Mundo

Tudo o que se sabe sobre o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi

Caso é uma história de terror que contou com a participação de oficiais sauditas e terminou com a trágica e violenta morte de jornalista

Foto do jornalista saudita Jamal Khashoggi: ele foi visto com vida pela última vez em 2 de outubro (Andrew Harrer/Bloomberg/Getty Images)

Foto do jornalista saudita Jamal Khashoggi: ele foi visto com vida pela última vez em 2 de outubro (Andrew Harrer/Bloomberg/Getty Images)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 24 de outubro de 2018 às 11h41.

Última atualização em 26 de outubro de 2018 às 12h11.

São Paulo – As circunstâncias por trás do assassinato do jornalista saudita, Jamal Khashoggi, continuam nebulosas. Khashoggi foi visto com vida pela última vez em 2 de outubro após entrar no consulado da Arábia Saudita em Istambul (Turquia).

Depois de constatado o seu desaparecimento, o que a comunidade internacional observou foi o desenrolar de uma história de terror que contou com a participação de oficiais sauditas e terminou com a trágica morte do jornalista.

Abaixo, EXAME compilou os principais pontos em torno da morte de Khashoggi, que escrevia para o jornal americano The Washington Post, era um notório crítico das ações do reino e um defensor da liberdade no mundo árabe.

Desaparecimento

Era 2 de outubro quando Khashoggi se dirigiu ao consulado saudita em Istambul para resolver pendências documentais e para se casar. Câmeras de segurança localizadas nos arredores do prédio mostraram o momento exato em que o jornalista entrou no local (13h14, horário local), mas não registraram a sua saída.

Constatado o desaparecimento, graças ao alerta de sua noiva para um dos assessores da presidência turca, a polícia do país começou a investigação que segue revelando detalhes cada vez mais assombrosos. No dia 15 de outubro, autoridades turcas foram autorizadas a fazer uma operação de busca no prédio momento depois de uma equipe de limpeza ter deixado as premissas.

Por dias, a Arábia Saudita negou qualquer ligação com o desaparecimento. O príncipe saudita, Mohammed bin Salman, chegou a dizer para a rede de notícias BBC que Khashoggi havia, sim, deixado o local. Para tentar ocultar os fatos, os envolvidos no caso chegaram a usar um “dublê”, que deixou o prédio usando as roupas do jornalista.

Contudo, evidências coletadas pelas autoridades turcas mostraram o contrário. Após uma operação de busca conduzida no consulado, veio à tona a revelação de que Khashoggi fora morto no local, mas não havia qualquer sinal de seu corpo, que a polícia agora crê ter sido esquartejado e removido do prédio.

Quem são os possíveis autores

A polícia turca crê que a morte é de responsabilidade de um grupo de 18 sauditas que chegou ao país nos dias anteriores à morte de Khashoggi. Nove deles estiveram no consulado na mesma data do assassinato.

Alega, ainda, que esses homens são oficiais da inteligência da Arábia Saudita e que alguns seriam do círculo próximo do príncipe. Entre os membros desse grupo, revelou a CNN, estaria um perito criminal. Esse homem teria levado à Turquia um cortador de ossos e seria o responsável por com todas as evidências.

Versão oficial

As dúvidas sobre o envolvimento de oficiais sauditas começaram a desaparecer até que a Arábia Saudita veio à público admitir a morte do jornalista no último final de semana, 20 de outubro. Na ocasião, no entanto, a versão oficial do reino era a de que o motivo do assassinato teria sido uma briga entre o jornalista e funcionários do consulado. O comunicado nega veementemente que príncipe esteja ligado ao caso.

Morte violenta

Aos poucos, contudo, novos detalhes sobre a “suposta briga” começaram a vir à tona. Um deles, revelado pela agência Reuters, dá conta de que Khashoggi morreu por asfixia em razão de uma chave de braço. Seu corpo fora então enrolado num tapete e levado para outro local com a ajuda de um “operador”, o responsável por desaparecer com o corpo.

Horas depois dessa revelação, o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita chamou o assassinato de “tremendo erro”. Na tentativa de blindar o príncipe, atribuiu a responsabilidade a agentes da inteligência que “excederam suas autoridades e responsabilidades”.

Segundo a rede de notícias CNN, citando um oficial saudita envolvido na investigação, a morte resultou de uma tentativa desse grupo de levar Khashoggi de volta para a Arábia Saudita após um ano de autoexílio nos Estados Unidos. Se ele se recusasse, o plano previa que fosse sedado e levado para um armazém em Istambul, onde seria mantido por 48 horas. Se ainda assim o jornalista não concordasse em voltar ao seu país de origem, seria então libertado.

O que diz a Turquia

O presidente turco vem se manifestando publicamente sobre a morte e subiu o tom sobre o caso, chamando a morte de “assassinato selvagem” e que tudo fora planejado dias antes. Segundo detalhes da investigação da polícia turca, os 15 sauditas chegaram ao país em voos separados e removeram as câmeras de segurança do prédio. Khashoggi foi torturado, espancado e seu corpo esquartejado.

Na imprensa turca, correm rumores de que a polícia está em posse de áudios e vídeos que não deixam dúvidas sobre o que ocorreu naquele dia. Em um dos áudios, o cônsul saudita teria dito aos homens que lhe trariam trarão e um deles então respondeu o diplomata pedindo que ficasse calado “se quiser viver quando voltar à Arábia Saudita”.

Uma emissora britânica chegou a informar que restos mortais do jornalista teriam sido encontrados no jardim da casa do cônsul. Essa informação, contudo, ainda não foi confirmada oficialmente e a polícia turca segue em busca do paradeiro do corpo.

Repercussão

O caso gerou uma crise diplomática entre Arábia Saudita, Turquia e Estados Unidos. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, chegou a chamar o assassinato de “selvagem” e “planejado” e que a Turquia irá esclarecer o caso.

Já o presidente americano, Donald Trump, oscilou entre condenação da Arábia Saudita e relativização do caso, mas posteriormente disse que os envolvidos “tiveram uma ideia muito ruim, para começar. Foi mal executada e o acobertamento foi um dos piores da história”.

Três potências europeias –Alemanha, Reino Unido e França– pressionaram a Arábia Saudita para que apresente os fatos, e a chanceler alemã, Angela Merkel, disse que a Alemanha não exportará armas ao reino enquanto persistir qualquer incerteza a respeito do destino de Khashoggi. A Espanha também condenou o ato, mas disse que continuará vendendo armas para o país em defesa dos interesses espanhóis na construção de navios militares para o reino.

O caso também afetou uma conferência de finanças que acontece em Riad, capital saudita, nesta semana. Três grandes bancos e ministros das finanças de países europeus cancelaram suas participações em razão da morte de Khashoggi.

A expectativa é a de que o príncipe saudita se manifeste sobre o caso durante a abertura do evento. Mohammed bin Salman vem tentando adotar medidas para modernizar a imagem que o mundo tem da Arábia Saudita e é certo que a comunidade internacional estará de olho no que ele tem a dizer a respeito desse assassinato brutal.

Acompanhe tudo sobre:Arábia SauditaCrimeDemocraciaDiplomaciaEstados Unidos (EUA)JornaisJornalistasLiberdade de imprensaMortesTurquia

Mais de Mundo

Drones sobre bases militares dos EUA levantam preocupações sobre segurança nacional

Conheça os cinco empregos com as maiores taxas de acidentes fatais nos EUA

Refugiados sírios tentam voltar para casa, mas ONU alerta para retorno em larga escala

Panamá repudia ameaça de Trump de retomar o controle do Canal