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China condena canadense à morte em meio a tensão diplomática

Em novembro de 2018, Robert Lloyd Schellenberg, foi condenado a uma pena de 15 anos de prisão e ao pagamento de uma multa de 150 mil iuanes

China: o primeiro-ministro canadense repudiou a decisão chinesa (Petar Kujundzic/Reuters)

China: o primeiro-ministro canadense repudiou a decisão chinesa (Petar Kujundzic/Reuters)

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AFP

Publicado em 14 de janeiro de 2019 às 13h51.

Última atualização em 14 de janeiro de 2019 às 16h38.

Um tribunal chinês condenou à pena de morte, nesta segunda-feira (14), um canadense acusado de tráfico de drogas, uma decisão anunciada em meio a uma crise diplomática entre Pequim e Ottawa.

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, reagiu ao anúncio e disse ver com "extrema preocupação" a pena capital "arbitrariamente" anunciada pela Justiça chinesa.

"É muito preocupante para nós, como governo, assim como deveria ser para todos os nossos amigos e aliados internacionais, que a China tenha decidido arbitrariamente aplicar a pena de morte em casos como este, de um canadense", disse Trudeau, em uma entrevista coletiva, após a condenação de Schellenberg.

Em novembro de 2018, Robert Lloyd Schellenberg, de 36, já havia sido condenado em primeira instância a uma pena de 15 anos de prisão e ao pagamento de uma multa de 150 mil iuanes (19 mil euros).

Ele decidiu recorrer e, no final de dezembro, a Alta Corte da província de Liaoning considerou a sentença muito "indulgente" frente à gravidade dos fatos.

Diante do tribunal, na cidade de Dalian (nordeste), o réu alegou sua inocência.

"O tribunal rejeita totalmente as explicações e a defesa do acusado, porque elas vão de encontro aos fatos", afirmou o juiz.

O veredicto foi anunciado em uma sala de audiências lotada, com cerca de 70 observadores. Entre eles, diplomatas canadenses e três jornalistas estrangeiros, incluindo da AFP.

Schellenberg consentiu, quando o juiz lhe perguntou se ele havia entendido o veredicto. O réu ainda poderá apelar da sentença.

"Não sou um traficante de drogas. Vim à China para fazer turismo", disse Schellenberg nesta segunda, ao final do processo.

Esta sentença surge em um momento de grande tensão nas relações sino-canadenses, devido à recente detenção no Canadá - a pedido dos Estados Unidos - de Meng Wanzhou, diretora financeira do gigante chinês das telecomunicações Huawei.

"Papel-chave"

Em meio ao imbróglio diplomático, a China já tinha prendido dois canadenses: o ex-diplomata Michael Kovrig e o consultor Michael Spavor. Ambos são acusados pelas autoridades chinesas de terem "ameaçado a segurança nacional". As duas detenções são vistas pelo Ocidente como medidas de represália.

Hoje, o tribunal considerou que Robert Lloyd Schellenberg, detido em dezembro de 2014, desempenhou um "papel-chave" em uma gangue envolvida com tráfico de drogas.

"Não satisfeito de disseminar drogas em um país, a organização criminosa se espalhou para além das fronteiras (...) Isso prejudica a saúde humana e a estabilidade dos países", determinou o tribunal.

Hoje, na corte, Schellenberg declarou ter ido à China, depois de viajar pelo Laos, Mianmar, Malásia, Singapura, ou Tailândia.

Ele relatou que um amigo lhe recomendou um tradutor turístico - um chinês nomeado Xu Qing - e que, depois, foi envolvido, sem saber, em uma rede internacional de tráfico de drogas.

"Esse negócio diz respeito a Xu Qing. É um traficante internacional de drogas e um mentiroso", declarou Schellenberg ao juiz.

De acordo com a denúncia, o cérebro da rede seria Khamla Wong, um canadense detido em 2016 na Tailândia e suspeito de tráfico.

Independência da Justiça

Os procuradores chineses condenaram Robert Lloyd Schellenberg por fazer parte de uma gangue que pretendia enviar 222 quilos de metanfetamina para a Austrália, disfarçadas em comprimidos de plástico escondidos em pneus.

O Ministério canadense das Relações Exteriores disse que acompanha o caso "de muito perto" e que oferece assistência consular a Robert desde sua detenção.

"Está claro que os tribunais chineses não são independentes, porque eles podem ser influenciados pelo Partido Comunista Chinês", disse antes do anúncio do veredicto William Nee, da Anistia Internacional.

Ao ser questionado na sexta-feira em uma entrevista coletiva, um porta-voz da Chancelaria chinesa pediu que "não se politize questões judiciárias".

Já houve estrangeiros executados na China por crimes ligados ao tráfico de drogas.

Em 2014, um japonês foi condenado à morte por infrações ligadas às drogas, segundo a imprensa e a diplomatas desse país. A China também condenou um traficante filipino à morte, em 2013, ignorando o pedido de Manila para que poupasse sua vida.

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