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Tensão na praça Tahrir aumenta enquanto crise política egípcia se agrava

Crise política no país se agrava a cinco dias das eleições legislativas; esse é o quinto dia consecutivo de protestos

O número de feridos não para de aumentar: eles chegam aos improvisados hospitais de campanha na praça em ambulâncias, motos ou até mesmo à pé (Peter Macdiarmid/Getty Images)

O número de feridos não para de aumentar: eles chegam aos improvisados hospitais de campanha na praça em ambulâncias, motos ou até mesmo à pé (Peter Macdiarmid/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 23 de novembro de 2011 às 18h20.

Cairo - O clima de tensão na praça Tahrir, no Cairo, cresceu nesta quarta-feira em meio às tentativas em vão do exército do Egito de deter atos de violência entre manifestantes e a polícia, enquanto a crise política no país se agrava a cinco dias das eleições legislativas.

No quinto dia consecutivo de protestos contra a junta militar que governa interinamente o Egito, três carros blindados do exército entraram hoje na rua Mohammed Mahmoud, epicentro dos confrontos, para cobrir a retirada da polícia, que foi substituída em parte por soldados.

No entanto, o pequeno efetivo, que possibilitou uma breve trégua, não foi suficiente para impedir a retomada dos choques um dia depois de milhares de pessoas terem exigido, na praça Tahrir, a renúncia da junta militar em um ambiente predominantemente pacífico.

Nas ruas próximas ao Ministério do Interior - que está sob forte esquema de segurança - e à praça Tahrir, a polícia montou barreiras e dispara gás lacrimogêneo contra os manifestantes, que não param de lançar pedras.

No começo da noite, "baltaguiyas" (pistoleiros) pró-militares foram à rua comercial Talaat Harb, que termina na praça, e enfrentaram com pedaços de pau e armas brancas os manifestantes.

O número de feridos não para de aumentar: eles chegam aos improvisados hospitais de campanha na praça em ambulâncias, motos ou até mesmo à pé. Entre os feridos está o fotógrafo espanhol Guillem Valle, que foi espancado por policiais e teve seu equipamento roubado.

Atendendo a um apelo da ONU para que se averigue a repressão aos protestos, o Ministério do Interior egípcio pediu à Justiça que analise as acusações contra a polícia por uso excessivo da força.


O titular da pasta da Saúde, Amro Helmy, admitiu nesta quarta que vários dos 33 mortos contabilizados até o momento nos distúrbios foram baleados.

Helmy acrescentou que seu Ministério está analisando o gás lacrimogêneo utilizado pela polícia após receber denúncias de que são mais fortes do que os utilizados habitualmente para dispersar os protestos.

Como pôde ser constatado pela Agência Efe, estão sendo usados tubos de gás CS, em alguns casos vencidos há mais de três anos. O ministro da Saúde minimizou este assunto alegando que o uso de gases com prazo de validade expirado não significa que estes sejam cancerígenos, mas perderam a "eficácia".

No entanto, um dos médicos voluntários na praça Tahrir, Amro Murada, explicou à Efe que foram encontrados tubos de gases que estão proibidos nos Estados Unidos por seus efeitos secundários e cancerígenos.

Essa situação também foi denunciada pela ONG Human Rights Watch, que recebeu testemunhos sobre como as forças da ordem apontam para o rosto dos civis ao dispararem balas de borracha ou munições letais.

Até mesmo o imã da mesquita de Al Azhar, a mais prestigiosa do islã sunita, Mohamed Ahmed el Tayeb, pediu hoje à Polícia que não abra fogo contra os manifestantes.

Na praça, alguns egípcios mostram em público os tubos vazios de gás e insistem que permanecerão no local apesar das últimas promessas do chefe da junta militar, o marechal Hussein Tantawi, que dirige o Egito desde a renúncia do presidente Hosni Mubarak, em 11 de fevereiro.


Ontem à noite, o marechal se comprometeu a realizar eleições presidenciais antes de julho de 2012, manter a data do pleito legislativo e criar um governo de salvação nacional.

No entanto, a cinco dias das eleições legislativas, o Egito é governado por um Executivo demissionário, o que levou alguns partidos a pedir o adiamento da votação.

O Partido Social-Democrata, um dos mais importantes do bloco laico, anunciou que está tentando convencer as demais legendas para apoiarem a proposta de adiar as eleições em pelo menos duas ou três semanas, até que o novo governo assuma.

No entanto, a Comissão Eleitoral egípcia reafirmou hoje que as eleições serão realizadas nas fases estabelecidas, a primeira delas na próxima segunda-feira, dia 28, e ocorrerão em nove províncias, incluindo as de Alexandria e Cairo.

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