Trump: o presidente americano afirmou que os EUA ficaram indignados com a "o derramamento de sangue e o terror" (Alex Wong/Getty Images)
AFP
Publicado em 5 de agosto de 2019 às 11h52.
Última atualização em 6 de agosto de 2019 às 09h25.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, condenou nesta segunda-feira (5) o racismo e a supremacia branca, que teriam motivado um dos dois ataques a tiros do fim de semana que causaram a morte de 30 pessoas, mas evitou falar sobre armas de fogo e acusações sobre sua retórica incendiária.
Nos massacres de sábado e da madrugada de domingo, realizados por agressores brancos em El Paso (Texas), na fronteira com o México, e em Dayton (Ohio, nordeste), morreram 31 pessoas e cerca de 50 ficaram feridas, segundo os últimos relatórios oficiais. Autoridades mexicanas informaram que oito cidadãos do país estão entre as vítimas fatais.
Em um pronunciamento à nação, transmitido pela TV direto da Casa Branca, Trump, que vai a El Paso na quarta-feira, descreveu o tiroteio como um "crime contra toda a humanidade", e ofereceu suas condolências ao México pelos mortos no Texas.
"Nossa nação deve condenar o racismo, o fanatismo e a supremacia branca", enfatizou o presidente em seu discurso.
Durante o discurso, não respondeu às críticas de seus adversários, que o acusam de alimentar as tensões do país com sua permanente retórica de fundo racista.
Mas seu antecessor, Barack Obama, levantou a questão. Em uma rara intervenção nos assuntos políticos e sem nomear o presidente, ele disse que a retórica divisora dos líderes americanos é parte do problema.
"Devemos rejeitar completamente a linguagem que vem da boca de qualquer um de nossos líderes que alimenta um clima de medo e ódio ou normaliza sentimentos racistas", disse o ex-presidente democrata através de um comunicado.
Os massacres de sábado numa loja da rede de supermercados Walmart em El Paso, que deixou 22 mortos, e da madrugda de domingo em um bar em Dayton, no qual faleceram nove pessoas, foram os ataques a tiros contra grupos de pessoas de números 250 e 251 de 2019 no país, segundo a ONG Gun Violence Archive, que cataloga todo evento em que há pelo menos quatro vítimas, sejam feridos ou mortos.
Mais cedo, Trump publicou no Twitter que deveria ser levado em conta uma maior verificação de antecedentes no momento da compra de armas e sugeriu que qualquer reforma da lei de armas deveria estar vinculada a mudanças na legislação da imigração.
Mas em seu discurso ele preferiu denunciar "a glorificação da violência", em particular o papel da Internet e dos "videogames horripilantes e arrepiantes" para radicalizar "mentes perturbadas" e apelou para reformar as leis de saúde mental "para melhor identificar pessoas com trastornos".
"A doença mental e o ódio apertam o gatilho, não as armas", afirmou.
Trump também disse que os responsáveis pelos assassinatos devem enfrentar a pena de morte, que é proibida em quase metade do país, e pediu por leis para que "essa pena capital seja aplicada rapidamente, de forma decisiva e sem anos de atraso desnecessário".
A legislação que exige uma verificação mais rigorosa do histórico de potenciais compradores de armas foi aprovada em fevereiro na Câmara dos Deputados controlada pelos democratas, mas não foi posta em votação no Senado, liderado pelos republicanos.
Enquanto a bandeira americana tremulava a meio mastro por todo o país, no entorno do hipermercado Walmart, no Texas, e no bar em Dayton, muitos se aproximavam deixando velas, flores e mensagens de compaixão e pesar em memoriais improvisados.
No local do massacre em El Paso, balões com formas de coração e da estrela que identifica o Texas se movimentavam com a brisa da manhã entre mensagens de condolências e sinais de apoio. "Nunca esqueceremos", estava escrito em vários cartazes.
Sara Esther Regalado e seu marido Adolfo Cerros, residentes de Ciudad Juárez, que faz fronteira com El Paso, faziam compras no Walmart quando foram mortos, assim como a professora Elsa Mendoza Márquez, informou a imprensa mexicana. Os três foram incluídos na lista de vítimas do México publicada pelo chanceler Marcelo Ebrard.
"Às vezes ela ria muito, mas quando tinha que repreender, repreendia. Eu digo que foi muito boa", disse Dafne Rosas, ex-aluna de Elsa Mendoza.
As autoridades suspeitam que o atacante de El Paso, um homem branco de 21 anos e identificado pela imprensa local como Patrick Crusius, agiu por motivações racistas. De acordo com os veículos de comunicação, ele publicou numa rede social um manifesto denunciando uma "invasão hispânica" no Texas.
Mas em Dayton, "pelo momento, nada indica uma motivação racista", garantiu nesta segunda-feira o chefe da polícia desta cidade, Richard Biehl, que acrescentou que ainda é cedo para descartar essa hipótese.
Seis dos nove mortos por Connor Betts, um homem branco de 24 anos, eram negros. No ataque, que ocorreu 13 horas depois do crime emEl Paso, Betts matou inclusive a própria irmã.
Em suas postagens no Twitter após as duas tragédias, Trump voltou a criticar, de forma velada, os meios de comunicação. "As Fake News contribuíram em muito para a raiva e o ódio acumulados ao longo de muitos anos. A cobertura das notícias tem que ser justa, equilibrada e imparcial, ou esses problemas terríveis só vão piorar!", escreveu.
"A mídia tem uma grande responsabilidade para com a vida e a segurança em nosso país", tuitou Trump.
Mas seus opositores insistem que o discurso do presidente republicano tem ligação direta com estes atos de violência.
"Fingir que seu governo e a retórica de ódio que difunde não exercem um papel neste tipo de violência (...) é ser ignorante no melhor dos casos e irresponsável no pior", divulgou o Southern Poverty Law Center, um grupo de defesa dos direitos civis.
Em Lima, Peru, para acompanhar os Jogos Pan-Americanos, o medalhista olímpico americano Carl Lewis criticou a postura de Trump.
"Temos um presidente que é racista e misógino, que não promove o amor no mundo porque não gosta de ninguém além de si mesmo", disse o ex-recordista mundial dos 100m, dono de novem medalhas de ouro no atletismo.