Os tibetanos chegaram ao país na década de 1960, após a invasão chinesa no Tibete e a fuga do Dalai Lama (Mario Tama/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 3 de janeiro de 2012 às 19h13.
Katmandu - Vítimas das relações de boa vizinhança que o Nepal quer manter com a China, milhares de tibetanos refugiados no pequeno país do Himalaia se encontram em um limbo legal, carentes de documentos e de uma estratégia política de futuro.
O Nepal tem o objetivo de não contrariar a China com a disputa do Tibete, e costuma deter os tibetanos que se manifestam com frequência em Katmandu contra a soberania chinesa nesse deserto alpino no norte do Himalaia.
Mas ao mesmo tempo, o Nepal continua abrigando uma das colônias de refugiados tibetanos mais importantes do mundo, atrás apenas da Índia, país onde reside o líder espiritual budista - o dalai lama - e as autoridades do chamado Governo tibetano no exílio.
O governo do Nepal estima que há em seu território entre 15 e 20 mil refugiados tibetanos, mas o último registro data do ano 1993, e naquele momento apenas 12.540 tibetanos tinham obtido residência legal.
Embora representantes da comunidade tibetana estimem que o dobro dessa quantidade tenha pedido o registro, os oficiais do Ministério do Interior nepalês dizem não ter mais dados sobre os números de solicitantes.
'O Nepal foi muito liberal com os refugiados. Não tiveram que viver em acampamentos, como acontece em outras partes do mundo'. disse à Agência Efe o funcionário Shambu Ghimire, do Ministério do Interior do Nepal.
Sem documentos de identidade apropriados, os tibetanos não podem obter trabalho, abrir negócios, adquirir propriedades ou veículos, o que de acordo com um empresário da comunidade que prefere manter o anonimato, esta situação pode gerar instabilidade.
'Existe um sentimento de desilusão entre os jovens, que abusam das drogas ou álcool. Esses jovens veem que não há futuro. Imigrantes ilegais, legalmente não existem', disse a fonte.
Os tibetanos chegaram ao país na década de 1960, após a invasão chinesa no Tibete e a fuga do dalai lama, e se envolveram com a produção e venda de tapetes, uma indústria que já foi poderosa e que veio abaixo nos últimos dez ou 15 anos.
A Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) verificou a situação e pede ao Governo a emissão de permissões, por enquanto sem resultado, disse à Efe o responsável no Nepal pelo organismo, Stéphane Jaquemet.
De acordo com Jaquemet, os tibetanos sem documentação são 'vulneráveis' e, além disso, sofrem com a situação de instabilidade política que o Nepal viveu nos últimos anos, onde o processo de paz continua estagnado.
A Acnur administra um acampamento para os tibetanos que cruzam a fronteira entre o Tibete chinês e o Nepal, onde inicia um processo administrativo com o qual finalmente podem entrar em solo indiano sem o status de refugiado.
De acordo com a organização, existe um 'pacto de cavalheiros' com o Nepal para que leve os refugiados ao acampamento, embora já tenham sido documentados casos de tibetanos que foram repatriados ao Tibete pelas autoridades da fronteira.
Os refugiados tibetanos do Nepal são uma 'batata quente' para o país por suas contínuas manifestações contra a China, que adquiriram uma dimensão especialmente notória durante os Jogos Olímpicos de Pequim.
Em cada reunião de funcionários do Nepal com seus colegas chineses há um ponto da agenda dedicado às atividades dos refugiados tibetanos, e Nepal costuma dar garantias de nula tolerância frente às atividades 'antichina' em seu território.
Por pressões do gigantesco vizinho, as autoridades do Nepal teriam atuado decididamente contra os protestos, e estes diminuíram, embora nos últimos meses tenha acontecido uma nova alta por causa dos casos de imolações de monges no Tibete.
'Não há necessidade de que os chineses desconfiem. O dalai lama nos disse para não fazer nada que pudesse incomodar o Nepal', afirma o empresário tibetano, que atribui a 'infiltrados' os casos pontuais de violência registrados nas manifestações.
Segundo Jaquemet, para estes tibetanos sem país a solução passa por criar medidas especiais que levem em conta 'a particularidade do caso, os interesses do Nepal e o bem-estar dos refugiados', e para isso é preciso levar em conta também a opinião da Índia.
'Não desejamos a liberdade do Tibete. O que queremos é a proteção dos direitos humanos, sociais e religiosos dos tibetanos do Tibete', diz outro líder dos refugiados.