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Trump é obstáculo para Copa 2026 ocorrer na América do Norte

Estados Unidos têm planos de sediar a Copa do Mundo de 2026, ao lado de México e Canadá

Trump: candidatura conjunta da América do Norte é considerada como a franca favorita para sediar a Copa do Mundo (Nicholas Kamm/AFP)

Trump: candidatura conjunta da América do Norte é considerada como a franca favorita para sediar a Copa do Mundo (Nicholas Kamm/AFP)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de fevereiro de 2018 às 09h42.

Zurique - Na semana passada, um dos maiores astros da história do futebol nos Estados Unidos, Landon Donovan, mandou um recado diretamente a Donald Trump quando foi apresentado como o novo jogador do time mexicano Leon: "não acredito em muros".

A mensagem era uma referência às promessas do presidente norte-americano de construir a barreira entre o México e os EUA.

A frase levou os torcedores mexicanos à loucura. Mas, nos bastidores da cartolagem dos Estados Unidos, ela evidenciou um problema: Donald Trump.

O presidente é interpretado como um obstáculo real a ser superado se os norte-americanos de fato querem sediar a Copa do Mundo de 2026, ao lado de México e Canadá.

Com mais de 40 estádios à disposição nos três países, promessas de renda inédita e uma infraestrutura invejável, a candidatura conjunta da América do Norte é considerada como a franca favorita para vencer a corrida por organizar a Copa do Mundo, a primeira com 48 seleções. A outra opção é Marrocos, país que já tentou em quatro oportunidades sediar o evento, sem sucesso.

A votação está marcada para ocorrer no dia 13 junho, em Moscou, na Rússia. Será também a primeira vez que todas as 209 federações nacionais votarão para escolher a sede da Copa do Mundo, um privilégio que se limitava aos 24 membros do Comitê Executivo da Fifa e alvo de escândalo de corrupção.

Mas, nos últimos meses, os comentários polêmicos de Donald Trump sobre política externa começaram a contaminar a campanha que era considerada como "imbatível". Ao chamar os países africanos de "buracos de merda", há menos de 10 dias, o presidente norte-americano disseminou o pânico entre os cartolas dos Estados Unidos. Afinal, será da África que virão mais de 25% dos votos que decidem a eleição.

Nesta sexta-feira, a Confederação Africana de Futebol (CAF) se reunirá e irá considerar um apoio dos 54 votos do continente para a candidatura do Marrocos. "Existe solidariedade na África", disse ao jornal norte-americano New York Times na semana passada o presidente da Federação de Futebol de Comores, Hassan Waberi. "Nos sentimos insultados", afirmou. "Os africanos apoiarão o Marrocos", confirmou Kwesi Nyantakyi, vice-presidente da CAF.

Mas Donald Trump também criou problemas ao tentar criar barreiras para a entrada de imigrantes muçulmanos no país.

Na Fifa, outros 15 votos fora da África são de países com maioria de sua população muçulmana. Na América do Sul não existe ainda uma posição comum da Conmebol. Mas com as sanções norte-americanas contra a Venezuela, um consenso poderá ser difícil.

O mal-estar dos dirigentes norte-americanos ficou ainda mais nítido quando, no início do mês, uma pesquisa de opinião revelou que a confiança do mundo em relação à liderança dos Estados Unidos era a mais baixa de todos os tempos. Segundo o levantamento da Gallup em 134 países, apenas 30% dos entrevistados afirmam quer uma visão positiva do governo norte-americano. Com Barack Obama, a taxa era de 48%. A mesma pesquisa revelou que o mundo confia hoje mais na Alemanha e na China do que em Donald Trump.

Apesar do favoritismo total e de uma infraestrutura muito superior ao concorrente do norte da África, o presidente da US Soccer (a federação norte-americana de futebol), Sunil Gulati, sabe do desafio que Donald Trump representa. Para ele, a candidatura "não é apenas sobre estádios e hotéis". "É sobre a percepção que existe sobre os EUA e estamos em um momento difícil no mundo", afirmou.

"Apenas podemos controlar alguns fatores. Não podemos controlar o que ocorre na Coreia, com as embaixadas em Tel Aviv ou acordos climáticos", disse o dirigente, em uma referência às polêmicas decisões política de Donald Trump nos últimos meses. "Não podemos controlar a política", admitiu Sunil Gulati, há poucos dias em Londres.

Os organizadores da candidatura garantem o "total apoio de Washington" e também prometem que, se a Copa do Mundo for levada à América do Norte, ela será a mais bilionária da história. Em dificuldades financeiras, a promessa de dinheiro soa como música nos corredores da Fifa.

Mas, em março, outra exigência da entidade promete causar atritos. A Fifa pedirá que os governos garantam a suspensão de vistos para quem for ao torneio em 2026, medida que irá no sentido contrário da política de Donald Trump de endurecer as condições de entrada no país.

Pelas contas dos norte-americanos, eles terão de somar 104 votos para serem escolhidos. Mas fontes ligadas à candidatura de Marrocos acreditam que existe um espaço para roubar alguns votos da candidatura dos Estados Unidos.

Para isso, o governo marroquino já contratou um dos maiores especialistas em comunicação, Mike Lee, que levou o Rio de Janeiro a ganhar os Jogos Olímpicos de 2016 e garantiu a Copa do Mundo para o Catar em 2022. Os marroquinos alegam que apenas não ficaram com a Copa do Mundo de 2010 por conta de um pagamento de US$ 10 milhões que os sul-africanos fizeram para comprar votos na Fifa.

Dentro da entidade, porém, há quem duvide da imparcialidade do presidente Gianni Infantino. Um de seus principais cabos eleitorais, em 2016, foi justamente Sunil Gulati, que agora quer uma retribuição. Além disso, existe um sentimento entre os dirigentes do Conselho da Fifa de que a entidade precisa compensar os norte-americanos pela decisão de dar a Copa do Mundo de 2022 ao Catar e não para os Estados Unidos.

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