Jim Acosta e Trump: discussão durante entrevista coletiva levou à suspensão da credencial do jornalista da CNN (Jonathan Ernst/Reuters)
AFP
Publicado em 8 de novembro de 2018 às 21h13.
A conflituosa relação entre Donald Trump e a CNN alcançou, na quarta-feira, 7, um novo nível de tensão que rendeu ao jornalista estrela da emissora o fim do seu acesso à Casa Branca, enquanto cada parte reforçava o seu papel.
"A CNN deveria ter vergonha de você trabalhar para eles. Você é uma pessoa muito grosseira e terrível", disse o presidente americano a Jim Acosta, apontando com o indicador direito durante uma entrevista coletiva que deu a volta ao mundo. A declaração, em resposta à negativa do jornalista de entregar o microfone após fazer várias perguntas, foi seguida do fim de seu credenciamento.
A Casa Branca justificou a medida "até nova ordem", mas não pelas insistentes perguntas de Acosta, e sim por seu comportamento indevido com uma jovem estagiária que tentou tirar o microfone dele. Sarah Sanders, porta-voz da Casa Branca, assegura que o jornalista "colocou suas mãos" na jovem e publicou um vídeo editado de forma a dramatizar a cena.
As imagens originais mostram, contudo, que é a estagiária quem tenta tomar o microfone de Acosta e que o jornalista apenas tenta afastar seu braço, enquanto pede desculpas. As acusações de "agressão" da Casa Branca são "um insulto às verdadeiras vítimas de assédio e agressão", escreveu no site da CNN a colunista britânica Jane Merrick.
A sequência desatou a polêmica e a imprensa credenciada na Casa Branca considerou "inaceitável" que tenham acabado com o acesso de Acosta. Desde a entrevista coletiva que Trump concedeu como presidente eleito, em 11 de janeiro de 2017, quando tiveram um primeiro diálogo tenso, Jim Acosta se tornou o símbolo da CNN odiada pelo ex-magnata imobiliário. O jornalista de 47 anos foi atacado por seu estilo agressivo que contrasta com a fala suave de seus colegas diante de Trump.
Também teve duros diálogos com Sanders: acusou-a de "não se ater aos fatos" e de não querer repudiar a expressão "inimigo do povo" usada por Trump para criticar a imprensa. Sanders o acusou, sobretudo, de querer chamar a atenção para si.
A imprensa denunciou praticamente de forma unânime que tenham acabado com o credenciamento de Jim Acosta, uma sanção inédita desde a criação da associação de correspondentes da Casa Branca, em 1914. Mas alguns veículos também criticaram o jornalista.
"Quando um funcionário da Casa Branca vai em direção ao microfone que você está segurando, dê a ele e deixe que a insistência do presidente em cortar as perguntas dos jornalistas (...) fale por si só", escreveu nesta quinta-feira o colunista do Washington Post Erik Wemple.
"Não acho que (o que Jim Acosta fez) justifique a suspensão do seu credenciamento", escreveu Sara Gonzales, jornalista do site de informações conservador The Blaze, "mas é difícil ter simpatia por alguém que basicamente estava pedindo por isso".
O incidente ilustra a profunda transformação do universo midiático, dominado pelas emissoras de informação 24 horas e a informação como espetáculo. "Acosta é jornalista, mas também é um 'ator' de televisão", destacou Lorrie Goldstein, colunista do Toronto Sun, no Twitter. "Aparentemente é isso o que a CNN quer na Casa Branca".
Em 2014, a CNN tinha em média 400.000 telespectadores por dia. No mês passado, a média subiu para 689.000. Embora distante de seus competidores Fox News (1,6 milhão) e MSNBC (909.000), a emissora se beneficia do "efeito Trump" que dura para além da campanha presidencial.
O caso apresenta também a questão debatida exaustivamente sobre a forma como Trump trata os meios de comunicação, demonizando a imprensa permanentemente. "A disputa entre Jim Acosta e Trump foi incômoda e difícil de ver", escreveu a jornalista americana Lucy Shanker para o jornal britânico Independent. "Mas é o preço de ser o comitê de vigilância dos Estados Unidos", disse, defendendo a CNN.
"Deixem Jim Acosta fazer o seu trabalho", pediu a chefia de redação do New York Times.