas que oferecem cruzeiros em hotéis de primeira qualidade, pois o turismo de luxo costuma utilizar grandes navios, que têm licença e estão conectados ao sistema de captação de águas residuais.

"O problema está nos navios mais baratos, que não têm sistemas de tratamento".

A solução, para o representante do CNI, tem duas fases: que o Governo aplique a lei para que os donos dos navios adotem medidas de proteção ambiental e que os mesmos donos tenham vontade de investir nisso e construam centros de captação de águas residuais.

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