Refugiados em trem: "O que foi errado no passado foi ter considerado os 'Gastarbeiter' como simples mão-de-obra que voltaria ao seu país", declarou Gokay Sofuoglu (Reuters / Ognen Teofilovski)
Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2015 às 13h47.
O governo alemão deve evitar os erros do passado em matéria de integração, dizem os turcos que chegaram à Alemanha nos anos 1970, ao aprovar o desejo da chanceler Angela Merkel de acolher os milhares de refugiados que chegaram à Europa nos últimos anos.
"O que foi errado no passado foi ter considerado os 'Gastarbeiter' como simples mão-de-obra que voltaria ao seu país", declarou Gokay Sofuoglu, presidente da Comunidade Turca da Alemanha (TGD).
Os "Gastarbeiter", "trabalhadores convidados", são os imigrantes, turcos em sua maioria, que a ex-Alemanha Ocidental importou para solucionar a falta de mão-de-obra e nutrir o "milagre econômico".
Nos anos sessenta, a indústria alemã contratou centenas de milhares de trabalhadores estrangeiros, pensando que ficariam alguns anos e depois voltariam ao seu país.
No entanto, quando chegou a hora da aposentadoria, a grande maioria ficou na Alemanha.
A Alemanha conta atualmente com cerca de 3 milhões de pessoas provenientes da Turquia, a maior diáspora turca no mundo.
No início, na Alemanha, ninguém considerou importante integrar os pedreiros, artesãos ou trabalhadores.
A questão foi levantada muito mais tarde, afirma Gulistan Gurbey, pesquisadora em ciências sociais da Universidade Livre de Berlim e especialista em temas de integração.
O presidente da Sociedade germano-turca de Stuttgart (sudoeste), Aykut Duzguner, afirma, por exemplo, que o idioma alemão não foi ensinado a eles.
"Os 'Gastarbeiter' não fizeram o esforço de estudar alemão, mas os alemães não insistiram para que o fizessem", lamenta Duzguner.
Por causa disso, uma parte das duas primeiras gerações de imigrantes turcos não domina o idioma alemão e vive isolada em guetos, o que representa um peso tanto para os turcos quanto para o conjunto da sociedade, diz Duzguner.
Evidentemente, os turcos da última geração estão muito mais integrados "no sistema de formação e no mercado de trabalho", destaca Gurbey, e alguns fizeram carreira na política, no esporte ou na música.
No entanto, existem alguns atrasos em matéria de escolarização ou inserção profissional, aponta.
O desemprego entre a população de origem turca é de 10,4%, contra uma taxa de 6,4% para o conjunto da Alemanha.
Muitos alemães de origem turca se queixam de discriminação no mercado de trabalho.
No entanto, mais de 50 anos depois, quando a Alemanha enfrenta um fluxo migratório de uma amplitude inédita, o discurso oficial parece mais promissor.
A chanceler Angela Merkel não hesita em classificar a Alemanha de "país de imigração" e em falar de uma rápida integração dos refugiados.
"Devemos aprender com a experiência dos anos 60" e "desde o início dar a maior prioridade à integração", declarou Merkel recentemente.
Os políticos "não devem repetir os erros cometidos no passado", afirma Aykut Duzguner.
"É preciso integrar rapidamente as pessoas que vêm, formá-las rapidamente, linguística e profissionalmente, é a chave do êxito", diz Duzguner.
A Alemanha aprendeu muito e "pode aplicar esta experiência com os refugiados que vão ficar", afirma, por sua vez, Gulistan Gurbey.
Por exemplo, a Alemanha flexibilizou a política de obtenção da nacionalidade e estabeleceu cursos de idiomas e integração obrigatórios.
Os turcos da Alemanha saúdam a vontade do governo de Merkel.
"A política alemã assimilou as lições da história", conclui Sofuoglu, cuja associação se localiza no bairro berlinês de Kreuzberg, chamado de "o pequeno Istambul" devido a sua importante comunidade turca.